Mulher fiando com dois perus
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Museu: Museu Nacional de Etnologia
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Nº de Inventário: AQ.822
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Super Categoria:
Etnologia
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Categoria: Artes plásticas
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Autor:
Autor desconhecido (-)
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Datação: Século 20
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Técnica: A especificação da técnica encontra-se no campo do Historial.
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Dimensões (cm): Alt. 14 x Larg. 7,3
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Descrição: Mulher a fiar em barro policromado, representando uma figura antropomórfica feminina em pé com roca e fuso acompanhada com dois perus.
A figura assenta numa base plana rectangular com dosi cantos arredondados, pintada de verde com pintas amarelas.
A Mulher apresenta dois sapatos, uma saia de formato tronco-cónico, ligeiramente alongado na parte traseira e um avental. O tronco é cilindriforme e os membros superiores apresentam-se arqueados para dentro. A mão direita segura o fuso e o braço esquerdo apoia a roca. Estes apresentam formato fusiforme decorados com linhas incisas figurando o linho de tonalidade amarela. Apresentam ainda, um segmento em arame representando as suas pegas. Exibem também, um segmento em linha que une a roca ao fuso. As mãos apresentam linhas incisas representando os dedos. O pescoço é de formato cilíndrico. A cabeça apresenta dois pontos negros que representam os olhos, encimados por dois traços de tonalidade castanha que figuram as sobrancelhas. O nariz é triangular em relevo e a boca é representada por uma linha vermelha. O queixo é igualmente saliente e de cada lado da face é visível uma rosácea alaranjada. Na cabeça figuram ainda dois destaques de forma oval de tonalidade amarela, dispostos em cada lado da face, representando brincos. Figura também, cabelo castanho apanhado atrás e encimado por um chapéu negro de aba circular larga revirada nas partes laterais e com copa de formato tronco-cónico.
A figura ostenta sapatos castanhos, uma saia rosa e um avental de formato pentagonal pintado de branco com uma linha laranja na sua extremidade inferior. Na parte lateral esquerda junto ao cós da saia, encontra-se um destaque de formato ovóide de tonalidade negra com linhas e pintas incisas de tonalidade vermelha. Exibe ainda, um casaco de tonalidade verde com contornos laranja e uma gola da mesma cor que forma um laço na parte frontal do tronco.
Frontalmente à figura encontram-se dois perus. As aves apresentam dois segmentos de arame que constituem as patas, corpo ovóide onde figuram duas asas em relevo recolhidas e pescoço tronco-cónico. O peru que se encontra à direita apresenta a cauda erguida e aberta, formando um círculo com contornos recortados e linhas incisas, podendo figurar o macho, e o peru da esquerda exibe a cauda esticada direccionada para baixo, podendo representar a fêmea. O peru macho exibe ainda, um destaque de formato cilíndrico que se estende sobre o bico, pintado de vermelho.
As cabeças dos animais exibem um papo de tonalidade vermelha, dois olhos circulares pintados de negro e delimitados com cor branca e ainda, um bico amarelo de forma cónica. Exibem ainda, o corpo pintado de negro com manchas brancas, figurando as penas e o pescoço e cabeça apresentam a tonalidade vermelha.
Dimensões da Base:
Comp: 11,5 Cm;
Larg: 6,5 Cm.
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Origem/Historial: Na ficha de inventário dactilografada e no Livro de Tombo a peça tem a designação "Boneco de Barro". No entanto, optou-se pela denominação "Mulher fiando com dois perus", na medida em que identifica à priori a temática da peça.
Técnica:
Os métodos utilizados na barrística são, os de rolo, da bola e da lastra, esta última, na elaboração de vestuário e bases. As partes constituintes dos bonecos, que apresentam maior espessura e volume são previamente picadas por meio de uma agulha ou arame e depois corrigidos com os dedos. Este procedimento permite uma maior secagem no interior do boneco evitando assim, quebradura e fendilhagem no acto da cozedura.
Um dos aspectos que mais caracteriza os bonecos de Estremoz, e diferencia este figurado do restante, é o facto destes nascerem nus e serem posteriormente vestidos.
