Descrição: Tala com o formato de uma vara, ligeiramente curva, feita em madeira com casca. Numa das faces, e em todo o comprimento, apresenta vários entalhes: traços simples, finos e largos, em X e em V. Tala com entalhes a marcar a totalidade das casas do «concelho»: 12 na margem direita e 11 na margem esquerda. Apesar de se prolongarem os entalhes há marcas laterais a assinalar o fim.
Origem/Historial: As talas existentes no museu provêem sobretudo dos dois momentos em que a aldeia de Rio de Onor foi estudada: anos de 1940 e inicio de 1950, por Jorge Dias; e trinta anos depois, por Joaquim Pais de Brito. São varas em geral de choupo, com entalhes à navalha, em intervalos iguais, correspondendo cada espaço à casa do vizinho, onde se inscrevem cargos resultantes do pagamamento a pastores, multas ou registo de votos. A tala é, numa superfície linear, a figuração de uma aldeia em que as casas se sucedem num círculo ordenado, com a indicação do rio que separa as duas margens.
Em 1976 o conselho tem mais 4 membros em relação ao ano anterior. Trata-se de emigrantes de regresso à aldeia, depois de uma permanência de alguns anos em França ou na Alemanha. No dia 1 de Janeiro de 1976, um dos dois mordomos do ano anterior traz consigo a tala para o conselho onde se vai proceder à eleição dos mordomos.
É uma vara entalhada demarcando os espaços que correspondem a cada casa. Em relação à margem direita, ou seja, entre a extremidade mais grossa e o corte mais profundo que representa o rio, está marcado o número exacto das casas; já na parte correspondente à margem esquerda o mordomo continuou os entalhes, como que distraído e entretido a fazê-los, para além do número de casas efectivamente existentes. Fez depois uma marca lateral com a navalha para indicar para si mesmo o fim da contagem das casas.
São membros do conselho 12 casas na margem direita e 11 na margem esquerda. Os vizinhos mais votados correspondem a 2 dos emigrantes recentemente regressados, factor que influiu no modo como a escolha divergiu da prática tradicional de eleger um mordomo de cada margem do rio.
A tala revela por vezes pequenos enganos que o mordomo rapidamente corrige, como a marcação de um voto que fez na casa 21 e que logo apagou, socorrendo-se igualmente da navalha.
Bibliografia
BRITO, Joaquim Pais de - Retrato de Aldeia com Espelho, Ensaio sobre Rio de Onor. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1996
DIAS, Jorge - Rio de Onor, Comunitarismo Agro-Pastoril. Lisboa: Editorial Presença, 1981
ALVES, Francisco Manuel, 1910, "Vestígios do regimen agráriocomunal". Ilustração Transmontana. 3º ano, Porto, pp. 137-142
TENÓRIO, Nicolás - La aldea gallega. Vigo: Ediciones Xerais de Galícia, 1982 (1914)
KUCHENBUCH, Ludolf - "Les baguettes de taille ao MouyenÂge: un moyen de calcul sans écriture?". In Cequery, N. e Menant, F. e Weber, F. (dir), Écrire, compter, mesurer: vers une histoire des rationalités pratiques. Paris: Éditions Rue d'Ulm, 2006, pp.113-142
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