Escultura
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Museu: Museu Nacional de Etnologia
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Nº de Inventário: AX.669
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Super Categoria:
Etnologia
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Categoria: Ritual
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Autor:
Autor desconhecido
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Datação: Século 20
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Dimensões (cm): Alt. 0,122
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Descrição: Representação em marfim de uma figura humana, ereta, de feição realista e com os membros inferiores praticamente suprimidos, braços caídos e separados ao corpo, cabeça com duas grandes protuberâncias semelhando seios, uma de cada lado e uma cavidade com dois dentes dentro.
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Origem/Historial: Pequena escultura que pertencia aos apetrechos rituais de um "nganga", sacerdote e operador ritual qualificado, habilitado a manipular os "minkisi", figuras que materializam as forças da terra invisível dos mortos e que sob o controlo humano atuavam ao nível pessoal, político e económico dentro das comunidades Kongo.
«No pensamento dos povos Kongo, um "nkisi" (pl. "minkisi") era uma força personalizada da terra invisível dos mortos que tinha escolhido, ou sido induzida a submeter-se a um certo grau de controlo humano efetuado através de rituais. O perito que conduzia tal ritual era o "nganga" (operador ou sacerdote; pl. baganga) do nkisi. O ritual podia ser mais ou menos elaborado, demorar uns minutos ou muitos anos a ser completado e requerer a participação de qualquer número de pessoas, de um só indivíduo a uma aldeia inteira ou mais. Incluia habitualmente cantos, danças, restrições de comportamento, recintos especiais e espaços preparados, e um aparato material vagamente prescrito. O aparato material incluía instrumentos de música, a presença do nganga e dos seus pacientes, ou clientes, artigos de uso, remédios e, finalmente, um objeto central que era o próprio "nkisi" no sentido restrito de recetáculo da força que dava poder.»
«Com certas exceções, a arte dos Kongo não é figurativa; para os seus criadores e utilizadores, o significado depende não apenas do contexto ritual de utilização, mas também das suposições cosmológicas, das teorias explicativas da sorte e da desgraça e, sobretudo, da língua Kikongo. Nestas obras, a relação entre a palavra e a imagem é muito mais íntima do que, por exemplo, entre um retrato e o seu título ou legenda. Cada elemento de uma complexa figura "nkisi" destina-se a evocar uma ou mais associações linguísticas, incluindo metáforas e trocadilhos que, em conjunto, podem ser "lidos" como um texto descrevendo os seus poderes e objetivos particulares. No decorrer da composição do "nkisi", o "nganga" cantava o nome de cada elemento e o seu significado. Infelizmente, essas vozes agora calaram-se e nunca mais vai ser possível elaborar um dicionário de significados porque grande parte da magia dos "minkisi" residia nas subtilezas da variação criativa.» (MacGaffey, 2000: 37-38)
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