Liteira
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Museu: Museu Nacional dos Coches
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Nº de Inventário: V 0067
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Super Categoria:
Arte
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Categoria: Meios de transporte
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Autor:
Autor desconhecido (-)
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Datação: 1790/1815
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Técnica: Madeira entalhada e policromada; pintura a óleo;
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Dimensões (cm): Comp. 375 (c/ varais) x Alt. 144 x Larg. 75
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Descrição: Liteira de caixa aberta à romana, fechada lateralmente por cortinas de damasco vermelho, e painel na face posterior e com janela elevatória na frente (com pega em tira no interior). No interior dois bancos forrados a damasco vermelho, capitonée, rematados por maçanetas de metal nas extremidades junto às portinholas, onde não existem pilares a suportar o tejadilho. Quatro pegas servem para abrir as cortinas, prendendo-as próximas das faces posterior e anterior. Tejadilho abaulado e forrado a damasco vermelho interiormente, suspenso apenas na face posterior e nos pilares que ladeiam a janela da frente. Exteriormente a liteira é totalmente forrado a couro negro pintado e decorado.
Painel traseiro dividido em dois painéis, no superior ao centro armas encimado por friso ao gosto neoclássico com pequenos medalhões monocromáticos com figuras campestres a negro sobre amarelo. O painel inferior, encimado por um friso similar ao anterior, tem ao centro uma figura mitológica (velho com barbas vestido com folhagens) reclinada sobre um cântaro despejando água (provavelmente simbolizando um rio) com uma enxada ao ombro. Na portinhola direita monograma do proprietário, cercado por dois anjos, um segurando uma coroa. Na portinhola esquerda, o mesmo monograma coroado cercado por dois guerreiros e arranjo decorativo com objectos de índole militar (bandeiras, uma alabarda, um canhão, um tambor e uma espingarda).
Os painéis que ladeiam os bancos encontram-se decorados, cada um, com uma figura campestre pintada a claro sobre o fundo negro.
Varais encontram-se fixos à caixa através de dois parafusos presos nas peças que fazem as arestas da liteira e nas ilhargas das portinholas. Varões metálicos ligam a base da liteira aos varais estruturando as peças de suporte.
"Exemplar de factura provinciana do 1º terço do século XIX. Apainelados revestidos de couro negro, com singelas composições de assunto alegórico ou decorativo. No alçado traseiro, tem o escudo com as armas do coronel de milícias de Viana do Castelo, António de Melo da Gama Araújo Azevedo, da Casa Garrida (Ponte de Lima), cujas iniciais figuram nos medalhões que ornam as portinholas. Forrada interiormente de damasco vermelho." citação de proveniência desconhecida.
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Origem/Historial: Esta liteira pertenceu ao Conde da Barca, António Araújo de Azevedo, diplomata e político do tempo de D. João VI. Nascido em Ponte de Lima a 14 de Maio de 1754, este nobre repartiu os seus estudos pelas cidades de Coimbra e Porto, tendo elegido as disciplinas de Matemática e História, que lhe deram acesso aos meios cultos da vida pública. O seu ingresso na carreira diplomática fez-se pela mão do Duque de Lafões, tendo ocupado os cargos de ministro e embaixador extraordinário junto da corte de Haia. Redigiu e negociou o tratado de paz com a França, em 1797, tratado esse que não seria ratificado em virtude das intrigas políticas encabeçadas pelo ministro da Marinha, D. Rodrigo de Sousa Coutinho.
Depois de uma breve incursão pela Alemanha e pela corte de S. Petersburgo, recebeu a pasta dos Estrangeiros e da Guerra (1804) e, dois anos mais tarde, ascendeu ao Ministério do Reino. Acérrimo defensor da transferência da Corte Portuguesa para o Brasil, acompanhou a Família Real a bordo do "Medusa", levando consigo uma preciosa livraria que hoje faz parte do espólio da Biblioteca do Rio de Janeiro.
Afectado pela mudança de ministério, dedicou-se então à floricultura e aos trabalhos de índole científica. Em 1814 foi nomeado Ministro da Marinha e, paralelamente ao desempenho do cargo, promoveu o desenvolvimento das manufacturas e da agricultura em solo brasileiro, onde também estabeleceu uma Impressão Régia e fundou a Academia de Belas-Artes. Faleceu no Rio de Janeiro, em 21 de Junho de 1817, sem deixar descendência.
Contando quase sempre com o apoio incondicional de D. João VI, ficaram célebres as suas disputas com a Cúria Romana (1817-1818), nomeadamente na rejeição da Companhia de Jesus, restabelecida por ordem de Pio VII. O Conde da Barca chegou mesmo a sugerir ao rei que, por direito próprio, decretasse a abolição do Santo Ofício nos seus estados, mas o monarca português não ousou ir tão longe, embora secundasse na íntegra a posição do seu primeiro ministro no caso da eleição dos bispos.
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Incorporação: Conde de Monte-Real.
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Bibliografia
- KEIL, Luís - Catálogo do Museu Nacional dos Coches, 1964,4ª ed.. Lisboa: 1964