Mantilha com coca

  • Museu: Museu dos Biscainhos
  • Nº de Inventário: 2784 (b) MB
  • Super Categoria: Arte
  • Categoria: Traje
  • Autor: Autor desconhecido (-)
  • Datação: 1720/1860
  • Dimensões (cm): Alt. 78 x Larg. 104
  • Descrição: A mantilha (1) com coca (2) constitui-se como peça de vestuário feminino, consistindo numa espécie de manto de pano ou seda com que se cobria o corpo, geralmente até pouco abaixo da cintura, sendo a coca a parte da capa que envolvia a cabeça e se aconchegava ao rosto. O agasalho encontra-se incompleto por degradação, dado existir sómente o sector superior, também designado de bioco, em tecido de seda tafetá preta, formando uma pala frontal encorpada através de uma tira de cartão grosso, de forma a avançar adiante da face; é forrado a tecido de linho pardo mercerizado e, na zona da cabeça e ombros é reforçado internamente por um pano de tecido de linho branco e outro tecido de algodão (?) castanho. O forro é rematado retilineamente a meio do corpo - correspondendo provavelmente à altura original da peça de vestuário -, e prolonga-se em altura para além do que sobreviveu da seda. Este corte mais curto, (3), diferencia-se do modelo nº invº 2784 (a) MB, que avança até aos pés e se identifica como capote. Na obra de Alberto de Souza, existem três imagens de "cocas" (pp. 200 e 235) que apresentam um formato idêntico a esta espécie mas que são enriquecidas por rendas que fixadas a partir da parte superior junto da pala, descaiem sobre a parte frontal encobrindo totalmente o rosto. As gravuras desvendam acrescidamente uma cronologia de 1840 a 1860, mas avalia-se que o modelo em análise tenha um carater secular remontando provavelmente aos séculos XVI-XVII. Como uso, é enquadrado na cidade de Portalegre, embora se presuma que, à semelhança do exemplar anteriormente mencionado, fosse conhecido noutras cidades e vilas do reino. No caso do presente modelo, Alberto de Souza remete para o contexto da burguesia o que se adequa com a teoria exposta que assenta no facto do manto em foco ser confeccionado em tecido de seda tafetá associadamente à característica do bioco que visa o encobrimento da mulher que o usa, remetendo para a esfera social da burguesia, o que condiziria melhor com a proveniência desta peça que é oriunda de uma família da nobreza minhota de Arcos de Valdevez. Considera-se que este modelo de manto terá nascido no seio da nobreza portuguesa, cujas raizes judaicas e sob a influência da mundividência àrabe com que conviveu, caracterizaram o vestuário em foco propiciador da discrição das damas destinatárias do mesmo, e que, como muitos outros elementos culturais, foi transposto para outros contextos sociais. O têxtil denota utilização intensa pela presença de manchas de gordura na zona central em que o topo da cabeça/cabelos tocavam a peça. Existe uma peça de vestuário similar mas de formato até aos pés e designada de capa-mantéu ou capote com coca/bioco, e identificada pelo nº de invº 2784 (a) MB. Ambos os exemplares se apresentam de grande interesse por documentarem um uso totalmente extinto e presumir-se a existência de escassas sobrevivências desta tipologia de vestuário. NOTAS (1) Vide LEMOS, Maximiano, op. cit. in Bibliografia, vol.6, p.847. (2) Este termo de acordo com terminologia exposta na obra, SOUZA, Alberto de. - "O trajo popular em Portugal nos século XVIII e XIX", pag. 112. (3) Vide LEMOS, op. cit. Pesquisa, inventário e autoria de Teresa d'Almeida d'Eça | MUSEU DOS BISCAINHOS
  • Origem/Historial: A peça de vestuário em foco pertenceu à família da Senhora Dona Maria da Purificação de Araújo e Brito Lima da Rocha Aguiã da "Casa da Ponte", de Arcos de Valdevez.
  • Incorporação: Senhor Doutor António Alberto de Magalhães Barros Lançós Cerqueira Queiroz | Colecção Senhora Dona Maria da Purificação de Araújo e Brito Lima da Rocha Aguiã ("Casa da Ponte" em Arcos-de-Valedevez)|
  • Centro de Fabrico: Presumivelmente Portugal.

Bibliografia

  • LEMOS, Maximiano - Enciclopédia Portuguesa Ilustrada Dicionário Universal. Porto: Lemos & Sucessor, 11 volumes, 1900 a 1909
  • SILVA, Armando; DAMÁSIO, Luis, SILVA, Guilherme - Casas Armoriadas do Concelho de Arcos de Arcos de Valdevez (Subsídio para estudo da nobreza arcoense), Vol. II: Câmara Municipal de Arcos de Valdevez, 1992
  • SOUZA, Alberto - -, "O Trajo Popular em Portugal nos séculos XVIII e XIX". Lisboa: 1924

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