Descrição: Contador indo-português em madeira de teca, com frisos e embutidos de madeira de ébano e embutidos de marfim.
O contador (faz parte de um par PNA inv. 406) exemplifica a singularidade e riqueza do mobiliário indo-português, ao conjugar influências artísticas indianas e portuguesas, no contexto das relações comerciais entre estas duas zonas iniciadas no século XV. Segundo Pedro Dias, “na génese da arte indo-portuguesa encontram-se dois fenómenos: a transferência estética e a influência reciproca”. No caso deste contador, exemplar do mobiliário da Índia Portuguesa tradicionalmente chamado “de Goa”, a estética indiana é visível nos materiais e na decoração. A teca, servindo de base, e o ébano locais associam-se a pequenos embutidos de marfim. Os motivos assumem uma estilização de cariz indiano: destacam-se as cabeças de tigres e os enrolamentos vegetalistas que terminam em botões de lótus (ligado à mitologia indiana). Indiana é ainda a prolixidade ornamental, que se estende aos cantos metálicos e aos montantes entalhados representando Naginas (Nagas no seu par PNA inv. 406), seres míticos, semidivinos no hinduísmo, no budismo e no jainismo, que podem assumir forma de serpente com dorso humano neste caso feminino.
Se os materiais e a decoração são indianos, a estrutura e a tipologia do móvel contador é europeia. O contador é composto por três corpos. Uma caixa com doze gavetas aparentes (na realidade 10) com puxadores de marfim torneado e nas ilhargas duas gualdras com escudetes em latão. A caixa assenta numa mesa ou trempe, de dois corpos, com quatro gavetas aparentes (três na realidade), sustentada por quatro montantes decorados com as referidas divindades em madeira entalhada.