Descrição: Painel de azulejos de composição figurativa em faiança monocromática: azul sobre branco. Painel historiado de 7x22 azulejos, que representa uma cena cortesã num jardim, centrado por uma fonte barroca, ladeada por duas estátuas, Neptuno com o tridente e Amphitrite (?). De um lado e do outro desta grande fonte existe um par de figuras de corte, vestindo trajes de época. O enquadramento é formado por elementos barrocos aplicados a estruturas arquitetónicas, decoradas com motivos vegetalistas e máscaras.
Origem/Historial: Integrando o que se convencionou denominar como o período da Grande Produção, o qual se pode situar cronologicamente no segundo quartel do século XVIII, este painel é um excelente exemplo de uma temática de género, neste caso ligada a uma vivência galante.
A representação do jardim barroco, com as suas fontes e canteiros ordenados, onde se movimentam personagens ocupadas em jogos de sedução é uma constante da azulejaria deste período. Os painéis com estas representações estavam, normalmente, colocados em espaços abertos para o exterior, muitas vezes para jardins, evocando essa Natureza contida a alegria da vida num universo ordenado. Os jardins eram locais que propiciavam maior liberdade nos jogos galantes afastando os seus participantes do convencionalismo dos salões. Por isso, os jardins são a representação por excelência, de uma liberdade ansiada por um grupo social aprisionado em gestos e atitudes definidos, que buscava formas seguras de maior autonomia sem perder a segurança a que se habituara.
Artistas do período utilizaram imagens dos jardins para demonstrar este território proibido, mas apetecido. Estas representações preenchiam, igualmente, um certo pendor de indiscrição, que também caracteriza o período, o observador que inesperadamente interrompe um momento de sedução. Este sentido é um pouco acentuado neste painel pelo emolduramento semelhante ao rasgar de uma janela, com as suas piltastras laterais simulando pedra e os emolduramentos evocando talha. No entanto, nessa perspectiva de indiscrição, este painel foge às imagens que habitualmente associamos aos jardins barrocos, pois nele só encontramos senhoras que passeiam, trocando confidências, sem nenhum homem a perturbar a placidez da paisagem.
A sumptuosa fonte, próxima das que gravou Jean Lepautre (1618-1682), impõe-se marcando o espaço e o próprio painel, assumindo-se como a verdadeira protagonista da representação. As figuras que nela se encontram, imagens escultóricas de personificação de fontes naturais da mitologia clássica, tal como o demonstram os seus atributos, acentuam a dimensão feminina do espaço.
Incorporação: Desconhecido (Fundo Antigo)
Centro de Fabrico: Lisboa, Portugal
Bibliografia
SIMÕES, João Miguel dos Santos - Azulejaria em Portugal no século XVIII. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1979
A Água no azulejo português do século XVIII, Museu da Água - Mãe d'Água das Amoreiras, Lisboa, 18 de Setembro de 2014 a 30 de Junho de 2015, MNAz, EPAL, Museu da Água, 119 págs.
Exposições
A Água no azulejo português do século XVIII
Museu da Água - Mãe d'Água das Amoreiras, Lisboa
18/9/2014 a 30/6/2015
Exposição Física
"The Land of the Glazed Cities. 500 Years of Azulejo in Portugal"