Técnica: Madeira de mogno com pintura acharoada a vermelho e dourada. Interior em casquinha pintada de vermelho. Tampa forrada de veludo verde, bem como o topo do expositor.
Dimensões (cm): Alt. 32 x Larg. 31,5 x Prof. 24
Descrição: Estojo de faqueiro de forma rectangular, tampa rampada cortada a dois terços de altura da peça; frente saliente e ondulada; ilhargas e costas rectas. O interior, à excepção da frente, é revestido de casquinha e pintado de vermelho e a tampa é forrada a veludo verde. Contém um expositor móvel formado por placas sobrepostas e unidas, forrado no topo de veludo verde e destinado ao encaixe dos talheres dispostos em várias ordens. Neste caso, ... Ver maisos talheres que continha eram de épocas diferentes.
Exteriormente sobre um fundo vermelho, desenrolam-se temas decorativos a dourado e negro. Na tampa, um par trajando à europeia: à esquerda, a figura feminina empunha um leque, tendo à sua direita o personagem masculino com quem conversa, ao fundo arvoredo e rochas com casario de tipo oriental. Note-se o cuidado aplicado nos diversos pormenores do vestuário, embora o traje feminino revele um certo anacronismo em relação ao traje masculino reportável ao final do século XVII.
Na frente e ilhargas repete-se o mesmo tipo de casario e paisagem.
As costas são vermelhas sem mais decoração. Todas as superfícies decoradas são emolduradas por uma faixa larga dourada, debruada a negro.
As próprias ferragens utilizadas adquirem valor decorativo: fechadura com espelho oval recortado e vazado e duas argolas laterais fixas em placas com forma de flor, ferrolho de nariz. Pés de atarraxar em forma de bolacha e igualmente em latão.
Origem/Historial: È já referida na documentação do século XVII caixas para guardar facas, de onde lhe advém a vulgar designação de faqueiro, contudo o seu uso passa a ser extensivo a outros talheres no século XVIII, como se pode ver pelo formato e dimensões das 47 aberturas deste expositor.
È ainda flagrante exteriormente, a sua ligação formal com as cómodas papeleiras da época.
A pintura acharoada consiste geralmente numa preparação coberta por... Ver mais um fundo pigmentado, (predominando o verde, vermelho ou azul nas peças portuguesas), com decoração, nalguns casos relevada, usando-se o ouro e contornando-se quase sempre a negro para dar realce, sendo depois envernizada e polida imitando as peças lacadas.
Em Portugal, e no resto da Europa o apreço e fascínio das peças em laca japonesa e chinesa foram testemunhados desde muito cedo em relatos de viajantes tornando-se essas peças, objecto de colecção, troca de presentes reais ou parte integrante de enxovais de princesas como no caso do enxoval de Catarina de Bragança aquando do seu casamento com Carlos II de Inglaterra.
Embora as encomendas de peças em laca oriental (muitas vezes, referidas indiscriminadamente nos inventários como "indianas"), ou de peças executadas na Europa para lacar na China ou no Japão fossem avultadas, a procura revelava-se sempre superior, originando em vários países europeus, a partir do século XVII, o aparecimento de diversos processos de imitação da laca, acompanhados do respectivo formulário decorativo oriental (indiano, persa, chinês ou japonês) - as chinoiseries- que se introduziram de forma ecléctica, profunda e persistente em todas as expressões artísticas.
Em Portugal, a par do escasso mobiliário documentado com segurança como de execução nacional, e que necessita um levantamento e um estudo aprofundado, misturam-se e sobrepõem-se durante quase todo o século XVIII, as numerosas importações de peças de laca inglesa "especialmente concebidas para o mercado espanhol e português" como se específica num anuncio de um leilão, realizado em 1751 (Symonds 1941).
C.B.S.
PINTO, Maria Helena Mendes; SOUSA, Conceição Borges de - Roteiro da exposição de mobiliário português do Museu Nacional de Arte Antiga. Lisboa: IPM, 2000
SOUSA, Maria da Conceição Borges, Mobiliário Português. Lisboa: Museu Nacional de Arte Antiga/Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2019