Panela besouro

  • Museu: Museu Nacional de Etnologia
  • Nº de Inventário: BB.632
  • Super Categoria: Etnologia
  • Categoria: Equipamento de uso doméstico
  • Autor: Katsiparu
  • Datação: Século 20
  • Dimensões (cm): Alt. 8 x Diâm. 18 x Prof. 6,9
  • Descrição: Panela besouro de base plana, corpo cilindriforme de contornos convexos, em cujo topo figuram doze membros do referido animal, terminando num bordo de recorte plano, em argila. A peça é provida de uma tampa circular, onde figuram a cabeça e a cauda do besouro. O interior da peça é revestido de pigmento vegetal preto. O exterior é ornamentado com um motivo geométrico composto por uma faixa central transversal ladeada por pontos, pintado com pigmento vegetal preto. O restante espaço é pintado com pigmento mineral vermelho. Os membros do animal são ornamentados com um motivo composto por pontos (designado na terminologia local por pala palala - pintas), pintado com pigmento vegetal preto. O interior da tampa é revestido de pigmento vegetal preto, sendo o exterior ornamentado com o mesmo motivo que figura na peça e pintado com o mesmo pigmento. Tampa comprimento (cm): 16,5 Tampa largura (cm): 13
  • Origem/Historial: Peça sem uso, adquirida directamente ao fabricante. Os artefactos de cerâmica constituem o traço cultural mais característico dos índios Wauja, pois estes são dos mais qualificados produtores de objectos de cerâmica, destacando-se, no panorama etnográfico sul-americano, devido à singularidade das suas características morfológicas-funcionais e dos motivos gráficos que as decoram. Dos objectos produzidos, nomeadamente panelas, torradores de beiju, suportes e brinquedos, as primeiras assumem uma maior importância, na medida em que "(...) a "panela" é um tipo de "escola" estratégica no complexo jogo das identidades étnicas no Xingu e no panorama do contato com a sociedade nacional. As panelas são uma metáfora da identidade Waurá (...)" (Neto, 1999:147). O significado das panelas para os índios Wauja transcende a sua materialidade. A colecção é constituída por 85 panelas que se dividem em dois grandes núcleos, as panelas grandes e as panelas zoomórficas. As primeiras, denominadas na terminologia local por makula, nukãi, e kurisepu(n), são de forma cilíndrica e devido à sua dimensão, têm como funções o processamento da mandioca (que consiste em cozinhar o caldo venenoso), cozinhar peixe e cozinhar o urucum. As panelas grandes de menores dimensões, designadas por makulatãi e nukãitsãi, são, por sua vez, utilizadas para servir alimentos. As panelas zoomórficas, tal como o próprio nome indica, representam animais, destacados atráves da modelagem de características específicas (cabeça, membros, cauda, etc.). Esta classe de artefactos de cerâmica apresenta a maior diversidade de formas, no entanto existem três tipos de panelas que apesar de integrarem este grupo não representam animais, são elas a panela canoa, denominada por itsakana, representando um modelo reduzido de uma canoa, a iyãukâna e a yerupöhökâna, que representam seres sobrenaturais. Estas panelas caracterizam-se pela sua plurifuncionalidade, visto que são utilizadas para cozinhar peixe, especialmente as panelas canoas devido à sua dimensão, servir alimentos, pimenta e sal, e como brinquedo infantil. Nota informativa sobre a constituição da Colecção Wauja 2000: O projecto de constituição de uma colecção etnográfica entre os índios Wauja, um povo de língua Arawak, estabelecido unicamente nas proximidades da margem direita do rio Batovi, na região ocidental da bacia dos formadores do rio Xingu, no Estado de Mato Grosso, na Amazónia Meridional, foi desencadeado pelo MNE, conduzido no terreno pelo antropólogo Aristóteles Barcelos Neto e apoiado financeiramente pela Comissão Nacional para a Comemoração dos Descobrimentos Portugueses, durante o ano de 2000. A formação desta colecção resultou da conjuntura particular da preparação da exposição Os Índios, Nós. Refira-se que nesta conjuntura aquela Comissão foi parceira financeira no projecto da exposição. A investigação no terreno ficou a cargo do antropólogo Aristóteles Barcelos Neto, uma vez que já tinha realizado trabalho de campo na aldeia Wauja do Alto Xingu, em 1998, a partir do qual elaborou a tese de mestrado Arte, estética e cosmologia entre os Índios Waurá da Amazônia Meridional (1999), defendida na Universidade Federal de Santa Catarina. Constituiu ainda, no mesmo território e entre o mesmo grupo, uma colecção etnográfica para o Museu de Arqueologia e Etnologia da Bahia. Baseando-se na sua própria experiência e conhecimento da tribo elaborou um projecto para o MNE, intitulado Cultura material amazónica: sociologias e cosmologias nativas. O objectivo fulcral da investigação assentou na formação e documentação de uma colecção sistemática de artefactos, representativa da cultura material dos índios Wauja do Alto Xingu. A colecção, constituída por 578 peças, abrange todas as classes de artefactos excepto a plumária, devido às actuais leis brasileiras que proíbem a sua exportação.

Bibliografia

  • NETO, Aristóteles Barcelos, Arte, Estética e Cosmologia entre os Índios Waurá da Amazônia Meridional. Florianópolis: UFSC, 1999 (Policopiado)
  • RIBEIRO, Berta G., Dicionário do Artesanato Indígena. São Paulo: Itatiaia Limitada, USP, 1988

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