Estudo para a luneta de Santa Úrsula e as Onze Mil Virgens

  • Museu: Palácio Nacional de Mafra
  • Nº de Inventário: PNM 992
  • Super Categoria: Arte
  • Categoria: Escultura
  • Autor: Alessandro Giusti (Escultor)
  • Datação: Século 18
  • Técnica: Escultura em relevo
  • Dimensões (cm): Alt. 87 x Larg. 142 x Esp. 4
  • Descrição: No centro da composição, está representada Santa Úrsula, de pé e de frente, transportando, na mão esquerda, um estandarte liso, cuja haste é sobrepujada por uma cruz. Tem o braço direito afastado do corpo, apontado para a esquerda baixa. Veste uma túnica e uma sobretúnica franjada, cinjidas na cintura por uma fita atada à frente, e uma capa atada sobre o ombro direito. Na cabeça, voltada para a direita e para cima, traz uma coroa aberta. A seus pés, um anjo eleva na mão direita um pequeno ramo de açucenas e, na esquerda, segura uma palma. À direita da Santa dispõem-se dez virgens, de que se destacam a que está por detrás do seu braço, que aparece de mãos postas e as três mais à esquerda, a primeira das quais mostra uma palma. Do lado esquerdo de Santa Úrsula, estão representadas mais dez virgens, estando a que se encontra por trás do anjo com as mãos cruzadas sobre o peito e trazendo açucenas entre o braço esquerdo e o peito. A cena é observada, do alto, por sete anjos, dois à esquerda e os outros à direita. A luneta tem sobreposto um florão, de onde sai, para cada um dos lados, uma grinalda. Segundo a Legenda Áurea, uma bela jovem chamada Úrsula, filha de um soberano bretão, converteu-se secretamente ao cristianismo prometendo guardar a sua virgindade. Quando foi pedida em casamento por Ereo, um príncipe pagão filho do rei de Inglaterra. O seu pai acedeu; porém, receoso, impôs, entre outras condições, que a filha fosse acompanhada por dez virgens, e outras mil para ela e para cada uma das dez que a acompanhavam, e que o casamento tivesse lugar no prazo de três anos. Numa viagem, um anjo anuncia a Úrsula que ela morrerá martirizada. Úrsula decide realizar uma peregrinação a Roma para obter a consagração dos seus votos secretos. Em Roma, foi recebida com muitas honras pelo papa Sirício, que consagrou os seus votos de virgindade. Recebendo uma revelação de que morrerá mártir com as virgens, o papa renuncia ao papado e, juntamente com muitos bispos, parte com elas. Dirigem-se à Alemanha, onde encontram Colónia sitiada pelos hunos, que matam todas as virgens. O príncipe dos hunos apaixona-se por Úrsula e quer tomá-la por mulher, mas a jovem resiste e ele mata-a com uma seta. O número de onze mil virgens, aparentemente exagerado, parece dever-se a uma leitura incorreta de uma lápide encontrada em Colónia, em que se lia: "XI MM VV", sendo que a abreviatura "MM" em vez de ter sido interpretada como "mártires" ("onze mártires virgens") foi-o como "mil" ("onze mil virgens"). Segundo Frei António José de Almeida (ver campo da Bibliografia), "a partir de 1585, a imagem ilustrativa [do martírio] foca-se na representação gloriosa e icónica das Santas Virgens Mártires. Nas edições lisboetas da "História ... dos Santos / Flos Sanctorum" de Fr. Diogo do Rosário dos finais do século XVI e princípios do XVII, aparece uma imagem coletiva das Onze mil Virgens com Santa Úrsula à frente, caraterizada esta pela coroa na cabeça e uma seta na mão esquerda." Assim, a opção de Giusti está de acordo com este outro paradigma artístico que se foi impondo desde o século anterior: a representação das mártires num ambiente "pacífico", glorificando-as, ao invés da apresentação dos atos perpetrados pelos bárbaros, revelando a mortandade de que foram vítimas. Giusti escolheu também ignorar a seta mortal que matou Úrsula, mas colocou-lhe na mão um estandarte. É possível que conhecesse iconografia em que o mesmo surgisse, como acontece com a pintura de Benozzo Gozzoli, executada no início da segunda metade do século XVI (ver campo Multimédia ou p. inicial), em que o estandarte tem firmada a cruz de S. Jorge, indicando, provavelmente, a nacionalidade desta nobre bretã, embora se trate de um anacronismo, visto que Santa Úrsula e os alegados acontecimentos deste martírio tivessem ocorrido no século IV e a utilização daquela cruz pelos ingleses se verificasse apenas a partir dos séculos XII/XIII. Talvez por essa razão o escultor preferisse deixar a bandeira lisa.
  • Origem/Historial: Estudo para uma luneta em mármore, eventualmente para ser colocada na parede Poente da Capela das Santas Virgens da Basílica de Mafra. Frei João de Santa Ana refere: "Na capela [...] dedicada às Santas Virgens e Viuvas da Ordem Seráfica [...], sobre o portal da parte do Evangelho no painel semicircular está S. Ursula com suas companheiras; e no painel fronteiro a esta S. Barbara e outras muitas virgens. Estes paineis são de escultura." Mas, de facto, não é assim. Trata-se certamente de um lapso de Frei João, já que apenas uma das lunetas é em pedra e essa está no lado do Evangelho; a outra é em tela. Júlio Ivo (p. 49) escreve "Na luneta da parte do Evangelho, Santa Ursula e outras; na luneta do lado da Epistola, ainda em quadro a oleo, Santa Barbara, Santa Úrsula, Santa Catharina, Santa Ignez e outras Santas". Acerta nos materiais, mas troca também os lados onde as peças estão colocadas. Executada na Escola de Escultura de Mafra.
  • Incorporação: Peça proveniente do Real Convento de Mafra.
  • Centro de Fabrico: Mafra (Escola de Escultura)

Bibliografia

  • IVO, Júlio - O Monumento de Mafra. Guia Illustrado. Lisboa: A Editora, 1906
  • SANTA ANNA, Frei João de - Real Edificio Mafrense visto por fora e por dentro: ou Descripçaõ exacta, e circunstanciada do Regio Palacio, e Convento de Mafra externa, e internamente considerados com aexplicação das Plantas, que deste magnifico eadmiravel Edificio levantou Amancio Joze Henriques, segundo Tenente da Marinha, e Ajudante Architecto da Caza do Risco das Obras Publicas, e Director das do dito Real Edificio. Mafra: manuscrito, 1828
  • ALMEIDA, Fr. António José de, O.P. – SANTA ÚRSULA E AS ONZE MIL VIRGENS
  • https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%9Arsula_de_Col%C3%B4nia

Multimédia

  • PNM 992.gif

    Imagem