Descrição: Composição em óleo sobre madeira de uma figura feminina (Mulher da Bretanha), retratada a corpo inteiro, voltada levemente para o lado esquerdo, encontrando-se de braços cruzados. De cabeça coberta por uma touca branca que deixa entrever as madeixas de cabelo castanho na zona frontal, a mulher bretã, enverga vestido negro comprido, sobressaindo as mangas da camisa esbranquiçada. Segura no seu braço esquerdo um cesto de verga escuro.
A figura representada parecendo alhear-se da presença do próprio pintor, que a retrata como ícone, concepção que a lança necessariamente para o anonimato da sua identidade e para a recriação conceptualmente mais abrangente, da pintura de costumes. Neste exemplo, sob um fundo de uniformidade cromática, o pintor retrata esta camponesa, criada como se a individualizasse a partir de um registo, mais amplo, de uma paisagem, num processo mecânico de “zoom”. A figura recria-se plasticamente nos contrastes cromáticos das densas manchas negras, em tênue sugestão de “aplats”, e da volumetria das pontuações de branco, intencionalmente concentradas na zona superior da composição.
A mulher emerge nesta convergência, e afirma-se, na sua individualidade, sobre um fundo uniforme nas cores, mas que se impõe visualmente na força da pincelada.
Uma composição realizada, por Silva Porto, com toda a certeza, a partir de apontamentos extraidos das suas viagens pela provincia francesa, captando as cenas mais representaivas dos sucessivos motivos com que se ia cruzando. Norteado por preocupações à estética naturalista, o pintor repinta a figura a partir da observação directa do motivo, na sua funcionalidade e vivência quotidianas.
Esta obra foi criada durante o pensionato de estudo em França, entre 1873 e 1879, autenticada pelo carimbo do “Leilão Siva Porto de 1893”, no ano da morte do pintor.
Origem/Historial: Comprada, por intermédio do Salão Silva Porto em Setembro de 1945 pelo valor de 3.250$00 (três mil duzentos e cinquenta escudos) dos quais foram só 3.000$00 (três mil escudos) para o vendedor Almeida Brandão. Vinha metido em "moldura pobre de madeira natural". Tem colado num canto uma etiqueta com o nº186, talvez o do lote no leilão do espólio. Em 1965, as Finanças atribuiram-lhe o valor de 20.000$00 (vinte mil escudos).
Incorporação: Por testamento de 31/07/1964
Bibliografia
AAVV - Pintura Portuguesa da Colecção Anastácio Gonçalves. Lisboa: 1979