Calvário
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Museu: Museu de Lamego
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Nº de Inventário: 921
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Super Categoria:
Arte
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Categoria: Gravura
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Autor:
Silva, Joaquim Carneiro da (Gravador)
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Datação: 1793
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Suporte: Papel
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Técnica: Buril
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Dimensões (cm): Alt. 23,6 x Larg. 21,5
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Descrição: Estampa figurando o "Calvário" impressa no verso de uma folha extraída de um missal que possui no rosto o cabeçalho "Praefationes per totum annum" e a indicação do número de folha "271".
Obedecendo à norma iconográfica Cristo é representado de braços abertos e os pés sobrepostos firmados à cruz por três cravos. Com a coroa de espinhos encaixada na cabeça, de onde sai um halo de feixes luminosos, usa perizonium envolto na cintura. O rosto apresenta uma expressão contida e o olhar baixo.
A Virgem apresenta-se com grande dignidade, de pé, com as mãos cruzadas a olhar o Filho com profunda comoção. São João Evangelista, no lado oposto, figura com o corpo ligeiramente inclinado para a frente, dirigindo o gesto do braço e a cabeça para a cruz. Maria Madalena surge genufletida aos pés da cruz, abraçando-a, e com a cabeça erguida em direção a Jesus. Todas as personagens usam túnica e manto amplo, de elaborado pregueado, que deixam visíveis, no caso de Maria e São João, os pés com sandálias.
No canto inferior direito em escala muito reduzida, uma cidade amuralhada, representando Jerusalém.
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Origem/Historial: Não sendo conhecidas as circunstâncias que fizeram remover esta e, pelo menos, mais duas estampas de um exemplar da edição de 1793 do "Missale Romanum", impresso na Tipografia Régia (inv. 1077), que pertence ao acervo do Museu de Lamego, é sabido que era - como ainda é - muito comum, sobretudo entre os alfarrabistas, retalhar os livros religiosos, como forma de valorizar as estampas isoladamente.
A "Regia Officina Typographica", também conhecida como "Impressão Regia" foi criada por alvará régio de 24 de dezembro de 1768, em Lisboa. Atribui-se a iniciativa da sua criação ao então Conde de Oeiras, futuro Marquês de Pombal, Sebastião José de Carvalho e Melo. O seu objetivo era suprir o reino e as colónias de livros de interesse geral no contexto do Iluminismo.
Através do mesmo documento foi também instituída uma Aula de Gravura com um "abridor de estampas conhecidamente perito, o qual terá a obrigação de abrir todas as que forem necessárias para a impressão, e se lhes pagarão pelo seu justo valor" (SOARES, 1930: 11).
Para professor da mencionada Aula foi nomeado Joaquim Carneiro da Silva (1727-1818), um gravador famoso no seu tempo. Nascido no Porto, foi para o Brasil com os pais em 1739, onde aprendeu a desenhar com o lisboeta João Gomes, abridor da Casa da Moeda. Regressaria a Lisboa em 1756 já em pleno consulado pombalino. Joaquim Carneiro seria pensionado pelo Estado para se ir aperfeiçoar para Roma, onde frequentou a escola do pintor Ludovico Sterni, seguindo depois para Florença, onde terminou os estudos. Entre a sua saída de Itália e o regresso a Portugal poderá ter ainda ter feito alguma aprendizagem em França.
Demonstrando possuir interesses alargados, no vasto curriculo de Carneiro da Silva, para além de desenhador, gravador e pedagogo, constam ainda trabalhos de tradução e autoria de obras na área das artes gráficas. Era ainda colecionador de estampas, que foram doadas à Academia Real de Ciências, após a sua morte.
A Aula que dirigiu foi responsável pela decoração de obras sobre temas diversos saidas do prelo da tipografia. Foi sobretudo durante o reinado de D. Maria I (1777-1816) que se privilegiou a edição de volumes luxuosos, essencialmente de temas religiosos, entre os quais diversos missais que, embora contendo mudanças textuais eram ornamentados com as mesmas estampas abertas por Joaquim Carneiro ou algum dos seus discípulos. O facto de a estampa em análise não possuir nenhuma referência ao autor do desenho, pode indiciar que, para além de gravador, Carneiro da Silva tenha sido também o responsável pela execução do desenho.
Vendidas na loja que a Impressão Régia possuia na Real Praça do Comércio, em Lisboa, conhecem-se diversas edições (sete, pelo menos) do "Missale Romanum", todas com o mesmo número de estampas, oito, inseridas no texto. São elas: uma "Anunciação", uma "Natividade/Adoração dos Pastores", um "Calvário", uma "Ressurreição do Senhor", uma "Ascensão do Senhor", um "Pentecostes", uma "Santa Ceia" e uma "Assunção da Virgem".
O presente exemplar corresponde à estampa do "Calvário", incluída na edição de 1793 do missal. Para além desta, o Museu de Lamego possui, também extraídas do mesmo missal, as estampas relativas à "Ressurreição do Senhor" (inv. 909), do mesmo autor e à "Natividade/Adoração dos Pastores" (inv. 928), aberta por Gaspar Fróis de Machado.
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Incorporação: Desconhecido
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Centro de Fabrico: Lisboa
Bibliografia
- SOARES, Ernesto - Francisco Bartolozzi e os seus discípulos em Portugal. Gaia: Edições Apolino, 1930.
- LEITE, Pedro Queiroz - O Missal da «Regia Officina Typographyca» e seu Legado na Pintura Rococó Mineira: uma Refutação à Influência de Bartolozzi. In VII Encontro de História da Arte - UNICAMP, 2011, pp. 405-415. [disponível em: http://www.unicamp.br/chaa/eha/atas/2011/Pedro%20Queiroz%20Leite.pdf].
- FARIA, Miguel Figueira de - «A Apologia da preeminencia da Arte da Esculptura, sobre a de fundir Estatuas de metal» de Joaquim Carneiro da Silva - notas sobre a questão do Estatuto do Artista no final de Setecentos. Revista da Faculdade de Letras. Ciências e Técnicas do Património. Porto, 2003, I série, vol. 2.
- SANTIAGO, Fernanda Guimarães - «Traços Europeus, Cores Mineiras: três pinturas coloniais inspiradas em uma gravura de Joaquim Carneiro da Silva. In FURTADO, Júnia Ferreira (org.) - Sons, Formas, Cores e Movimentos na Modernidade Atlântica: Europa, América e África. São Paulo: Annablume, 2008.
- FERREIRA, Orlando da Costa - Introdução à Bibliologia Brasileira. A imagem gravada. Brasil, 1994.