Cegonha e serpente
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Museu: Museu Nacional do Azulejo
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Nº de Inventário: MNAz 153 Esc
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Super Categoria:
Arte
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Categoria: Escultura
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Autor:
Ferreira, António e Dionísio (atribuído) (Escultor de barro)
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Datação: 1700/1730
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Suporte: Barro cozido (terracota)
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Técnica: Modelação
Policromia a frio: pintura a têmpera ou técnica mista (óleo e ovo)
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Dimensões (cm): Alt. 27 x Larg. 14 x Prof. 1
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Descrição: Escultura: escultura de vulto. Conjunto de figuras.
Cegonha de asas abertas (já sem cabeça), encostada a um pequeno rochedo, baixando a cabeça na direcção de uma serpente que rasteja pela terra.
Notas iconográficas:
Hoje é impossível de situar, mas este é um elemento chave para a compreensão do núcleo do presépio. O conjunto alegórico tem correspondência em quase todos os presépios executados ao longo do século XVIII. Colocados discretamente, estes elementos assemelhavam-se a uma assinatura, quase imperceptíveis para o observador menos atento mas importantes quando se pretendia descodificar a intenção que levou à criação de cada presépio.
A cegonha simboliza a Piedade Filial e a Misericórdia. Intitulada ophiomachus, a inimiga da serpente, é a mais feroz opositora deste réptil, combatendo-o, matando-o e alimentando-se dele sem ser afectada pelo seu veneno. Sendo por isso considerada amiga dos homens, a cegonha representa no simbolismo cristológico a bondade do Salvador no seu incessante combate contra os demónios e os vícios.
Bibliografia utilizada : O Presépio da Madre de Deus (2003)
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Origem/Historial: Forma de Protecção: classificação;
Nível de Classificação: interesse nacional;
Motivo: Necessidade de acautelamento de especiais medidas sobre o património cultural móvel de particular relevância para a Nação, designadamente os bens ou conjuntos de bens sobre os quais devem recair severas restrições de circulação no território nacional e internacional, nos termos da lei nº 107/2001, de 8 de Setembro e da respectiva legislação de desenvolvimento, devido ao facto da sua exemplaridade única, raridade, valor testemunhal de cultura ou civilização, relevância patrimonial e qualidade artística no contexto de uma época e estado de conservação que torne imprescindível a sua permanência em condições ambientais e de segurança específicas e adequadas;
Legislação aplicável: Lei nº 107/2001, de 8 de Setembro;
Acto Legislativo: Decreto; Nº 19/2006;18/07/2006
O presépio (no qual se integra esta peça) provém do antigo Convento da Madre de Deus (hoje MNA).
Foi colocado originalmente num espaço próprio conhecido por Sala do Presépio, contíguo à Capela de Santo António, no segundo piso do edifício do convento ou casa do antecoro.
Entre as possíveis circunstâncias em que se situou a encomenda do presépio poderá ter estado um programa de glorificação da Virgem, no qual se enquadra a recepção de dádivas vindas de Roma, em 1731, sob a forma de relíquias várias relacionadas com a Virgem, incluindo, por exemplo, uma tábua do presépio ou berço.
Entre os encomendantes prováveis são apontados D. João V e o padre José Pacheco, ou ainda D. Pedro II ou D. Catarina de Bragança.
A sua função inicial relacionava-se com a celebração da Natividade realizada em ambiente de clausura.
A função actual de objecto museológico decorreu da sua incorporação pelo Estado após o decreto de extinção das ordens religiosas que se prolongou neste caso, por se tratar de um convento feminino, até à morte da última freira, ocorrida em 1871.
Não se sabe exactamente quando terá sido desmontado, mas sabe-se que quando foi incorporado no acervo do MNAA (ou Museu Nacional de Belas Artes e Arqueologia até 1884) já estaria desmontado.
A primeira exposição museológica de algumas das suas peças isoladas do conjunto ocorreu em 1882 na Exposição de Arte Ornamental Portuguesa e Hespanhola (não foi o caso desta peça).
Existiu um projecto de montagem do presépio na sua casa original nos anos 80 ( onde entretanto se instalou o MNA) , motivando o regresso do conjunto escultórico ao MNA, em regime de depósito, mas este projecto não teve continuidade por falta de bases para uma correcta montagem das peças dispersas.
Prevê-se uma remontagem do presépio em 2004 no local original da Sala do Presépio pela arquitecta Andreia Galvão.
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Incorporação: Por despacho de 31/7/2009, do Director do Instituto dos Museus e da Conservação, foi aitorizada a transfeência a título definitivo, do MNAA para as colecções do MNAz.
Estava em depósito no MNAz desde 1985.
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Centro de Fabrico: Lisboa, Portugal
Bibliografia
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