Capela de São João Evangelista
-
Museu: Museu de Lamego
-
Nº de Inventário: 123
-
Super Categoria:
Arte
-
Categoria: Escultura
-
Autor:
Autor desconhecido (-)
-
Datação: Século 17/18
-
-
Técnica: Madeira entalhada, dourada e policromada
-
Dimensões (cm): Comp. 510 x Alt. 380 x Larg. 400
-
Descrição: Capela relicário em talha dourada e policromada. Apresenta retábulo de estrutura maneirista, em dois andares, tripartidos, sendo o segundo rematado, ao centro, com dois enrolamentos que enquadram um pelicano, enquanto nos flancos se ergue um frontão curvilíneo interrompido, decorado com folhas de acanto no interior. O andar inferior tem duas colunas pseudo-salomónicas de cada lado, envolvidas por pássaros, pâmpanos, uvas e um menino em cada um...
Ver maisa delas, apresentando capitéis coríntios e assentando em mísulas decoradas com volumosas folhas de acanto, que envolvem pequenos medalhões centrais. O nicho central é enquadrado por pilastras, ligadas por um arco de volta perfeita, decoradas por folhas de acanto e nele se encontra a imagem de S. João Evangelista, sobre uma peanha. Nos intercolúnios tem painéis em relevo que relatam passos da vida de S. João. O andar inferior é separado do superior, por um friso decorado com folhas e duas cabeças de anjo, encimado por uma cornija. A parte superior subdivide-se em três painéis, separados por quartelões.
Os motivos dos painéis do retábulo e a imagem do Santo Evangelista, merecem-nos especial atenção. Assim, à esquerda da escultura de S. João, vê-se o Santo posto à prova do martírio no caldeirão de óleo a ferver, enquanto dois anjos nos cantos superiores da composição seguram a coroa. O rosto ainda jovem de S. João tem patente uma grande serenidade. À direita da escultura do Santo encontra-se uma alegoria - S. João elevado à glória celeste, quase nos faz pensar numa assunção - dois anjos levantam S. João pelos pés parecendo ajudá-lo na subida ao Céu enquanto outros dois anjos seguram uma coroa sobre a cabeça do Santo. Na parte superior e ao centro um outro quadro representa o Calvário, com Cristo Crucificado, estando do lado direito Nossa Senhora, e à esquerda, outra passagem da vida de S. João a dar a sagrada Comunhão a Nossa Senhora. Os relevos em forma de painéis povoam e invadem desta forma o retábulo, substituindo os habituais quadros pintados, ainda muito frequentes no início do século XVII e que vimos por exemplo no retábulo de S. João Baptista.
A imagem de S. João Evangelista é em madeira de castanho policromada do século XVIII. A figura de pé, apoia-se numa base dourada com punção e círculos dourados. O braço esquerdo flectido abaixo da cintura segura com a mão esquerda um cálice em madeira, e o braço direito, também flectido à altura do peito, tem a mão meia aberta como quem abençoa. Calça sandálias rematadas a ouro e o pé esquerdo avança em relação ao direito. As vestes são estofadas em tons cremes e vermelhos, com desenhos florais verdes, azuis, vermelhos e cinzentos grafitados a ouro, uma barra azul celeste com desenhos e uma bordadura dourada e a prender a cintura um cordão verde.
As paredes laterais do retábulo central são preenchidas por talha e imagens, subdivididas horizontalmente em três registos: o inferior - com painéis revestidos com folhas de acanto; o do meio - com quadros preenchidos por medalhões de vários tamanhos, alguns com imagens e outros vazios, envolvidos por folhas de acanto e encimados por dois enrolamentos, que enquadram um medalhão oval ao meio; o superior - é ocupado por dois nichos, emoldurados por pés direitos ligados por um arco de volta perfeita, lavradas com folhas de acanto, com pequeninas cabeças aladas nos ângulos e um friso superior também decorado com folhas de acanto. O nicho do nosso lado direito é ocupado pela imagem de S. Tiago, com o bastão na mão direita, e o do lado esquerdo por S. Paulo com a espada na mão direita e o livro na mão esquerda.
As paredes laterais são revestidas de talha e subdividem-se em cinco registos verticais e horizontais. Pilastras de fuste curvilíneo, coroadas por capitéis coríntios, decoradas com enrolamentos, folhas de acanto e um festão de flores ao centro, fazem a divisão vertical. Os dois andares superiores são ocupadas por nichos, com molduras de pilastras e arco de volta perfeita, guarnecidas com folhas de acanto e pequenas cabeças de anjo nos ângulos ao lado dos arcos, resguardando a maioria deles imagens, uma vez que, alguns, se encontram desprovidos das mesmas. Sobre os nichos do registo do meio, posicionam-se dois enrolamentos de acanto e pássaros, que enquadram medalhões redondos, sobre os quais corre um friso decorado com folhas de acanto e com pequeninos medalhões para colocação de relíquias, situação que se repete por toda a capela.
