Copo com pé (68) / Serviço Porto Côvo da Bandeira
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Museu: Palácio Nacional da Ajuda
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Nº de Inventário: 11959
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Super Categoria:
Arte
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Categoria: Vidros
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Autor:
Desconhecido (Vidreiro / Gravador)
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Datação: 1814/1815
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Técnica: Cristal soprado, moldado, lapidado
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Dimensões (cm): Alt. 14,5 x Diâm. 9 (copa); 7,5 (base)
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Descrição: Copo com pé (68); cristal transparente incolor; base circular decorada com estrela de 34 pontas lapidada no reverso; pé facetado dividido em dois registos com um botão ao centro; base do bojo mostra motivos losangulares em ponta de diamante; copa dividida em duas secções, uma hemisférica com seis secções lapidadas de padrão em ponta de diamante, intervaladas verticalmente por friso liso; secção a meio do bojo decorada com motivos em ponta de diamante mais pequenos ostentando o monograma "B" numa moldura retangular de cantos recortados; segue-se uma divisão horizontal lisa ; parte superior do bojo decorado igualmente em ponta de diamante com o bordo liso abrindo para fora.
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Origem/Historial: A peça faz parte do serviço denominado "Baixela Porto Côvo da Bandeira", adquirido pelo Estado Português em 1941 no leilão do espólio dos descendentes do Barão de Porto Covo, para uso nas cerimónias protocolares. O leilão foi realizado na casa Leitão e Irmão. (Palma, 2005) Tem vindo a ser utilizado, portanto, nos banquetes de Estado até aos dias de hoje.
O serviço é composto por oitocentos e sete peças, havendo dois grupos: o primeiro com quarenta e duas, em bronze dourado e cristal, de nove tipologias diferentes, de autoria de Pierre Philippe Thomire (1741-1843), e da Cristallerie de La Reine - Montcenis Le Creusot, e o segundo, com setecentas e sessenta e cinco peças em cristal, da mesma vidraria.
O primeiro conjunto está datado de cerca de 1805, e o segundo de entre 1814-1815 (Palma, 2005).
A Manufacture des Entrepeneurs Lambert et Boyer, em 1782, tomou o nome de Cristallerie de La Reine (Maria Antonieta) em 1782. (Klein e Falconet, 2013)
Situada no Parque de Saint-Cloud, em Sèvres (não confundir com a fábrica de porcelana), foi transferida por decreto real, a 10 de novembro de 1786 para Le Creusot (então no baronato de Montcenis), com o objetivo de reduzir os custos da fusão do vidro, graças à proximidade da principal matéria prima, o carvão. As actividades iniciaram em 1787, mas devido Revolução Francesa foram interrompidas em 1792 .
Em 1806, a fábrica retomou atividade e progrediu rapidamente sob a direção do Padre Chapet, antigo tutor oratoriano dos filhos de Luís XVI que se tinha recusado a prestar juramento à Constituição Civil do Clero, e o talento de Benjamin Ladouèpe-Dufougerias, o “lustrier” do Imperador. Tomou o título de “Manufatura Impérial e Real”.
Com a saída dos seus dois diretores em 1811-1812 ficou fortemente desestabilizada. Foi posta à venda em 1814.
Não tendo aparecido comprador, foi adquirida em 1818 por Jean-François Chagot, o principal credor, cuja principal preocupação era modernizar e inovar o cristal moldado. As divergências no seio da família Chagot precipitaram o seu declínio e, em 1832, foi vendida às fábricas de cristal Baccarat e Saint-Louis, que a encerraram de imediato.
Durante cerca de quarenta anos, foi em Le Creusot que a tecnologia vidreira francesa continuou a evoluir. A fábrica produziu vasos ornamentais, Lustres e objetos diversos. Se o cristal transparente e o seu processo de lapidação com ponta de diamante continuaram a ser a sua prerrogativa, também manufaturava cristais coloridos, opalino e opalinas. Destacou-se também no fabrico de vidro de sílex e na incrustação de sulfuretos.
Menos conhecida do que as suas concorrentes da Lorena, Baccarat e Saint-Louis, a Cristalaria Real e Imperial de Creusot desempenhou, no entanto, um papel original e de primeiro plano na história do vidro em França e na Europa.
Como vidraria de vanguarda, introduziu pela primeira vez em França e no continente europeu o fabrico de cristal à “maneira inglesa”, baseado na utilização de carvão vegetal em vez de madeira como combustível e de chumbo como fundente.
Graças à qualidade excecional do seu “cristal de chumbo”, a cidade de Creusot adquiriu muito rapidamente uma reputação incontestável sob a direção de homens apaixonados pela tecnologia, pela inovação e pela perfeição, que conferiram à cidade uma reputação internacional ainda antes do advento da grande indústria siderúrgica da família Schneider. (Sutet, 2017)
Em 1837, o edifício já sem utilidade foi vendido aos irmãos Adolphe e Eugène Schneider que, em 1847, procederam a alterações fazendo deste uma das residências da família Schneider durante mais de um século.
No início do século XX, as instalações, que foram visitadas por chefes de Estado estrangeiros, foram transformadas num edifício senhorial com um parque adjacente, atualmente conhecido como “Château de la Verrerie”.
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Incorporação: Estado Português
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Centro de Fabrico: Borgonha, França
Bibliografia
- PALMA, Maria Rita Appleton Themudo Jardim (2005): "O Luxo E o Aparato Das Artes da Mesa no Portugal Oitocentista. A Baixela Porto Côvo da Bandeira- Pierre-Philippe Thomire, Mestrado em Arte, Património e Restauro, Universidade de Lisboa, Faculdade de letras, Departamento de História, Lisboa,
- http://www.afaverre.fr/pdf/bull2013/2013-31-Falconnet.pdf
- Sutet, Marcel (2017): "La cristallerie royale et impériale du Creusot", Arts, Archéologie et Patrimoine.