Suporte: Madeira de carvallho e/ou azinho (estrutura)
Técnica: Madeira entalhada, policromada e dourada; pintura a óleo; ferro forjado;
Dimensões (cm): Comp. 575 x Alt. 290 x Larg. 214
Descrição: Berlinda "rocaille" de caixa fechada, montada sobre quatro rodas e entre dois varais marginais aos quais se liga por meio de correias verticais de couro castanho.
Nos painéis das ilhargas representam-se, em "grisaille" e sob a forma de estátuas, as Quatro Estações do Ano: no alçado direito, a Primavera com, grinaldas de flores e o Inverno com cornucópia, assumindo o aspecto de uma mulher de idade adulta (respectivamente à frente e atrás) e no esquerdo, o Verão com espigas de trigo e foice e, por último, o Outono, sob a forma de um sátiro erguendo uma taça de vinho.
O interior da caixa é revestido de veludo azul cortado, apresentando no tecto um bordado a galão e franja de ouro (cantos e centro). Possui cortinas de tafetá de seda crua. O parsevão é forrado de couro castanho e pregaria.
A saia do banco do cocheiro é de veludo azul cortado, agaloado e franjado. O galão contorna lateral e inferiormente as quatro abas. Apresenta diversos rasgões paralelos no topo e nas abas, deixando ver o forro interno de estopa. Para além das lacunas, o veludo apresenta-se ainda esgarçado, quase sem pêlo e sem cor.
No exterior, acessório de viatura, varal de madeira, fixado na estrutura da viatura (tesouras) que fai a ligação/ encaixe (neste caso encaixe perpendicular) entre a viatura e a atrelagem dos animais, apenas na parelha do tronco (mais próxima da viatura).
No exterior, lança nº20. Acessório de viatura, varal de madeira, fixado na estrutura da viatura (tesouras) que fai a ligação/ encaixe (neste caso encaixe perpendiculares) entre a viatura e a atrelagem dos animais, apenas na parelha do tronco (mais próxima da viatura).
Origem/Historial: * Forma de Protecção: classificação;
Nível de Classificação: interesse nacional;
Motivo: Necessidade de acautelamento de especiais medidas sobre o património cultural móvel de particular relevância para a Nação, designadamente os bens ou conjuntos de bens sobre os quais devam recair severas restrições de circulação no território nacional e internacional, nos termos da lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro e da respectiva legislação de desenvolvimento, devido ao facto da sua exemplaridade única, raridade, valor testemunhal de cultura ou civilização, relevância patrimonial e qualidade artística no contexto de uma época e estado de conservação que torne imprescindível a sua permanência em condições ambientais e de segurança específicas e adequadas;
Legislação aplicável: Lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro;
Acto Legislativo: Decreto; N.º 19/2006;18/07/2006 *
Esta berlinda, habitualmente puxada por três parelhas, achava-se depositada, em 1875, nas Reais Cocheiras da Calçada da Ajuda, aí estabelecidas dois anos antes. Posteriormente (1904), foi transferida para o Depósito I da Repartição das Reais Cavalariças ou antigo Picadeiro Real, tendo integrado o núcleo primitivo de carros expostos no Museu dos Coches Reais.
Ao longo do século XIX, a berlinda foi usada em diversas cerimónias da Corte, a saber:
- Funeral do Infante D. Leopoldo, Maio de 1849
- Funeral da Infanta D. Maria, Fevereiro de 1851
- Festejos do casamento de D. Pedro V e D. Estefânia, 18-20 Maio de 1858
- Casamento de D. Luís I, Outubro de 1862
- 1ª Embaixada Marroquina, Maio de 1878
- Funeral de D. Fernando II, Dezembro de 1885
- Casamento de D. Carlos e D. Amélia de Orléans, 22 de Maio de 1886
- Embaixada Espanhola, Maio de 1886
- Funeral da Infanta D. Maria, Dezembro de 1887
- Funeral do infante D. Augusto, Outubro de 1889
- Funeral de D. Luís I, Outubro de 1889
- Aclamação de D. Carlos I, 28 de Dezembro de 1889
- Funeral da Imperatriz do Brasil, D. Maria Cristina, Janeiro de 1890
- 2ª Embaixada Marroquina, Dezembro de 1891
- Visita oficial de Afonso XIII de Espanha, Dezembro de 1903
- Visita oficial do Imperador Guilherme II da Alemanha, 27 de Março de 1905
- Estado de Gala para recepção do Núncio Júlio Tonti, na Estação da Avenida,12 de Dezembro de 1906
- Estado de Gala para conduzir o Núncio do Palácio da Nunciatura para o Real Paço das Necessidades, 31 de Dezembro de 1906
Esta berlinda foi erradamente designada por Coche de D. Pedro II (A) e, segundo o antigo verbete manuscrito, teria sido "(...) estreada no segundo casamento déste Monarcha com a Senhora Dona Maria Sophia de Neuburgo". Fazia parte de uma encomenda de nove berlindas, datada de 1751. Na primeira edição de postais ilustrados do M.N.C., era esta a legenda que acompanhava a berlinda francesa: "Coche - D. PEDRO II - (A) - Foi estreado pelo casamento déste rei com a Snrª Dona Maria Sophia de Neuburgo. Os apainelados a decoberto têm por assumpto - o da portinhola uma scena de mar: cujas águas Neptuno e Amphitrite percorrem em concha seguidos por um cortejo de Tritões e Occeanatides. Nos pequenos painéis lateraes divisam-se personagens em libação e colhendo trigo - allusão ao acto festivo do dito matrimónio."
Incorporação: Casa Real Portuguesa. Bens da Coroa.
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Exposições
D. Amélia, Uma Rainha um Museu
Lisboa, Museu Nacional dos Coches
23/5/2005 a 31/12/2005
Exposição Física
Les Secrets de la Laque française: le vernis Martin