LEQUE DE FOLHA DOBRÁVEL,

  • Museu: Museu dos Biscainhos
  • Nº de Inventário: 3649 MB
  • Super Categoria: Arte
  • Categoria: Traje
  • Autor: Autor desconhecido (Artesãos flabelístas chineses integrados em cadeia produtiva)
  • Datação: 1821/1850
  • Suporte: Do bordado: Tecido de seda gomada e plissada.
  • Técnica: Bordado a fios de seda frouxa em policromia.
  • Dimensões (cm): Comp. Vareta/guarda 29,9 x Alt. 29,9 x Larg. 53,6
  • Descrição: LEQUE DE FOLHA DOBRÁVEL, "Zhe shan", constituído por uma armação de vinte varetas e por duas guardas, em madeira lacada e dourada, com folha de tecido de seda bordada, rebite e argola metálicos de que se suspendem cordão e borla de fio de seda de cor pérola. Anverso: a folha é em seda branca gomada, plissada e bordada a fio de seda frouxo polícromo, em pontos cheio e de matiz e em tons pastel nas cores branca, azul acinzentado, castanho e preto, entre outros, desenhando duas borboletas esvoaçando sobre ramos floridos. Aqueles insectos são na China símbolo da felicidade conjugal, da alegria, do Verão e emblema de longevidade. As varetas do colo são em madeira lacada a negro com ornamentação pintada a cor de ouro com representação nas das guardas das milenares moedas chinesas designadas de sapecas (zhus), cujo recorte periférico circular exterior simboliza o céu e, em que o quadrado central interior, representa a terra, e no conjunto da armação - guardas e colo -, o padrão repetitivo de pintura de borboleta e motivos geométricos estilizados. Reverso: a armação repete o motivo da outra face ao nível do colo e das costelas das varetas que se apresentam visíveis mantendo o tratamento da madeira em laca negra com leves elementos dourados. O bordado e a técnica da laca atingiram na China um elevado nível de realização e embora os produtos para exportação fossem tradicionalmente inferiores aos de consumo interno é inegável a qualidade do objeto no bordado da folha assim como no lacado da armação. O conjunto da ornamentação da peça ilustra a milenar tradição chinesa de revestir todos os objectos de um carácter auspicioso, em que os elementos mitológico-religiosos, figurativos, animais ou vegetais associam a uma expressão estética uma intenção de mensagem positiva em forma de uma simbologia. A laca asiática que provavelmente caracterizaria os primeiros leques a entrarem na Europa no século XVI pela via oceânica através da importação portuguesa, desde os contactos iniciais terá encantando os ocidentais levando os flabelistas a buscarem um efeito estético similar, dada a impossibilidade de produção do lacado oriental concretizável estritamente a partir de um suco resinoso extraído de árvores Ch'i-shu exclusivas de climas tropicais específicos. O leque de folha dobrável aparece no contexto chinês associado ao uso masculino e esta tradição é ilustrada numa peça cerâmica produzida pelo Império do Meio, datável do século XIX e pertencente ao Museu dos Biscainhos, identificada com o nº inventário 458 MB. Glossário| Anverso| Face principal do leque. Argola|Peça semi-circular geralmente metálica, lisa ou com ondulação e tratamento decorativos, fixada junto das duas extremidades do rebite por pequeno aro. Serve para a suspensão do próprio leque e, a partir do século XIX, foi utilizada para segurar cordão e borla. Armação| Estrutura do leque formada pelo conjunto das varetas e guardas sobre a qual assenta a folha que pode ser de materiais diversos. Ch'i-shu|Designação chinesa para a "árvore da laca". Colo| Àrea inferior das varetas. Fio de seda| Fio obtido a partir dos casulos das larvas "Bombix-mori". Fio frouxo| Estado de um fio de seda caracterizado por fraca torção, geralmente aplicado em bordados. Folha (de leque)| Sector superior do leque que consiste numa tira de pele, tecido, renda ou papel com um formato de semi-círculo, apresentando-se simples ou dupla, aplicada/s sobre o mesmo nível da armação, geralmente ornamentada através de pintura, bordado, ou outras técnicas decorativas. Pode ainda ser constituída por plumas. Guardas| As duas varetas localizadas nas extremidades da armação. Laca|A laca é um produto natural extraído de certas árvores da laca, originárias do Extremo-Oriente, nomeadamente da China e do Japão. Colorida com diversos pigmentos, emprega-se na ornamentação de objectos artísticos por aplicação, na pintura ou na decoração em relevo, produzindo superfícies duras e lustrosas. Encontram-se lacas de várias cores: amarela, preta, vermelha, castanha, vermelhão, entre outras. Leque de folha dobrável| Leque de abrir e fechar, constituído por uma armação de varetas unidas na parte inferior e sobre as quais se aplica, superiormente, uma folha pregueada ou plissada. A presente tipologia de abano tem uma remota origem êxtremo-oriental e terá sido introduzida pelos portugueses no Ocidente, por via oceânica. Reverso| Verso, ou face secundária do leque. Sapeca| Moeda chinesa de cobre. Transportavam-se enfiadas num cordel, formando uma atadura. Será interessante referir que o peso excessivo e uma escassez de cobre deram origem à invenção do papel. Vara (de leque)|Vareta ou lâmina. Varetas| Varas que constituem a armação. "Zhe shan"| Designação para leque de folha dobrável com varetas, na cultura chinesa. A presente nomenclatura foi introduzida pela investigadora Ana Maria Amaro, e obtida na obra da sua autoria referenciada no campo da Bibliografia.
  • Origem/Historial: Embora não nos encontremos na posse de documentação comprovativa da proveniência do espólio doado ao museu pela Senhora Dona Maria Delfina Gomes da Silva e Matos de Sousa Cardoso, presume-se que o presente leque poderá ter pertencido a familiares da doadora dentro da funcionalidade e do período da datação.
  • Incorporação: Doação da Senhora Dona Maria Delfina Gomes da Silva e Matos de Sousa Cardoso.
  • Centro de Fabrico: Centro presumível de fabrico, Cantão, China.

