Descrição: Painel de azulejos em faiança polícroma: azul, verde e manganês sobre branco. Fragmento de um painel de maiores dimensões, de temática religiosa, representando duas flores polícromas (verde, manganês) numa paisagem e intercalado por uma fonte. Na flor do lado esquerdo do observador a representação da Ressurreição. Ao centro, num plano mais elevado, Cristo observa os díscipulos e a sua mãe ajoelhados, na base da composição. A segunda flor representa o Pentecostes. Ao centro, num plano mais elevado, a figura de Maria rodeada pelos apóstolos, sobre os quais descem as chamas do Espírito Santo; este figura sob a Virgem.
Origem/Historial: Um dos aspectos que de imediato sobressai nestas representações é a invulgar presença de grandes flores, simulando rosas, cujos caules e folhas surgem em verde e as pétalas em púrpura, contrastando vivamente com a restante composição a azul. A introdução desta paleta torna-os caso único no quadro da azulejaria portuguesa. Neste período surgiam por vezes apontamentos a amarelo, mas a presença destas cores e de forma tão assertiva não tem paralelo com nada do que se conhece nesta época.
Poucos conjuntos de azulejos poderão equiparar-se à profundidade mística do núcleo onde se integrava a cena aqui apresentada. A criação de um luxuriante jardim que envolveria o observador, onde brotavam gigantescas rosas tratadas de modo a parecerem próximas do real, procurava surpreender e subtraír o devoto do tempo presente, colocando-o no Paraíso terrestre, um espaço protegido e simultaneamente sagrado. Aqui era possível alcançar a beatitude, pois estava-se no local que antecedeu o Pecado Original, um espaço perdido onde se procura desesperadamente regressar.
Este local seria alimentado por uma fonte inesgotável, da qual brotam os quatro Rios que dividem a Terra e que correspondem aos pontos cardeais. Simbolicamente essa fonte é a imagem de Cristo, cujo sangue redime o pecado e garante a renovação.
Vide Bibliografia: Alexandre Pais in A Água no azulejo português do século XVIII
Incorporação: Desconhecido (Fundo antigo)
Centro de Fabrico: Lisboa, Portugal
Bibliografia
A Água no azulejo português do século XVIII, Museu da Água - Mãe d'Água das Amoreiras, Lisboa, 18 de Setembro de 2014 a 30 de Junho de 2015, MNAz, EPAL, Museu da Água, 119 págs.