Descrição: O pano representa a transposição do exército de Alexandre o Grande do rio Granico (na atual Turquia) e o início da batalha contra as forças de Dario III, o rei dos reis do império Aqueménida.
Alexandre à frente das tropas, precipita-se sobre o exército de Dario; enquanto Rhoesaces e Spthridates, generais persas, o atacam; a seu lado, Clitus levanta o machado sobre Spthridates, no momento em que este vai descarregar um golpe de espada sobre a cabeça de Alexandre.
A composição capta o momento em que os dois exércitos se confrontam, combatendo a cavalo, enquanto no plano inferior, decorre a árdua transposição do rio Granico, com soldados que lutam contra a forte corrente.
A cercadura é preenchida por enrolamentos de folhas de acanto mimetizando uma moldura de talha dourada.
A barra inferior foi cortada.
Na zona inferior esquerda, nas costas de um homem, possui o carimbo “REST. J. TABORDA” [ver Origem-Historial].
No verso, tem inscrito no forro "S. Vicente 63” e um carimbo não identificado.
Origem/Historial: Transferência do Paço de São Vicente de Fora, 1911.
“A armação da História de Alexandre pertenceu à Mitra Patriarcal, encontrando-se no Paço de São Vicente de Fora, e foi incorporada no Museu das Janelas Verdes em 1911. (…) Em 1915 estes panos foram em depósito temporário para o Museu Nacional de Arte Contemporânea, dando novamente entrada no Museu das Janelas Verdes em 1919.” [Mendonça, 1940, p. 65-66. Ver Bibliografia].
Na zona inferior esquerda, nas costas de um homem, possui o carimbo “REST. J. TABORDA”, que marca todas as tapeçarias provenientes do Paço Patriarcal de São Vicente que foram alvo da campanha de restauro realizada por João Taborda de Magalhães a pedido do cardeal D. António Mendes Bello. Esta campanha de restauro, decorreu provavelmente entre os anos de 1908 e 1909, porque surge descrita pelo próprio João Taborda num artigo publicado no início de 1910, que apenas refere que a intervenção decorreu no próprio Paço entre os meses de abril e junho.
A série original de tapeçarias da História de Alexandre, em que se baseia a série do MNAA, era composta por 5 panos e foram tecidas a partir das pinturas que Charles Le Brun (1619-1690) executou para Luís XIV. As pinturas foram transpostas para cartões e foram tecidas pela Manufacture Royale des Gobelins entre os anos de 1680 e 1687.
A série era composta pela Tenda de Dario (a primeira das pinturas a ser encomendada por Luís XIV em 1661), seguida da Batalha de Granico (ou passagem do Granico), A Batalha de Arbela, A Entrada triunfal na Babilónia e a Derrota de Porus, pintadas por Le Brun entre 1661 e 1668. A série de tremendas dimensões, visava glorificar Alexandre e o rei francês, associando-os pelas virtudes que ambos partilhavam.
Na Manufacture foram realizados duas séries de cartões um para baixo liço e outro para alto liço; durante este processo a série foi ampliada de 5 panos para doze, com o acrescento de pequenas cenas que ladeavam os panos maiores.
Entre 1664 e 1668 foram produzidas 4 séries de alto liço, e outras 4 de baixo liço, todas para a casa real francesa que as foi oferecendo como prendas diplomáticas.
Posteriormente, numerosas séries foram tecidas em Aubusson, Oudenaarde e Bruxelas. Entre 1676 e o início do século XVIII, Jan-François van der Hecke, Gerard Peemans, e Marcus de Vos e Judocus de Vos, Jan Franz van der Borcht, e Peter van den Hecke reproduziram em tapeçaria as pinturas de Le Brun a partir das gravuras realizadas por Girard Audran e Gérard Edelink [Knothe, 2017 e Brosens, 2017, ver Bibliografia].
A série do MNAA é muito semelhante à série da História de Alexandre que se encontra no Palácio de Hampton Court (Charles Le Brun (1619-90) - The History of Alexander), tecida na oficina de Judocus de Vos, em Bruxelas no início do século XVIII. As tapeçarias do MNAA não possuem marca de tapeceiro, que provavelmente se encontrava nas barras inferiores, que foram cortadas talvez aquando do restauro de 1910 por se encontrarem muito degradadas.
Da série original, no MNAA apenas foram incorporadas a Batalha de Granico (MNAA inv. 36 tap), A Tenda de Dario (MNAA inv. 37 tap) e Alexandre e o seu cavalo Bucéfalo (MNAA inv. 35 tap).
Histórico de conservação:
Foi realizada uma intervenção de higienização e acondicionamento a 20.05.2024.
Incorporação: Transferida do Paço de S. Vicente de Fora, em 1911.
Centro de Fabrico: Flandres, Bruxelas
Bibliografia
MENDONÇA, Maria José de - Inventário de Tapeçarias Existentes em Museus e Palácios Nacionais. Lisboa: I.P.P.C., 1983
BROSENS, Koenraad (2002). “Brussels Tapestry Producer Judocus de Vos (1661/62-1734)—New Data and Design Attributions” in Studies in the Decorative Arts, Vol. 9, No. 2 (SPRING-SUMMER 2002), pp. 58-86.
BROSENS, Koenraad (2012) 'Revisiting Brussels Tapestry, 1700–1740: New Data on Tapissiers Albert Auwercx and Judocus de Vos' inTextile History 43, p. 183–199.
BROSENS, Koenraad (2007). "Flemish Production, 1660-1715" in Tapestry in the Baroque, Threads of Splendor, Metropolitan Museum of Art, p. 441-453.
KNOTHE, Florian (2007). "The Battle of Granicus" in in Tapestry in the Baroque, Threads of Splendor, Metropolitan Museum of Art, p. 365-373.