Descrição: Painel de azulejos em faiança polícroma: azul, amarelo, manganês e verde sobre branco. Registo recortado na parte superior. Motivo central com pintura em azul constituído por: Santa Ana, São Joaquim e Nossa Senhora da Conceição elevada entre nuvens e anjinhos a ladear. Enquadramentos com pintura polícroma.
Ao meio, entre as imagens de Santa Ana e São Joaquim, um vaso com um farto ramo de flores e grinaldas que se desenvolvem até à base; está apoiado numa cartela com a inscrição " Stª ANNA ES.JOAQVIM SECVRREI OS MIZERAVES E ALCÃSANOS DEUOS O SS.mº NETO A AGOA DA SVA DEUINA GRAÇA. Na parte superior um outro vaso, mais pequeno, com grinaldas de flores, enrolamentos de folhagem e panejamento, suspendem um medalhão oval de cada lado, com alegorias e inscrições, na direita "NEC ARDET" e na esquerda "NOLI ME TANGERE".
Lateralmente um vaso de flores polícromas, com reserva no bojo e flor em azul suspensa por laço, está assente sob pilastra em manganês.
Origem/Historial: Parcialmente furtado e recuperado pela Polícia Judiciária, que após decisão judicial o entregou ao MNAz, o remanescente foi, por sua vez, também doado à mesma entidade pelo proprietário do imóvel onde se encontrava.
"Criado no período em que dominava o gosto pela gramática neoclássica, nele podemos observar a característica policromia de então, dominando os enquadramentos, permanecendo em azul sobre branco a representação central. Ainda que o tema presente e a dimensão do conjunto pudessem levar-nos a pensar numa aplicação em contexto religioso, esta peça encontrava-se colocada num alçado de um poço, localizado na Quinta de Santo António da Bela Vista, no Pragal. Esta era, pois, uma cenografia invulgar pelo desmesurado da escala, mas também pelo sentido religioso que atribuía à água que se retirava do local. O tema representado acentuava essa dimensão quase mística, observando-se as figuras de Santa Ana e São Joaquim, orantes, dos quais se projetam as hastes de uma flor, um lírio, quase semelhante a um lótus, sobre o qual surge Maria, invocada como Nossa Senhora da Conceição. Aqui, Ela é a ideia que Deus fez da mulher que carregou no seu ventre o Seu filho, sendo, por isso, de todas as imagens da Virgem, talvez aquela que melhor testemunha a concepção imaculada da que veio a ser a mãe de Jesus. Esse paralelismo entre a pureza sem par de Maria e a água que alimentava o poço onde se encontrava o painel, poderá parecer um pouco desrespeitoso, para o entendimento actual, mas importa entender que, na época, a religiosidade era vivida quotidianamente e as suas imagens perfeitamente integradas nessa vivência. Os festões de flores e a jarra profusamente florida, que em posição de destaque se encontra junto dos progenitores da Virgem, testemunham o poder vivificante dessa água pura, que alimenta a terra e os homens.
O carácter místico da composição é ainda acentuado pelos símbolos que se encontram lateralmente, em reservas colocadas em balaústres, a rosa e o lírio, ambos imagens da pureza de Maria. acima dois outros emblemas enfatizam essa ideia acompanhados de expressões em latim. Como se não bastasse toda a iconografia associada, que dá um sentido de imaculidade à representação e ao elemento a que reporta o local onde se encontrava o painel, podemos ler, na base da composição, uma espécie de prece: ' Sta. Anna e S. Joaquim socorrei os miseráveis e alcança-nos de Vosso Ssmo. neto a água de Sua divina graça'.
Incorporação: Cedência a título definitivo.
Protocolo de IHRH (Instituto de Habitação e da Reabilitação Urbana) - Lisboa, que cede a título definitivo o espólio azulejar da Quinta de Santo António da Bela Vista, Pragal / Almada, para acondicionamento, estudo, tratamento e guarda.
Centro de Fabrico: Lisboa, Portugal
Bibliografia
SIMÕES, João Miguel dos Santos - Azulejaria em Portugal no século XVIII. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1979
A Água no azulejo português do século XVIII, Museu da Água - Mãe d'Água das Amoreiras, Lisboa, 18 de Setembro de 2014 a 30 de Junho de 2015, MNAz, EPAL, Museu da Água, 119 págs.
Exposições
A Água no azulejo português do século XVIII
Museu da Água - Mãe d'Água das Amoreiras, Lisboa
18/9/2014 a 30/6/2015
Exposição Física
"The Land of the Glazed Cities. 500 Years of Azulejo in Portugal"