Custódia

  • Museu: Museu Nacional Soares dos Reis
  • Nº de Inventário: 53 Our MNSR
  • Super Categoria: Arte
  • Categoria: Ourivesaria
  • Autor: Autor desconhecido (Ourives)
  • Datação: 1650/1720
  • Técnica: Repuxada, fundida, cinzelada, filigrana e granitos
  • Dimensões (cm): Alt. 92,5 x Larg. 27,5
  • Descrição: Custódia realizada em prata dourada, de base octogonal alteada em quatro registos com haste em balaústre poligonal e corpo em forma de templete a rematar em cúpula coroada por cruz latina. Seguindo a concepção formal das custódias-cálice, em voga na Península ao longo do século 17, tem, no entanto, uma mera função de ostentação eucarística que lhe é ditada pela sua construção estrutural em peça única. A base repuxada e cinzelada, com alma em madeira, apresenta um rebordo liso seguido do primeiro registo decorado por friso de godrões, encimado por folhas de acanto. Uma moldura com degrau em ressalto separa-o do segundo registo onde, a um ornamento contínuo de meias canas côncavas e convexas alternadas, segue-se um friso alto preenchido por folhas de acanto sobre fundo pontilhado, inciso. Reentrante, o terceiro registo é liso e moldurado. Na sequência, o quarto registo exibe em cada uma das faces do elemento octogonal e enquadrados por molduras lisas, ora a figuração de uma ave de asas abertas com uma flor no bico rodeada lateralmente por folhas de acanto, ora motivos de ponta de diamante truncados emoldurados por cartelas delimitadas por cercaduras circulares de linha ondulada. A cada um destes últimos motivos encosta-se a parte terminal de uma aleta vegetalizada que parte do segundo registo e ao qual se une, por um sistema de rosca. Dão forma à haste quatro elementos separáveis, fundidos, que se ajustam por sobreposição. Sob um fundo puncionado ressalta o acabamento cinzelado dos ornatos decorativos relevados que preenchem toda a sua superfície. O arranque da haste é feito por um elemento trapezoidal de perfil côncavo decorado com grinaldas. Sobre este, apoia-se um corpo troncocónico guarnecido com folhas de acanto. Segue-se um terceiro elemento, de perfil bulboso, decorado com enrolamentos de folhas de acanto, a criar reservas de duas dimensões: umas maiores, onde uma composição simétrica dominada por folhas de acanto faz o enquadramento a flores de seis pétalas e a escudos cujo contorno lembra um coração; outras de menor dimensão, decoradas com motivos vegetais dispostos na vertical. O quarto e último elemento que remata a haste, de construção oitavada e formato compósito, apresenta um registo de godrões e ornamentação variada de temática vegetalista onde predominam as folhas de acanto e os quadrifólios. Pequenas aletas em "S" vegetalizadas ligam-se, na extremidade superior, ao registo da base deste último elemento. Todos os quatro componentes descritos são intercalados por anéis e molduras lisas, o que no conjunto contribui para realçar mais a decoração relevada e o respectivo fundo puncionado. Segue-se-lhes uma falsa copa semiesférica, repuxada, com alma em madeira, decorada sob um fundo puncionado com cartelas ladeadas por enrolamentos vegetais nas quais, sob fundo enxaquetado, sobressai um escudete liso com moldura, alternando com cabeças de querubins; uma concha e uma vieira, colocadas respectivamente por cima e em baixo das cartelas, completam a ornamentação. A copa remata superiormente por friso godronado e bordo terminal de faixa côncava lisa, prolongada por meia copa, em prata branca, que serve interiormente para encaixe do templete; por sua vez, a base é preenchida por galão largo de godrões encimado por friso estreito de canudos côncavos. Um parafuso em ferro que percorre todo o interior faz a junção da base, haste e falsa sub-copa. O templete assenta a decoração disposta simetricamente na frente e verso do ostensório, além de repetir motivos já aqui referidos, introduz cabeças de querubins envolvidos por enrolamentos de acanto, cornucópias e túlipas que ocupam a zona central arredondada. Cartelas e escudetes lisos com moldura, completam a restante superfície recta. Nos quatro cantos do embasamento fixam-se, rosca, pequenos balaústres invertidos, dos quais pendem tintinábulos (presentemente em número reduzido), realizados em prata branca filigranada com aplicação de pequenos granitos. A ligação e suporte do entablamento é feito por quatro "pseudo-colunas" de base redonda com várias molduras, fuste composto por aleta em "S" vegetalizada, ligada por um elemento liso paralelipipédico a uma aleta em "C" , também vegetalizada e encimada por capitel compósito. No meio destas "pseudo-colunas", implanta-se uma aleta em "S" vegetalizada que volumetricamente se destaca de todo o conjunto e que tem uma função meramente decorativa. Implantado no centro, sob uma elevação em cone, o hostiário circular, com viril de moldura de filetes concêntricos completado por duas lâminas de cristal de quartzo bizelado na extremidade, uma das quais de encaixe móvel com fecho. No seu interior, lúnula destacável em forma de querubim duplo. Rodeia-o um resplendor de raios pontiagudos e lanceolados, alternando com outros ondulados, num total de quarenta e oito. Acima do entablamento ergue-se uma falsa cúpula, com anel bojudo decorado com cartelas donde se destaca uma superfície cinzelada em motivo enxaquetado, a ligá-la, guirlandas de flores sob fundo puncionado. O remate da falsa cúpula faz-se através de um elemento cilíndrico, fundido, com corpo constituido por nichos com arco de volta perfeita separados por aleta em "S" vegetalizada, sobre o qual assenta outro corpo cilíndrico de diâmetro decrescente flanqueado por aletas e decorado com ramos vegetais e cachos de uva. A terminação de todo o conjunto é feita por uma calote de folhagem cinzelada, dominada por uma cruz, fundida, de braços e árvore em balaústre com ornatos de acanto junto de uma esfera lisa e polida que lhes serve de ponto de junção. Dois anjos alados, de pé e em vulto perfeito, colocados entre os balaústres que encimam o entablamento contribuem para dar ao ostensório uma noção de grande equilíbrio visual.
  • Origem/Historial: Através da publicação da "Lei da Separação do Estado da Igreja", datada de 20 de Abril de 1911, os bens da Igreja foram arrolados pelo Estado, constituindo-se este como regulador do seu destino. Neste sentido, instalou-se no Porto uma Comissão Jurisdicional dos Bens das Extintas Corporações Religiosas que, na sequência da sua acção, considerou de merecimento artístico para qualquer futuro Museu, o conjunto de peças do Paço Episcopal. Em 1915, a Câmara do Porto propôs o aluguer do Paço para aí instalar o seu Museu. Através do "Auto de Entrega do Edifício do antigo Paço Episcopal à Câmara Municipal do Porto com data de 20 de Dezembro do mesmo ano, foi não só efectuado o respectivo aluguer do edifício, mas também a entrega em regime de depósito de todo o seu recheio. Anos mais tarde, o Decreto nº 21.504 de 25 de Julho de 1932, ao reorganizar o Museu Soares dos Reis e ao elevá-lo à categoria de Museu Nacional, veio permitir a Vasco Valente, seu Director, a transferência dos objectos que pertenceram à Mitra do Porto e encorporá-los definitivamente no Acervo deste Museu. Desta transferência informam-nos o "Auto de Entrega dos Objectos que estavam em poder do Senhor Director do Museu Municipal do Porto, Pertencentes ao Antigo Paço Episcopal, ao Senhor Director do Museu Nacional de Soares dos Reis", com data de 3 de Março de 1932, e o "Auto de Entrega dos Objectos Constituindo Património do Estado que Estavam em Poder do Senhor Director do Museu Municipal do Porto ao Snr. Director do Museu Nacional de Soares dos Reis", de 31 de Agosto de 1938. É conhecido outro exemplar com base e haste semelhantes que pertenceu à colecção da família Arruda Botelho, com marca de contraste de Braga (B-1 M.A.) em uso em final do século XVII, inícios do XVIII executado na oficina do ourives AFV de António F. Veloso (B. 18 M.A.) do mesmo período. (Leilão 1, Palácio do Correio Velho, Lisboa, Junho de 2005).
  • Incorporação: Transferência

