Piedade
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Museu: Museu Nacional de Etnologia
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Nº de Inventário: AT.593
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Super Categoria:
Etnologia
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Categoria: Artes plásticas
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Autor:
Autor desconhecido (-)
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Datação: Século 20
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Técnica: A especificação da técnica encontra-se no campo do Historial.
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Dimensões (cm): Alt. 22 x Larg. 22,5
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Descrição: Piedade em barro policromado, representando uma figura feminina sentada com uma figura masculina deitada sobre o seu colo.
As figuras assentam numa base de contornos irregulares que apresenta uma proeminência na parte traseira, onde se encontra a Nª Senhora sentada. A base exibe a tonalidade amarela com laivos pintados de castanho e cinzento.
Nª Senhora apresenta os joelhos proeminentes e encontra-se envolta por um manto que lhe cobre a cabeça e acompanha os contornos da figura. Os membros superiores apresentam-se dobrados para a frente, estando o direito apoiado sobre o peito de Cristo, e o esquerdo apoiando a cabeça do mesmo. A mão direita apresenta linhas incisas figurando os dedos. Na cabeça figuram dois olhos negros delimitados com uma linha da mesma cor, encimados por duas sobrancelhas igualmente negras. O nariz é em relevo e a boca apresenta lábios de cor vermelha. De cada lado da face é visível uma rosácea alaranjada. A cabeça exibe, ainda, cabelo de cor negra.
A figura feminina ostenta um vestido castanho, decorado com linhas incisas, que figuram pregas. O manto que envolve Nª Senhora exibe pregas na parte traseira e está pintado igualmente de azul.
Cristo apresenta-se deitado de costas sobre o colo de Nª Senhora. Exibe dois pés com linhas incisas figurando os dedos e dois membros inferiores flectidos, estando o direito apoiado no esquerdo. O pé direito apresenta uma lacuna. O tronco encontra-se arqueado e apoiado nos joelhos da mulher. O membro superior esquerdo pende dos joelhos da figura feminina até à base, e o direito encontra-se oculto pelo tronco da mesma. As mãos exibem linhas incisas que representam os dedos. Na cabeça figuram dois olhos fechados delimitados com uma linha negra, encimados por duas sobrancelhas igualmente negras. O nariz é em relevo e a boca apresenta lábios de cor vermelha. De cada lado da face é visível uma rosácea alaranjada. A cabeça exibe, ainda, barba, bigode e cabelo de cor negra.
Cristo exibe ainda, manchas salientes de tonalidade vermelha dispostas em todo o seu corpo, figurando feridas e chagas.
Aos pés da figura masculina encontra-se um destaque de tonalidade branca e decorada com linhas incisas, figurando uma manta com pregas. A manta envolve a zona pélvica da figura.
No topo da cabeça de Nª Senhora é visível um ponto inciso, podendo servir para colocar a coroa.
Dimensões da Base:
Diâmetro: 22,5 Cm.
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Origem/Historial: Na ficha de inventário dactilografada e no Livro de Tombo a peça tem a designação "Imagem Religiosa". No entanto, optei por utilizar a denominação "Nª Senhora com Cristo Morto", na medida em que identifica à priori a temática da peça.
Na ficha de inventário dactilografada não refere o Local de Fabrico.
Técnica:
Os métodos utilizados na barrística são, os de rolo, da bola e da lastra, esta última, na elaboração de vestuário e bases. As partes constituintes dos bonecos, que apresentam maior espessura e volume são previamente picadas por meio de uma agulha ou arame e depois corrigidos com os dedos. Este procedimento permite uma maior secagem no interior do boneco evitando assim, quebradura e fendilhagem no acto da cozedura.
É altura então, de colocar todos os adornos referentes ao modelo representado saídos da imaginação do artista, empregando-lhes assim, "movimento, vida, alma" (Vermelho, Joaquim, Barros de Estremoz: Contributo Monográfico para o Estudo da Olaria e da Barrística, página 76, Limiar, 1990).
Deixa-se o boneco secar e vai ao forno ou à mufla a 800 cº ou 850 cº, no entanto, é importante referir que durante a modelação do boneco convém deixar secar a peça durante as fases da união das várias partes constituintes do boneco.
Os bonecos são peças muito frágeis e portanto, são necessários muitos cuidados no processo de enfornamento.
Finalmente, o boneco passa pelo processo de pintura onde prevalecem o verde, o azul, o vermelho, o zarcão, o amarelo, o branco, o roxo, o laranja e o preto.
As tintas utilizadas são os óxidos que são dissolvidos em água e misturados com grude previamente derretido. Contudo, foram introduzidos recentemente, por questões comerciais e técnicas, têmperas, ou seja tintas a água ou plásticas que são misturadas com colas resinosas para madeira. Estas colas proporcionam ao boneco, resistência à luz e à humidade, sem no entanto, prejudicar a cor. Sobre a pintura seca é colocado um verniz que, nos séculos passados, era fabricado pelos próprios barristas através de processos que se perderam. Foram posteriormente substituídos por vernizes industriais.
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Incorporação: Anterior Proprietário: Rafael Rúdio
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Bibliografia
- AZINHAL, Abelho - Memória sobre os barros de Estremoz. Lisboa: Panorama, 1964
- BORRALHO, Álvaro António Gancho - As Artes do Barro. Contribuição para o estudo dos Bonecos de Estremoz, Dissertação de Tese de Licenciatura em Sociologia vertente de Sociologia da Cultura. ISCTE, Lisboa: 1993
- CHAVES, Luís - Os Barristas Portugueses: nas escolas e no povo.. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1925
- CONDE, António Fialho - "A Olaria Alfacinha e o Contributo dos Mestres", "Mestres Oleiros no Alentejo" in Mestres Artesãos do Século: artefactos do mundo por mãos portuguesas. Lisboa: Instituto do Emprego e Formação: FIL, 2002
- CORREIA, Virgílio - "Brinquedos na Louça de Estremoz" in Revista Terra Portuguesa - Revista Ilustrada de Arqueologia e Etnografia, Volume 1. Lisboa: 1916
- FERRO, António - "Bonecos de Barro" in Vida e Arte do Povo Português. Lisboa: 1940
- PARVAUX, Solange - La Céramique du Hault-Alentejo. Paris, Lisboa: Puf, Gulbenkian, 1968
- PESSANHA, D. Sebastião - "Bonecos de Extremoz" in Revista Terra Portuguesa - Revista Ilustrada de Arqueologia Artística e Etnografia, Volume 1. Lisboa: 1916
- VERMELHO, Joaquim - "Mobilidade e Influências nos bonecos de Estremoz" in Conversas à volta da Olaria. Oficinas do Convento: Associação Cultural de Arte e Comunicação, Dezembro 1998
- VERMELHO, Joaquim - "O Culto do Figurado de Estremoz" in Cultus: o mistério e o maravilhoso nos artefactos portugueses. Lisboa, IEFP: FIL, 2001
- VERMELHO, Joaquim - "Olaria e Barrística de Estremoz" in Artesanato da Região do Alentejo. Évora: IEFP, 2000
- VERMELHO, Joaquim - Barros de Estremoz: Contributo Monográfico para o Estudo da Olaria e da Barrística: Limiar, 1990