Técnica: Azul cobalto aplicado com pincel sobre a pasta crua, revestida em seguida de vidrado.
Dimensões (cm): Alt. 7,8 x Diâm. 33,7; 18 (base)
Descrição: Prato executado em porcelana branca e espessa, com pequenas manchas ferruginosas, coberta de vidrado levemente azulado, que aderiu mal à pasta em certos pontos. A paragem do vidrado é assinalada por duas linhas cor de laranja. Este prato fundo, circular, com caldeira arredondada e aba levantada, repousa sobre um pé ligeiramente inclinado para o interior, cuja extremidade sem revestimento se tornou rosada em contacto com a atmosfera do forno. A decoração é em vários tons de azul cobalto, habilmente contrastados, sob o vidrado. Na frente, o fundo delimitado por um duplo círculo, donde partem cabeças de "ruyi" com pé, é preenchido por dois galos afrontados, num terraço, flanqueando a familiar rocha do jardim chinês por detrás da qual se erguem duas grandes peónias com folhas. Auspiciosos são também os símbolos enlaçados por fitas ondulantes que decoram a aba - o losango (um dos «Oito Objectos Preciosos», símbolo de vitória e sucesso), o rolo de pintura (emblema dos letrados), a cabeça de "ruyi"(também emblema de longevidade) - e alternam com pequenos ramos de pessegueiro, quer com frutos quer com flores. O tardoz, além do enrolamento no pé, retoma dois temas aparecidos desde o início do periodo Jiajing, muito característicos desta época: na caldeira, grandes ramos bifurcados (3) com duas aves poisadas e no reverso da aba, longas hastes em S com flor (5) central estilizada . A base, convexa e estriada, ostenta uma lebre branca, símbolo de imortalidade, delineada a azul, marca pictural comum aos reinados de Jiajing e de Longqing (1567-72).
O galo tem a virtude de afastar o demónio. Está presente, quer nos casamentos, como símbolo de união, quer na morte, onde o galo branco figura para desejar boa sorte na vida do além. O galo vermelho protege do incêndio e representa também o sol. Jogando com a homonímia - "ji",galo, e "ji", boa sorte - conclui-se que o galo é um animal de bom augúrio.
Conhecem-se dois pratos com a mesma marca, decoração e dimensões muito idênticas, um na "sala das porcelanas" do Palácio de Santos e outro no Topkapi Saray Museum de Istambul.
Origem/Historial: A peça foi adquirida a Pedro Silva, em 3/1/1947, por 1.500$00 (mil e quinhentos escudos). Em 1965, as Finanças atribuiram-lhe o valor de 10.000$00(dez mil escudos).
Incorporação: Por testamento em 31 de Julho de 1964.
A peça foi incorparada em 18/8/67 por auto de entrega e cessão de bens ao Estado.
Centro de Fabrico: Fornos de Jingdezhen
Bibliografia
BEURDELEY, Michel; Raindre, Guy - La porcelaine des Qing. «Famille verte» e « Famille Rose»,1644-1912. Fribourg: office du Livre, 1986
KRAHL, Regina; Erbahar,Nurdan - Chinese Ceramics,in the Topkapi Saray Museum (3 vols.). London: Sotheby's Publications, 1986
LION-GOLDSCHMIDT, Daisy - Arts Asiatiques, « Les Porcelaines Chinoises du Palais de Santos ». Paris: Nouvelle Edition, 1988
PINTO DE MATOS, Maria Antónia - A Casa das Porcelanas. Cerâmica chinesa da Casa-Museu Dr.Anastácio Gonçalves. Londres: Phipip Wilson/IPM, 1996
PINTO DE MATOS, Maria Antónia (Coord.) - O Exótico nunca está em casa? A China na faiança e no azulejo portugueses (séculos XVII e XVIII). The Exotic is never home? The presence of China in Portuguese faience and azulejo (17yh-18th centuries). Museu Nacional do Azulejo. 2013
AAVV, Le Bleu des Mers. Dialogues entre la Chine, la Perse et l'Europe, Fondation Baur, Musée des Arts d'Extreme Orient, Continents Editions, Italie, Novembro 2017