Descrição: Escultura de vulto representando a figura de São João Baptista, de pé, olhando em frente. Cabeleira ondeada sobre as orelhas, caindo pelas costas; barba ligeiramente bifurcada na ponta. Corpo seminu apenas coberto por uma túnica de pele de cordeiro, cinto de couro à cintura e cordão unindo as vestes à frente e sobre a coxa direita. Braços flectidos e erguidos à altura do tronco. Pés descalços sobre plataforma.
Peça policromada em castanho, dourado e carnações.
Origem/Historial: Proveniência: Convento da Madre de Deus, Lisboa.
A escala generosa, a posição em contraposto, o delineamento naturalista do rosto oval emoldurado pela barba, a definição muito preciosa da cabeleira com goivadas firmes e o tratamento da musculatura denotam a mão hábil de um escultor formado no ambiente das oficinas nórdicas activas na Península Ibérica, de que se desconhece o nome.
Terá pertencido ao acervo inicial de imaginária do mosteiro da Madre de Deus onde permaneceu até hoje, sem que dele se tenha feito menção quer da extinção nos inventários do século XIX, quer nos arrolamentos museológicos do século XX ("não consta do rol dos Apartados para o Museu de Arte Antiga que não constavam do arrolamento inicial" - TT, Arquivo Histórico do Ministério das Finanças, Convento da Madre de Deus, Xabregas - Lisboa, Caixa 1949, capilha 2). Resta hoje como a última e única das imagens esculpidas de produção luso-flamenga que chegou até nós e que decerto terão abundantemente enriquecido a Madre de Deus, como aconteceu com o vasto acervo de pintura, desde os primeiros anos após a fundação e por todo o século XVI, e em contraste com o conjunto de esculturas florentinas singularmente conservado.
Retratado como Percussor - imagem de forte capital simbólico na casa real de Avis Beja -, este São João Baptista documenta escultoricamente o gosto da arte flamenga contemporâneo da rainha D. Leonor, para além da sua especial devoção espiritual pelo santo. Deve assim juntar-se ao conjunto de obras com a mesma iconografia de que se destacam, entre as esculturas, a representação da Virgem com o Menino na companhia do Baptista Menino em relevo num medalhão marmóreo (MNAA Inv. 675 Esc); e na pintura, a imagem esculpida iluminada no fólio 1v do Livro de Horas de D. Leonor (Pierpont Morgan Library, Ms. 52) e o São João Baptista do volante do Tríptico da Virgem com o menino e os anjos (MNAA Inv. 1227 Pint), todas directamente relacionadas com o período leonorino do Mosteiro da Madre de Deus."
Maria João Vilhena de Carvalho, "Casa Perfeitíssima. 500 Anos da Fundação do Mosteiro da Madre de Deus", Lisboa, 2009, pág. 206.
Incorporação: Fundo Antigo do MNAz.
Proveniência: Convento Madre de Deus
Centro de Fabrico: Produção luso-flamenga
Bibliografia
Casa Perfeitíssima - 500 Anos da Fundação do Mosteiro da Madre de Deus (1509-2009), Catálogo da Exposição, MNAz, 9 Dezembro de 2009 a 11 de Abril de 2011, Lisboa, IMC, 2009.
TAVARES, Jorge Campos; Dicionário dos Santos; Lello Editores
Lemaître, Nicole, Quinson, Marie-Thérèse, Sot, Veronique, Dicionàrio Cultural do Cristianismo, Publicações Dom Quixote, 1ªedição, Janeiro 1999
Exposições
Exposição "Casa Perfeitissima" 500 anos da Fundação do Mosteiro da Madre de Deus 1509-2009