Descrição: Cruz em madeira de carvalho composta pela interceção de duas peças de secção rectangular, lisa, sem decoração. Tem associado um pé em madeira, em pinho, do século XVIII, com vestígios de policromia, e extensão da base (século XX) em madeira de pinho escurecida.
Origem/Historial: A importância desta cruz reside não tanto na sua dimensão artística, dado que se compõe essencialmente do cruzamento de duas peças em madeira de carvalho, de segmento retangular, lisa e sem qualquer espécie de adorno, mas sim, em termos históricos, como documento simbólico de grande relevância, dado que esta mesma cruz, erguida no lugar da capela-mor a 16 de novembro de 1717 (véspera do dia do lançamento da primeira pedra), foi testemunha da construção da basílica desde os seus fundamentos até à conclusão das abóbadas.
O uso da colocação de uma cruz de madeira no lugar do altar integra o rito de lançamento da primeira pedra, ou do começo das obras de construção de um novo templo, conforme o Pontifical Romano. Segundo o costume litúrgico, este rito consta da bênção da área da nova igreja, implorando-se a proteção divina, e da bênção e colocação da primeira pedra. Nessa circunstância, no lugar do altar, é habitualmente fixada uma cruz de madeira, constituindo um marco propiciatório da “posse” daquele lugar, um manifesto público para ser visto por toda a comunidade e também um símbolo de proteção, por analogia ao episódio bíblico da serpente de bronze [Números, 21:4-9], depois transmutada na própria cruz de Cristo, com um valor de proteção/salvação [João, 3:14-15].
Segundo refere Fr. João de São José do Prado [Monumento Sacro, 1751, pp.5 e 18]: “Na manhã do dia 16 do referido mês [novembro de 1717] foi D. Filipe de Sousa, Chantre da Santa Sé Patriarcal, benzer a Cruz, que se erigiu por quatro sacerdotes no lugar, em que hoje existe o altar-mor [...]. Primeiro que se colocasse a Cruz, que tinha dezasseis palmos de alto, se lhe tributou a devida adoração com toda a solenidade, à qual em primeiro lugar genuflexou o Chantre, depois os Cónegos, e meios Cónegos, seguindo-se a estes El-Rei, e Camaristas; ultimamente a adorou a nossa Comunidade”.
Quase 13 anos volvidos, a quando da sagração da basílica a 22 de outubro de 1730, depois de realizada a bênção pontifical das imagens, cruzes e paramentos “foram á capela-mor buscar a cruz, que no pavimento do Presbitério estava arvorada, como já se disse, e a conduzirão em braços de Sacerdotes para a Sacristia, cantando a coros o hino Vexilla Regis, etc. e a colocaram em uma casa particular armada de damasco carmesim, onde se há-de conservar para memória, e assombro da posteridade”.
Incorporação: Proveniente da Real Basílica de Mafra. Nacionalização dos bens da Coroa em 1910 e afetação ao Museu do Palácio de Mafra em 1911.
Bibliografia
GORJÃO, Sérgio; PEREIRA, Paulo; Et alli. DO TRATADO À OBRA - GÉNESE DA ARTE E DA ARQUITETURA NO PALÁCIO DE MAFRA. Mafra: DGPC/PNM, 2017
Exposições
DO TRATADO À OBRA - GÉNESE DA ARTE E DA ARQUITETURA NO PALÁCIO DE MAFRA