Técnica: Prata levantada, soldada, recortada e parcialmente dourada.
Dimensões (cm): Comp. 72,5 x Larg. 9 x Diâm. 12,4
Descrição: Trombeta da Charamela Real composta por tubo dobrado, terminando em pavilhão e campânula. Esta é reforçada por coroa em prata dourada laminada, revirada no interior e recortada no bordo superior, onde se inscreve a seguinte decoração: cecadura de lourel, legenda transcrita sobre fundo puncionado, elementos fitomórficos estilizados sobre fundo liso e puncionado. As armas reais portuguesas assentam sobre cartela de volutas assimétricas, encimada por coroa fechada que se sobrepõe à moldura. Junto à legenda, foi soldado um aro liso.
A meio do tubo, um nó achatado em prata dourada, onde se repetem as armas reais, separadas entre si por motivo entrançado inciso sobre fundo puncionado. O nó é prolongado por dois encaixes cilíndricos dourados, ornamentados com alinhamentos ondulados incisos, folhas estilizadas e campo puncionado. No ponto de intersecção dos tubos existem cinco encaixes recortados e lavrados, em prata dourada, um dos quais munido de argola por onde passa o cordão. O suporte do bocal, actualmente inexistente, repete o mesmo esquema decorativo, acrescido de bandas espiraladas.
Os tubos estão unidos entre si por peça de madeira em torno da qual se enrola o cordão de prata de quatro cabos, rematado por borlas franjadas do mesmo material.
Origem/Historial: Trombeta natural em ré (no actual diapasão), antigamente em mi bemol. Fazia parte da Charamela Real, corpo de trombetas de corte e legítimo sucessor da alta música do século XVI, composto por vinte e quatro trombetas de prata e quatro tímbales.
Durante muito tempo os vocábulos "charamela" e "trombeta" foram sinónimos, embora a primeira consistisse num instrumento de madeira com dez orifícios, tocado unicamente por homens negros. Por determinação do Senado, em 25 de Agosto de 1717, pretendeu-se pôr fim a esta tradição burlesca sem que, contudo, ela fosse inteiramente suprimida. Assim, "charamela" passou a ter um significado colectivo, designando o conjunto de instrumentos de sopro.
As vinte trombetas pertencentes ao M.N.C. - a que se juntam duas outras datadas de 1785 -, imitavam as trombetas da guarda de corpo de Versalhes, como se pode avaliar pelas recolhas de música da Charamela. Os músicos organizavam-se em quatro grupos de seis trombetas e um tímbale e interpretavam cinquenta e quatro cortejos diferentes, que compões os ainda intactos Livros de Música. estes cortejos testemunhavam do virtuosismo dos instrumentistas, sendo os excertos musicais tocados sem interrupções e sem que os instrumentos pudessem ser regulados, pois não possuem quaisquer orifícios de afinação.
A versão histórica divulgada pela antiga bibliografia, segundo a qual as trombetas teriam sido utilizadas por ocasião das cerimónias de inauguração da estátua equestre de D. José I, parece hoje pouco verossímil pelo hiato existente entre as datas gravadas nos instrumentos e a referida estátua, inaugurada para comemorar os vinte anos do Terramoto de 1755.
Incorporação: Palácio das Necessidades.
Bibliografia
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FREIRE, Luciano - Catálogo Descritivo e Ilustrado do Museu Nacional dos Coches. Lisboa: 1923
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SILVA, Maria Madalena de Cagigal e - O Museu Nacional dos Coches - O Edifício, o Museu, as Colecções, (Colecção "Albuns de Arte Portuguesa"). Lisboa: Imp. Nacional/Casa da Moeda, 1977
TARR, Edward H. - "Die Musik und die Instrumente der Charamela Real in Lissabon", in Forum Musicologicum II (Basler Studien zur Interpretation der Alten Musik). Basel: 1980
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