Lança do Coche de D. José I

  • Museu: Museu Nacional dos Coches
  • Nº de Inventário: AV 0059
  • Super Categoria: Arte
  • Categoria: Meios de transporte
  • Autor: Machado, Cirilo Volkmar (Lisboa, 1748 - 1823) (Pintor)
  • Datação: 1750/1775
  • Técnica: Madeira entalhada, policromada e dourada
  • Descrição: No exterior, lança nº 24, acessório de viatura, varal de madeira, fixado na estrutura da viatura (tesouras) que faz a ligação/ encaixe (neste caso 2 encaixes paralelos) entre a viatura e a atrelagem dos animais, apenas na parelha do tronco (mais próxima da viatura).
  • Origem/Historial: * Forma de Protecção: classificação; Nível de Classificação: interesse nacional; Motivo: Necessidade de acautelamento de especiais medidas sobre o património cultural móvel de particular relevância para a Nação, designadamente os bens ou conjuntos de bens sobre os quais devam recair severas restrições de circulação no território nacional e internacional, nos termos da lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro e da respectiva legislação de desenvolvimento, devido ao facto da sua exemplaridade única, raridade, valor testemunhal de cultura ou civilização, relevância patrimonial e qualidade artística no contexto de uma época e estado de conservação que torne imprescindível a sua permanência em condições ambientais e de segurança específicas e adequadas; Legislação aplicável: Lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro; Acto Legislativo: Decreto; N.º 19/2006;18/07/2006 * Segundo a tradição, este coche teria sido mandado construir por D. José I na segunda metade do século XVIII. Muitos dos autores citados pretendem ver ainda semelhanças técnico-formais entre este carro, o coche dito de D. João V (nº invº 12) e a berlinda de D. Maria I (nº invº 39), concluindo que estas afinidades denunciariam um possível trabalho de oficina comum. Antes de ser exposto no Museu, o coche encontrava-se arrecadado no Depósito I da Repartição das Reais Cavalariças, instalado no antigo Picadeiro Real de Belém. Ao longo do século XIX serviu em diversas cerimónias da corte portuguesa: - Baptizado da Infanta D. Antónia, 8 de Abril de 1845 - Funeral do Infante D. Leopoldo, Maio de 1849 - Funeral da Infanta D, Maria, Fevereiro de 1851 - Funeral de S.A. Imperial, D. Maria Amélia, Abril de 1853 - Funeral da Rainha D. Maria II, Novembro de 1853 - Festejos do casamento de D. Pedro V e D. Estefânia, 18-20 de Maio de 1858 - Funeral da Rainha D. Estefânia, Julho de 1859 - Funeral de D. Pedro V, Novembro de 1861 - Casamento de D. Luís I, Outubro de 1862 - Funeral da Rainha D. Carlota Joaquina, Janeiro de 1876 - Funeral de D. Fernando II, Dezembro de 1885 - Casamento de D. Carlos e D. Amélia de Orléans, 22 de Maio de 1886 - Funeral do Infante D. Augusto, Outubro de 1889 - Funeral de D. Luís I, Outubro de 1889 - Aclamação de D. Carlos I, 28 de Dezembro de 1889 - Funeral da Imperatriz do Brasil, D. Maria Cristina, Janeiro de 1890 - Funeral de D. Pedro II, Imperador do Brasil, 13 de Dezembro de 1891 - Entrega da Rosa de Ouro a D. Amélia, 4 de Julho de 1892 - Visita oficial de Eduardo VII de Inglaterra, Abril de 1903 - Visita oficial de Afonso XIII de Espanha, Dezembro de 1903 - Visita oficial de Imperador Guilherme II da Alemanha, 30 de Março de 1905 - Visita oficial do Presidente da República Francesa, Emile Loubet, 27 de Outubro de 1905. COMENTÁRIO: Pelos motivos que passamos a enumerar, parece-nos infundada a atribuição de propriedade deste coche ao rei D. José I, acreditando tratar-se de um carro português da primeira metade do século XVIII, encomendado por D. João V. Da apreciação estética deste carro ressalta, em primeiro lugar, a estreita afinidade existente entre o trabalho de talha da caixa e jogos e a obra dos entalhadores nacionais setecentistas, tanto a nível da concepção formal como na sobrecarga decorativa, patente sobretudo no cabeçal traseiro da viatura. Em termos estruturais, este carro em pouco difere dos coches parisienses da Embaixada do conde da Ribeira Grande (nºs. invº 7 e 15), com molduras das janelas tendencialmente rectilíneas e o painel do estribo nivelado com o varal de sustentação da caixa. A este tipo de caixa padronizado, foi acoplada uma escultura de alto-relevo que acentua as linhas estruturais e confere maior opulência à viatura, sobretudo quando conjugada com a pintura a óleo sobre fundo dourado que recobre os apainelados. Quanto à decoração pictórica da caixa, não podemos deixar de notar a influência exercida pela plasticidade elegantemente sóbria do coche nº invº 8, dito do Papa Clemente XI. Tal facto não será de estranhar pois, se os modelos artísticos de época eram ainda ditados pela Itália, o coche oferecido pelo Papa a D. João V não poderia deixar indiferentes os artistas nacionais, particularmente aqueles que por inerência do ofício, se encontravam ligados à incipiente indústria de construção de viaturas de aparato, em Portugal. Não obstante, o que ficou dito, há que notar que o tipo de rodas deste carro denuncia o avançado estádio a que esta indústria havia chegado. A mestria dos carpinteiros de jogos e rodados entalhadores é particularmente notória nos raios das rodas, contracurvados e oblíquos, sem prejuízo da necessária perpendicularidade dos mesmos. Note-se que esta inovação técnica havia já sido experimentada noutros carros contemporâneos, mas nunca com tão grande apuro. Não menos importante do que a apreciação estético-formal da peça, é a sua leitura iconológica que, no presente caso está facilitada pelo número limitado de atributos e de figuras alegóricas. As armas reais estão patentes nos painéis das portinholas e no amplo bordado do tecto; a águia imperial domina, majestosa, sobre o cabeçal traseiro, contrapondo-se à pintura do painel posterior onde, a "Ousadia Magnânima e Generosa" do nome português se eleva sobre o Mundo e as Índias, coadjuvada pela fidelidade e lealdade dos súbditos. Se, a tudo isto, se adicionar a simbólica das cabeças de índios disseminadas pela caixa, facilmente se entenderão os desígnios do encomendador deste carro, Senhor de um vasto Império cuja viabilidade económica dependia directamente do Brasil. Como entender, então, que um carro com um tal carga simbólica fosse construído a expensas de D. José I que, ao subir ao trono, herda um império desgastado e delapidado nas suas riquezas pela ambição perdulária de seu pai? Como que corroborando esta hipótese, não podemos deixar de referir uma gravura da autoria de Goutzwiller inserta na "Ilustração Portuguesa" de Abril de 1890, em que se representa este coche acompanhado da legenda "coche de D. João V (1709)", assinalando, no entanto, as divergências decorativas dos painéis das portinholas, onde se distingue um medalhão ovalado com a efígie régia sustido por dois tenentes. Mais, admitindo, como tem sido sustentado até ao presente, que tanto este carro como o coche nº invº 12 (dito de D. João V) seriam obras saídas de oficinas nacionais, ter-se-ia de concluir que houve um claro retrocesso em todas as disciplinas que tradicionalmente se articulam na feitura de uma viatura deste tipo, desde a esculturação da madeira ao trabalho de bordadura e passamanaria. Elsa Garrett Pinho.
  • Incorporação: Casa Real Portuguesa. Bens da Coroa.

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