O tecto é artesoado, com caixotões subdivididos por folhas de acanto e florões nos ângulos em forma de cruz grega. Muitos dos vinte painéis que o preenchem, representam cenas do Apocalipse - último livro do Novo Testamento - à semelhança do que acontece nos baixos relevos do retábulo do altar dedicado ao mesmo santo, na igreja do Mosteiro. Contudo, as pinturas não estão ordenadas segundo as passagens do Apocalipse, nem na sua origem, nem na trasladação para o Museu, e nem todas são inspiradas literalmente na leitura bíblica referida, levantando algumas dúvidas na sua análise.
Para além do painel à nossa esquerda mais próximo do altar, que se encontra deteriorado, podemos ver que, nos restantes, Nossa Senhora aparece em metade dos motivos e S. João Evangelista segura o seu livro em dezasseis quadros, ao mesmo tempo que podemos identificar algumas cenas do Apocalipse.
O pórtico desta capela também se encontra no Museu de Lamego. Este portal de cariz maneirista, apresenta características muito semelhantes às do portal da igreja, com arco de volta perfeita, composto por saiméis, aduelas, contrafechos e fecho, que formam um vão de alguma envergadura que se apoia em pés direitos, encimados por uma imposta. Este flanqueado por duas colunas, com base, fuste canelado, menos evidente no terço inferior e capitel jónico, precedido de gola com fissuras e colarinho, assentando cada coluna num pedestal com decoração ovulada, adossados à parede. No friso, que é encimado por uma cornija, podemos ler a seguinte inscrição: VERBVM. CA RO FACTVMEST., ou seja, O Verbo de Deus fez-se Homem, expressão do Evangelho de S. João Evangelista, o que de facto nos mostra que o portal é originário da capela deste santo.
Nos vinte quadros que compõem o tecto, vemos 16 em que S. João Evangelista segura o seu "Livro" (não contando com com o primeiro painel à nossa esquerda, junto ao altar, por estar deteriorado, mas possivelmente representaria o apóstolo). (...) Mais nos parecem um louvor a S. João e uma particular devoção a Nossa Senhora, que é representada em cerca de metade dos motivos.
Fechar
-
-
Origem/Historial: Esta capela encontrava-se para levante do claustro e era a maior e a mais valiosa de todas que ali existiam. Com cerca de vinte e oito metros quadrados, foi avaliada em 200$000 réis no ano de 1897 e as vinte e cinco imagens que tinha em 120$000, encontrando-se hoje na capela - que à semelhança das anteriores foi transladada para o Museu de Lamego, apenas dezoito esculturas. A capela do Santo que escreveu o Apocalipse não se encontr...
Ver maisava datada, todavia, segundo M. Gonçalves da Costa, terá sido renovada no início do século XVIII, tendo a 3 de Janeiro de 1709, o bispo D. Tomás autorizado "Fr. António de Anunciação e seu companheiro, Fr. Manuel de S. Bernardo, a benzerem todas as imagens da capela de S. João Evangelista, em número de 25, além de outras de meio relevo, na presença do confessor P. Manuel de Carvalho. A capela achava-se renovada à custa das irmãs e elas pretendiam dourá-la depois de oferecerem as imagens estofadas. O facto de se falar em renovação e o seu enquadramento arquitetónico e formulários utilizados, provam que a capela original é anterior, maneirista, da primeira metade do século XVII, enquanto as colunas torsas,, os quartelões das paredes laterais e a multiplicidade de acantos que ornam todo o conjunto, são fruto da intervenção levada a efeito na primeira metade do século XVIII. O perfil do conjunto maneirista já não correspondia aos novos conceitos estéticos, pelo que as religiosas resolveram imputar-lhe o espírito barroco através de nova remodelação. Por outro lado, os motivos utilizados nos relevos do retábulo, seguem de perto os do altar do mesmo Santo, que se encontra na igreja, sendo este anterior, dos inícios do século XVII. (SILVA, 1998, pp. 83-84).
A instâncias do primeiro Diretor do Museu de Lamego, João Amaral, o conjunto das capelas foi cedido ao Museu, a título de empréstimo, por proposta do Presidente do Município, data de 22 de Janeiro de 1928. Todavia, o levantamento das capelas no lugar que hoje ocupam, só se terá realizado entre 1931 e 1936 período a que corresponde a 1.ª fase das obras de beneficiação e melhoramento do edifício, levadas a efeito pela DGEMN.
Fechar
-
Incorporação: (mosteiros extintos) Mosteiro das Chagas, Lamego.
-
Bibliografia
- COSTA, Sandra Vaz - "Escultura" in Museu de Lamego. Roteiro. Lamego: IPM, 1998
- LARANJO, F. J. Cordeiro - Museu de Lamego. Lamego: C.M.Lamego, 1991
- QUEIRÓS, Carla Sofia Ferreira - Os Retábulos da Cidade de Lamego e o seu Contributo para a Formação de uma Escola Regional. 1680-1780 (Dissertaçação de Mestrado em História da Arte em Portugal apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto). Lamego: Câmara Municipal de Lamego, 2002
- SILVA, José Sidónio Meneses da - "O Mosteiro das Chagas de Lamego. Vivências, espaços e espólio litúrgico. 1588-1906" Dissertação de Mestrado de História da Arte em Portugal apresentada à F.L.U.P.. Porto,: texto policopiado, 1998