Descrição: Painel de azulejos de composição figurativa em faiança monocromática: azul sobre branco. Representação de uma paisagem oriental. Do lado direito do observador, um grande pagode chinês, sobre as águas de um rio onde nadam dois cisnes; do lado esquerdo do observador, dois homens de alto estatuto social, sentados num grande sofá, protegido do sol por um criado que atrás segura um chapéu de sol; um dos homens sentados segura uma espécie de ceptro e escuta o que lhe diz o homem chinês sentado a seu lado, que de braço esticado lhe explica a paisagem à sua volta. À sua frente, dois serviçais curvam as cabeças em sinal de reverência.
Origem/Historial: "Este painel é parte de um silhar de maiores dimensões representando a China, sob o olhar de um artista ocidental que nunca visitou esse longíquo 'Império do Meio'. Descoberto no denominado "Fundo Antigo" mediante o projeto Devolver o Olhar, ele faz parte de um conjunto com três outros painéis, onde a representação de paisagens exóticas constitui um denominador comum.
Estes painéis deverão ser um dos primeiros conjuntos assinalados em Portugal a empregar imagens das chamadas 'chinoiseries', representações idealizadas de uma geografia distante, mas que soube exercer um forte fascínio no mundo europeu. Os emolduramentos destes painéis, circunscritos a cercaduras simulando talha, aproximam estas representações das famosas tapeçarias de Beauvais que, a partir de 1742 e empregando desenhos de François Boucher (1703-1770), foram decisivas na expansão do gosto por estes exotismos. Ainda que um dos painéis empregue na sua iconografia gravuras de Arnoldus Montanus, para a obra Gedenkwaerdige Gesantschappen, de 1669, as imagens de referência para o restante conjunto permanecem ignoradas. No entanto, as representações, envoltas numa exuberante paisagem arbórea onde despontam pagodes de maior ou menor imponência, assemelham-se, na intenção, às imagens de um quaotidiano idealizado, similar ao que carcterizava a nobreza europeia. Esta aproximação de modos de vida entre os espaços ocidental e do Extremo Oriente, longe de ser fortuita, provavelmente visava assegurar ao observador do conjunto azulejar que a ordem do mundo não mudava, independentemente da geografia da representação.
Os paineis evidenciavam sinais de terem estado colocados num espaço exterior, provavelmente um jardim, aspecto patente na degradação das superfícies e calcificação das argamassas remanescentes nos azulejos. Essa aplicação permitiria associar as actividades aqui representadas - passeios, refeições, pantominas - a aspectos da própria vivência do local. (...)
Vide Bibliografia Alexandre Pais in A água no azulejo português do século XVIII
Incorporação: Desconhecido (Fundo antigo).
Centro de Fabrico: Lisboa, Portugal
Bibliografia
0 exótico nunca esta em casa ? A China na faiança e no azulejo portugueses (séculos XVII-XVIII), pp.359
A Água no azulejo português do século XVIII, Museu da Água - Mãe d'Água das Amoreiras, Lisboa, 18 de Setembro de 2014 a 30 de Junho de 2015, MNAz, EPAL, Museu da Água, 119 págs.
Exposições
O Exótico nunca está em casa ? A China na faiança e no azulejo portugueses (Séculos XVII-XVIII)