Vestido (incompleto)

• Museu: Museu dos Biscainhos
• Nº de Inventário: 2762 MB
• Super Categoria: Arte
• Categoria: Traje
• Autor: Autor desconhecido (Modista ou costureira (?))
• Datação: 1865/1870
• Dimensões (cm): Comp. manga cerca de 55 x Alt. costas 41 x Larg. ombros 46
• Descrição: Vestido de duas peças incompleto pela ausência da respectiva saia. O corpo é confeccionado manual e mecanicamente a linha preta em tecido de seda natural lavrada a veludo de mesma cor, sendo estruturado por cinco elementos, três dorsais e dois frontais costurados entre si. Define um formato de decote subido e liso e aperta na face anterior através de nove botões que se presume terem sido forrados embora actualmente inexistentes, - sendo o modelo documentado pelas aberturas caseadas e pelos exemplares dos punhos remanescentes até ao presente -, vendo-se ainda um colchete na extremidade inferior de que sobreviveu a componente fêmea; foram concretizadas quatro pinças frontais para cingir à forma do corpo. Como ornamento apresenta um adorno constituído por dois fitilhos de tecido do estreito de veludo de seda preto, de diferentes larguras, que se desenvolvem paralelamente sendo debruados externamente por uma renda de bilros da mesma cor, e que definem uma composição que envolve como um todo ambos os lados, - frente e costas -, abrindo-se na maior largura à altura dos ombros o que acompanha o formato destes e avançando em movimento ondulado que se repete simetricamente em ambas as componentes frontais reunindo-se na linha de abertura central constituindo uma continuidade quando o vestuário se encontra apertado, o que desenha uma espécie de cunha com o vértice voltado para baixo, o que se repete nas costas mas em menores dimensões. As mangas são compridas, rodadas junto aos ombros e estreitam para os punhos os quais apertam através de um pequeno botão revestido de seda; formando uma espécie de ombreiras exteriores, foi introduzido o adorno anteriormente citado e agora associadamente cozido ao tecido estrutural formando uma guarnição pregueada que se movimenta da linha dos ombros para o braço; no antebraço e punho surge a mesma tipologia decorativa composta pelo tecido lavrado, o duplo fitilho de veludo e a renda, contornando os punhos e elevando-se em triplo apêndice cujos vértices se dirigem para o cotovelo. O corpo em foco apresenta-se forrado internamente a tecido de linho cru mercereizado e as mangas a tecido de algodão de cor castanha; para reforço da sustentabilidade e compressão do corpo de forma a serem atingidas as medidas consideradas ideais à época foram ajustadas verticalmente duas varetas que pela maleabilidade percepcionada exteriormente se presumem de barba de baleia, e que acompanham as linhas de duas das pinças frontais. O espécimen em foco juntamente com um outro muito idêntico, identificado pelo número de inventário 2766 MB, constituem-se como exemplares de grande interesse do traje feminino nortenho, datáveis de 1865 a 1870, dado terem pertencido a uma família da fidalguia minhota, os antepassados da Senhora Dona Maria da Purificação de Araújo e Brito Lima da Rocha Aguiam da "Casa da Ponte", de Arcos de Valdevez, e existir uma fotografia - amavelmente cedida pelos herdeiros - que documenta uma das duas peças como tendo pertencido à pessoa cujo retrato é atribuível à Senhora Dona Maria Ana d'Araujo Cardoso Btrito Soares, da Casa da Herdade da localidade citada, familiar da acima mencionada. Constatam-se pequenas diferenças em ambas as peças, designadamente, a presente possuir varetas e a outra uma guarnição de veludo no decote e chumaços, apontando-se para uma confecção adaptada a dois corpos ligeiramente distintos, ou para diferentes opções por parte de duas destinatárias, ponderando-se que dentro dos costumes da época, meados do século XIX, se teria processado a aquisição de vários metros do mesmo têxtil o que teria permitido a execução de modelos praticamente iguais presumivelmente mandados executar ao mesmo «atelier» de costura, ou costureira , identificada por um símbolo flabiforme bordado. A reduzida dimensão da cintura, cerca de 52 cm, poderá ser justificada como uma elegância associada a uma pequena estatura da proprietária original, considerando que se constata este factor em diferentes espécimens do núcleo de doação a que pertence. Reforça-se que a confecção pudesse ter sido assegurada por costureira /modista da antiga região de Entre-Douro-e -Minho, dada a existência de etiquetas ao nível do nucleo de traje feminino do século XIX deste museu, que situam este tipo de trabalho em Braga e Porto. Considera-se que as rendas de bilros executadas em fio de linho negro são nacionais, podendo ter como proveniência um dos inúmeros pólos de produção rendeira na linha costeira citando-se a título de exemplo, Vila do Conde, como um dos mais importantes. A peça em estudo permite ilustrar que a sociedade nobre e burguesa da região, possuía o conhecimento dos ditames da moda feminina, predominantemente francesa, à semelhança da capital e da Europa. Pesquisa, inventariação e autoria de Teresa d'Almeida d'Eça| MUSEU DOS BISCAINHOS
• Origem/Historial: A peça de vestuário em foco pertenceu à familía da Senhora Dona Maria da Purificação de Araújo e Brito Lima da Rocha Aguiam da "Casa da Ponte", de Arcos de Valdevez. Uma fotografia de familiar da referida senhora, um retrato que é atribuível à Senhora Dona Maria Ana d'Araujo Cardoso Btrito Soares, da Casa da Herdade, documenta uma utilização funcional contemporânea do vestido.
• Incorporação: Doação Senhor Dr. António Alberto de Magalhães Barros Lançós Cerqueira Queiroz| Colecção Senhora Dona Maria da Purificação de Araújo e Brito Lima da Rocha Aguiam da Casa da Ponte, Arcos de Valdevez.
• Centro de Fabrico: Antiga Região de Entre-Douro- e- Minho (?)