Técnica: Prata e ouro fundidos, cinzelados, relevados e incisos; gemas lapidadas e polidas, esmaltes
Dimensões (cm): Alt. 38 x Larg. 21 x Diâm. base 13
Descrição: Cruz de assento, de braços e topo cortados em diagonal, que se insere numa base em forma de meia calote, rodeada por uma cintura muralhada com guaritas. A cruz de secção pentagonal, com a face principal mais larga decorada de pedrarias (22 granadas, 2 diamantes e 2 esmeraldas), mostra a face posterior com decoração imitando os veios da madeira. No topo inclui uma filactera com o monograma INRI, presa por um cravo, semelhantes a outros dois colocados nas extremidades dos braços. Na intersecção dos eixos, um medalhão circular em ouro coberto por um vidro, é decorado com quatro conjuntos de pétalas esmaltadas a verde e branco, albergando dois fragmentos em cruz do Santo Lenho. Toda a cruz é debruada na face principal por dois encordoamentos. A base é decorada em relevo por folhas de cardos inseridas em círculos e por pentafóleos inscritos em cercaduras peroliformes.
Origem/Historial: Esta peça tem a sua base com um cariz fortemente simbólico pois a meia calote coberta por folhas relevadas simboliza o monte do Gólgota com a cruz no topo como referência do Calvário e as granadas lapidadas e engastadas como se foram gotas de sangue aludindo à morte de Cristo. Mas talvez o mais interessante será notar a amurada que cerca a base da cruz numa clara referência às muralhas de Jerusalém.
A mais antiga referência que possuimos sobre esta cruz data de 1506, onde é mencionada entre os bens deixados por D. Beatriz ao Convento de Nossa Senhora da Conceição na instituição da capela-mor do convento para morada fúnebre do Infante D. Fernando e dos seus filhos D. Afonso, D. Diogo e D. Dinis.
É possível que o Santo Lenho que esta cruz encerra, seja o mesmo que o Infante D. Henrique usava sempre consigo, relíquia que lhe tinha sido mandada por D. Filipa de Lencastre.
Como é sabido, o Infante D. Henrique perfilhou D. Fernando e nomeou-o seu herdeiro universal através do testamento datado de 1436, logo confirmado pelo rei D. Duarte, e, mais tarde, em 1451, por D. Afonso V.
Se este testamento tivesse sido mesmo cumprido, não haveria grandes dúvidas de que o Santo Lenho seria o mesmo. No entanto, no próprio ano da sua morte, em 13 de Outubro de 1460, o Infante lavrou outro testamento, em que nomeou seu testamenteiro e herdeiro o próprio rei, deixando em ressalva "o de que fiz herdeiro o Senhor Infante D. Fernando". Como não se conhecem inventários completos dos bens testamentados, não se pode ter a certeza de quem ficou com o quê.
Baseando-nos em Gomes Eanes de Zurara na sua "Crónica da Tomada de Ceuta" (cap. 41), o Santo Lenho aquando da morte do Infante foi entregue ao rei, mas não temos a certeza se terá permanecido na Casa Real ou se foi entregue a D. Fernando, a quem D. Afonso V doou parte do espólio que herdara do Infante.
A peça foi incorporada no MNAA em 1882 após a extinção do Convento da Conceição de Beja.
Inventário do Museu Nacional de Arte Antiga. Colecção de Ourivesaria. Do Românico ao Manuelino, IPM, 1995. pp. 100-101.
* Forma de Protecção: classificação;
Nível de classificação: interesse nacional;
Motivo: Necessidade de acautelamento de especiais medidas sobre o património cultural móvel de particular relevância para a Nação, designadamente os bens ou conjuntos de bens sobre os quais devam recair severas restrições de circulação no território nacional e internacional, nos termos da lei n.º 107/2001, de 8 Setembro e da respectiva legislação de desenvolvimento, devido ao facto da sua exemplaridade única, raridade, valor testemunhal de cultura ou civilização, relevância patrimonial e qualidade artística no contexto de uma época e estado de conservação que torne imprescindível a sua permanência em condições ambientais e de segurança específicas e adequadas;
Legislação aplicável: Lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro;
Acto Legislativo: Decreto; N.º 19/2006; 18/07/2006 *
Incorporação: Mosteiro de Nossa Senhora da Conceição, Beja.
Centro de Fabrico: Não determinado
Bibliografia
COUTO, João; A.M.Gonçalves - "A Ourivesaria em Portugal". Lisboa: Livros Horizonte, 1960
VASSALO E SILVA, Nuno - " A Igreja como Tesouro", in História de Arte Portuguesa(dir. Paulo Pereira), vol. I. Lisboa: Circulo de Leitores, 1995
Exposições
Exposição Retrospectiva de Arte Ornamental Portugueza e Hespanhola
Lisboa
Exposição Física
Os Descobrimentos Portugueses e a Europa do Renascimento.XVII Exp.Europeia de Arte,Ciência e Cultura do Conselho da Euro
Lisboa, Núcleo do Museu Nacional de Arte Antiga,"Abre-se a Terra em Sons e Cores".