Bibliografia

  • BARREIRA, João - As artes decorativas. In: Arte Portuguesa. Lisboa: Edições Excelsior, s,d.
  • Catálogo da Exposição das Artes Decorativas dos Séculos XVII e XVIII, XVI Congresso Internacional de História de Arte. Porto: Museu Nacional de Soares dos Reis, 1949
  • COUTO, João; GONÇALVES, António Manuel - Ourivesaria em Portugal. Lisboa: Livros Horizonte, 1962
  • Inventário do Museu de Évora. Colecção de Ourivesaria. 1ª ed., Lisboa: IPM, 1993
  • MACEDO, Maria de Fátima - "Núcleo de Ourivesaria e Joalharia do Museu Nacional de Soares dos Reis, Proveniente da Mitra do Porto". Actas do I Colóquio Português de Ourivesaria.. Porto: Círculo Dr. José de Figueiredo, 1999
  • Museu Nacional de Soares dos Reis. Jóias, pratas, relógios, miniaturas, esmaltes e diversos - Catálogo-Guia. Porto: Tipografia Porto Médico, 1942
  • Museu Nacional de Soares dos Reis. Roteiro da Colecção, 1.ª ed. Lisboa: IPM, 2001
  • ROSAS, José - Pratas e Jóias dos Séculos XVII e XVIII, In Ourivesaria Portuguesa, 5: 1949
  • Ourivesaria do Norte de Portugal, [Catálogo da Exposição, Porto, Casa do Infante, 1984] Porto, Casa do Infante, 1984
  • Comemorações Nacionais de 1940. Exposição de Ourivesaria Portuguesa dos Séculos XII a XVII. Catálogo-Guia. Portugal- Coimbra, 1940
  • Ourivesaria Sacra nas Colecções do Museu Nacional Soares dos Reis. Portugal: Porto, MNSR, 1995
  • NOBREGA, José Claudino da, Memórias de um viajante antiquário. Raízes, 1984
  • Catálogo de Leilão 1, Palácio do Correio Velho, Lisboa, 2005
  • Catálogo do Museu dos Terceiros.ALMEIDA, A. Brochado [coord.]. Município de Ponte de Lima, 2008

Exposições

  • Ourivesaria do Norte de Portugal

    • Portugal: Porto, Casa do Infante
    • Exposição Física
  • Ourivesaria Sacra nas Colecções do Museu Nacional de Soares dos Reis

    • Portugal: Porto, MNSR
    • Exposição Física
  • Comemorações Nacionais de 1940. Exposição da Ourivesaria Portuguesa dos Séculos XII a XVII. Catálogo - Guia.

    • Portugal: Coimbra
    • Exposição Física
  • Artes Decorativas do séc. XVII - XVIII,

    • Portugal: Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis,
    • Exposição Física

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