Boneca

  • Museu: Museu Nacional de Etnologia
  • Nº de Inventário: AG.796
  • Super Categoria: Etnologia
  • Categoria: Actividades lúdicas
  • Autor: Autor desconhecido (-)
  • Datação: Século 20
  • Técnica: Base: espiral cosida.
  • Dimensões (cm): Alt. 31 x Larg. 11,9
  • Descrição: Boneca constituída por um toro cilindriforme de madeira escura, revestido por uma malha torcida, com a extremidade inferior assente numa base em forma de campânula e a extremidade superior exibindo cabelo natural entrançado, missangas e adornos vários, representando um penteado. A base, constituída por voltas de feixes de capim, é feita pela técnica de espiral cosida. Encontra-se aplicada ao toro por meio do revestimento de malha de fibras vegetais torcidas, dispostas paralela e transversalmente, formando tranças diagonais. Na parte superior da base várias voltas de fiadas de missangas brancas envolvem parcialmente a cintura da boneca, sendo amarradas à frente por uma tira de tecido escuro que as une. Acima destas surgem várias voltas de uma tira de pele (cabedal?) vermelha, amarrada também à frente. Dobrado sobre estes dois fios, encobrindo-os, encontra-se na parte da frente, um pano castanho escuro. Atrás, entre os dois fios e a malha, encontra-se um outro pano escuro, adornado com conjuntos de missangas brancas, verdes e amarelas no centro e nas laterais, e com um botão branco aplicado. Ambos os panos representam o traje tradicional do grupo a que pertence. A três quartos da altura da boneca, surgem duas voltas de um fio de plástico branco, representando um cinto. Acima deste, aparecem dois pregos de metal envoltos em fios de fibras vegetais torcidas, representando os seios. Estes ostentam fios de fibras vegetais torcidas, cruzando-os, representando um adorno tradicional do grupo a que pertence. Acima dos seios surgem quatro voltas de uma fiada de missangas entrecruzadas, compondo um padrão geométrico constituído por três filas que alternam na cor. Na primeira volta a fila central é composta por missangas pretas e as duas laterais por missangas brancas, e, nas três voltas seguintes, a fila central é composta por missangas brancas e as duas filas laterais por missangas vermelhas. Estas voltas da fiada de missangas representam um colar tradicional do grupo a que pertence. Acima do colar figura a cabeça. O rosto exibe duas tachas metálicas douradas e verdes, figurando os olhos. A boneca apresenta um penteado tradicional do grupo a que pertence. Este é constituído por tranças de cabelo natural, que partindo do topo da cabeça, estendem-se até às costas da boneca. Na fronte, as duas primeiras tranças terminam com uma composição de missangas brancas de um lado, e brancas e verdes do outro. O topo da cabeça encontra-se adornado por um conjunto de tachas metálicas verdes e douradas. Na parte anterior deste conjunto, caindo sobre a testa, surgem curtas fiadas de missangas brancas, vermelhas e pretas. De ambos os lados do conjunto pendem dois conjuntos circulares de fiadas de missangas alternando entre as cores vermelha, branca e azul, sendo que dois segmentos de missangas unem ambos os lados. Começando na parte posterior do conjunto das tachas, e acompanhando o penteado, surge um revestimento feito de uma substância pastosa, adornado em cima com várias fiadas circulares de missangas, que se entrecruzam ao longo deste. No início deste revestimento surge um alfinete metálico preso transversalmente, que apresenta um outro alfinete metálico enfiado, menor em tamanho, pendendo este ultimo sobre o revestimento. A meio do revestimento encontra-se preso, de um dos lados, um fecho éclair, cujas extremidades acompanham o penteado, e, do outro lado, uma fiada de missangas brancas alternando com búzios também eles brancos. Toda a peça apresenta-se untada com uma substância gordurosa escura. Diâmetro do toro envolvido pela malha: 5,9 cm
  • Origem/Historial: A colecção de bonecas com uma tipologia "mwila" consiste em 42 objectos, tendo sido adquiridos por diferentes colectores e em diferentes contextos. Estas bonecas inserem-se numa colecção mais vasta, de 83 objectos, todos eles referentes ao Sudoeste angolano (bonecas kwanyama, bonecas carolo de milho e bonecas mwila de barro). O nome desta tipologia advém do grupo cultural mwila, devido a este ser um dos principais produtores destes objectos. António Carreira adquiriu 60 bonecas do Sudoeste angolano, trinta das quais pertencente à tipologia "mwila", colectadas em contexto de Missões de Prospecção de Material Etnográfico, dirigidas pelo Museu de Etnologia do Ultramar, efectuadas entre 1965 e 1969. Todas as bonecas "mwila" colectadas por António Carreira referem amuleto, amuleto de fertilidade ou amuleto de fecundidade, como função. Em 1965 e 66, Carreira anexa a seguinte informação: "Confeccionada com fibra de Mupanda (árvore frondosa). Ao cabelo da boneca chamam Maldi, por ser fibra. Ao cabelo humano chamam Nohuki. É usado por solteiras, viúvas e estéreis, no dorso, como se fosse uma criança de mama. O tipo de cabeleira das bonecas reproduz o das mulheres do planalto." (Ficha de inventário de AH.051)

Bibliografia

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