Bibliografia

  • ALTHEIM, Franz. - A Ásia a Caminho da Europa. Tradução de Aníbal Garcia Pereira. Lisboa: Livros do Brasil
  • AMARO, Ana Maria - "Da folha da palmeira à peça do Museu: o leque chinês".. Lisboa: Missão de Macau em Lisboa, 1999
  • AUBOYER, Jeannine - "Conclusion: The Aesthetics of India and China". In "Larrousse Encyclopedia of Prehistoric and Ancient Art". London, New York, Sydney and Toronto: ", René Huyghe - Hamlyn, 1981
  • BEDIN, Franca - Como reconhecer a Arte Chinesa.. Lisboa: Edições 70 LDA
  • COBLENCE, Jean Michel - "As Civilizações da Ásia" in "A História dos Homens": Lello & Irmão, 1989
  • EÇA, Teresa de Almeida d' - "O leque, elo de civilizações. A colecção do Museu dos Biscainhos". MB /IPM, 2006.
  • Enciclopédia Universal Ilustrada Europeo-Americana. Madrid: Espasa-Calpe, S. A.,, 1907 (?)
  • Éventails. Poésies d'air, airs de poésie: Editions Communication et PR, BSI SA,, 2005
  • GAMA, Eurico - O leque ao compasso do tempo.. Lisboa: " Boletim da Academia Portuguesa de Ex-libris",Ano X, n.º 34, 1965
  • IRONS, John Nelville - "Fans from China: Historical development": "Magazine Antiques, 1994
  • LEITE, José Roberto Teixeira - As Companhias das Índias e a Porcelana Chinesa de Encomenda". Salvador, Brasil: Fundação Cultural da Baía., 1986
  • MAIGNAN, Michel - "L´´Eventail à tous vents du XVIéme au XXème siècle". Paris: Le Louvre das Antiquaires, 1989
  • MENDONÇA, Maria José - "O Trajo Civil em Portugal". Lisboa: DGAC-Museu Nacional de Arte Antiga, 1974
  • TAXINHA, Maria José - "O Bordado no Trajo Civil em Portugal". Lisboa: Direcção Geral do Património Cultural, 1975
  • VALENÇA, César - "Considerações a partir da Colecção de Leques do Museu Nogueira da Silva" in "FORUM". Braga: Universidade do Minho, 2001

Exposições

  • O leque, elo de civilizações. A colecção do Museu dos Biscainhos.

    • Museu dos Biscainhos
    • 18/5/2005 a 27/11/2006
    • Exposição Física

Multimédia

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