Um boneco de Estremoz é constituído por diversas partes que são unidas entre si. Assim, a primeira peça a ser realizada é a base, que é feita através de um pedaço de barro espalmado por intermédio de uma palmatória. A próxima tarefa consiste em fazer as pernas ou saias e seguidamente o tronco. Com uma bola de barro, e um molde, segue-se a face e depois o pescoço. Os rostos são, na maior parte dos casos, feitos por meio dum molde e colados à bola de barro que constitui a cabeça. Com a ajuda dum teque ou teco (palheta na gíria dos artesãos) modela-se o cabelo. Coloca-se o boneco na base, previamente feita e com furos no local onde este vai assentar, colando-o com barbutina ou lamugem na gíria bonequeira.
De seguida, passa-se para a elaboração dos braços que é realizada através de um rolinho. Corta-se a extremidade que liga ao ombro e faz-se em seguida as mãos. Estas são feitas espalmando-se a extremidade do braço menos grossa, e depois, por intermédio de uma série de incisões com a ajuda dos já mencionados teques criam-se os dedos. Unem-se os braços ao tronco com lamugem.
É altura então, de vestir os bonecos e colocar todos os adornos referentes ao modelo representado, como chailes, lenços, brincos, chapéus e um número infindável de enfeites saídos da imaginação do artista, empregando-lhes assim, "movimento, vida, alma" (Vermelho, Joaquim, Barros de Estremoz: Contributo Monográfico para o Estudo da Olaria e da Barrística, página 76, Limiar, 1990).
Deixa-se o boneco secar e vai ao forno ou à mufla a 800 cº ou 850 cº, no entanto, é importante referir que durante a modelação do boneco convém deixar secar a peça durante as fases da união das várias partes constituintes do boneco.
Os bonecos são peças muito frágeis e portanto, são necessários muitos cuidados no processo de enfornamento.
Finalmente, o boneco passa pelo processo de pintura onde prevalecem o verde, o azul, o vermelho, o zarcão, o amarelo, o branco, o roxo, o laranja e o preto.
As tintas utilizadas são os óxidos que são dissolvidos em água e misturados com grude previamente derretido. Contudo, foram introduzidos recentemente, por questões comerciais e técnicas, têmperas, ou seja tintas a água ou plásticas que são misturadas com colas resinosas para madeira. Estas colas proporcionam ao boneco, resistência à luz e à humidade, sem no entanto, prejudicar a cor. Sobre a pintura seca é colocado um verniz que, nos séculos passados, era fabricado pelos próprios barristas através de processos que se perderam. Foram posteriormente substituídos por vernizes industriais.
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Bibliografia
- AZINHAL, Abelho - Memória sobre os barros de Estremoz. Lisboa: Panorama, 1964
- BORRALHO, Álvaro António Gancho - As Artes do Barro. Contribuição para o estudo dos Bonecos de Estremoz, Dissertação de Tese de Licenciatura em Sociologia vertente de Sociologia da Cultura. ISCTE, Lisboa: 1993
- CHAVES, Luís - Os Barristas Portugueses: nas escolas e no povo.. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1925
- CONDE, António Fialho - "A Olaria Alfacinha e o Contributo dos Mestres", "Mestres Oleiros no Alentejo" in Mestres Artesãos do Século: artefactos do mundo por mãos portuguesas. Lisboa: Instituto do Emprego e Formação: FIL, 2002
- CORREIA, Virgílio - "Brinquedos na Louça de Estremoz" in Revista Terra Portuguesa - Revista Ilustrada de Arqueologia e Etnografia, Volume 1. Lisboa: 1916
- FERRO, António - "Bonecos de Barro" in Vida e Arte do Povo Português. Lisboa: 1940
- PARVAUX, Solange - La Céramique du Hault-Alentejo. Paris, Lisboa: Puf, Gulbenkian, 1968
- PESSANHA, D. Sebastião - "Bonecos de Extremoz" in Revista Terra Portuguesa - Revista Ilustrada de Arqueologia Artística e Etnografia, Volume 1. Lisboa: 1916
- VERMELHO, Joaquim - "Mobilidade e Influências nos bonecos de Estremoz" in Conversas à volta da Olaria. Oficinas do Convento: Associação Cultural de Arte e Comunicação, Dezembro 1998
- VERMELHO, Joaquim - "O Culto do Figurado de Estremoz" in Cultus: o mistério e o maravilhoso nos artefactos portugueses. Lisboa, IEFP: FIL, 2001
- VERMELHO, Joaquim - "Olaria e Barrística de Estremoz" in Artesanato da Região do Alentejo. Évora: IEFP, 2000
- VERMELHO, Joaquim - Barros de Estremoz: Contributo Monográfico para o Estudo da Olaria e da Barrística: Limiar, 1990