Ceifeira

  • Museu: Museu Nacional de Etnologia
  • Nº de Inventário: AT.478
  • Super Categoria: Etnologia
  • Categoria: Artes plásticas
  • Autor: Autor desconhecido (-)
  • Datação: Século 20
  • Técnica: A especificação da técnica encontra-se no campo do Historial.
  • Dimensões (cm): Alt. 17,3 x Larg. 7,5
  • Descrição: Ceifeira em barro policromado, representando uma figura antropomórfica feminina em pé com tarro e foice. A figura assenta numa base plana rectangular pintada de verde com pintas brancas e azuis. A Mulher apresenta dois sapatos, dois membros inferiores cilindriformes cobertos por meias verdes com contornos azuis e um avental. O tronco é cilindriforme e os membros superiores apresentam-se arqueados para dentro. As mãos apresentam linhas incisas representando os dedos. A cabeça apresenta dois pontos negros que representam os olhos, encimados por dois traços da mesma cor que figuram as sobrancelhas. O nariz encontra-se em relevo e a boca é representada por uma linha vermelha. Na cabeça figura um lenço de cabeça que forma um bico na parte das costas, de tonalidade vermelha com pintas negras, encimado por um chapéu igualmente negro de aba circular larga revirada, com copa de formato semi-esférico. A figura ostenta sapatos amarelos, calções de tonalidade azul apanhada ao jeito de calções e um avental de tonalidade vermelha com pintas brancas que cobre as pernas da ceifeira na parte frontal. O avental exibe ainda, um bolso no lado direito de formato semi-ovóide pintado da mesma cor. Exibe ainda, uma camisola pintada de azul com pintas de cor branca. Sobre os ombros está disposto um chaile que forma um triângulo nas costas e apresenta nas suas extremidades linhas incisas que representam franjas. O chaile exibe a cor verde com pintas brancas. A ceifeira segura na sua mão direita, um tarro e na mão esquerda apoia a foice ao ombro. O tarro apresenta a forma cilíndrica de tonalidade castanha, exibindo um segmento em arame disposto em arco figurando a sua pega. A foice apresenta a lâmina em forma de arco encontrando-se encaixada no ombro da figura. Esta é pintada de castanho. Dimensões da Base: Comp: 4,8 Cm; Larg: 6,6 Cm.
  • Origem/Historial: Na ficha de inventário dactilografada e no Livro de Tombo a peça tem a designação "Boneco de Estremoz". No entanto, optei por utilizar a denominação "Ceifeira", na medida em que identifica à priori a temática da peça. Na ficha de inventário dactilografada não refere o Local de Fabrico. A designação "Ceifeira" consta na ficha de inventário dactilografada como Nome Local. Técnica: Os métodos utilizados na barrística são, os de rolo, da bola e da lastra, esta última, na elaboração de vestuário e bases. As partes constituintes dos bonecos, que apresentam maior espessura e volume são previamente picadas por meio de uma agulha ou arame e depois corrigidos com os dedos. Este procedimento permite uma maior secagem no interior do boneco evitando assim, quebradura e fendilhagem no acto da cozedura. Um dos aspectos que mais caracteriza os bonecos de Estremoz, e diferencia este figurado do restante, é o facto destes nascerem nus e serem posteriormente vestidos. Um boneco de Estremoz é constituído por diversas partes que são unidas entre si. Assim, a primeira peça a ser realizada é a base, que é feita através de um pedaço de barro espalmado por intermédio de uma palmatória. A próxima tarefa consiste em fazer as pernas ou saias e seguidamente o tronco. Com uma bola de barro, e um molde, segue-se a face e depois o pescoço. Os rostos são, na maior parte dos casos, feitos por meio dum molde e colados à bola de barro que constitui a cabeça. Com a ajuda dum teque ou teco (palheta na gíria dos artesãos) modela-se o cabelo. Coloca-se o boneco na base, previamente feita e com furos no local onde este vai assentar, colando-o com barbutina ou lamugem na gíria bonequeira. De seguida, passa-se para a elaboração dos braços que é realizada através de um rolinho. Corta-se a extremidade que liga ao ombro e faz-se em seguida as mãos. Estas são feitas espalmando-se a extremidade do braço menos grossa, e depois, por intermédio de uma série de incisões com a ajuda dos já mencionados teques criam-se os dedos. Unem-se os braços ao tronco com lamugem. É altura então, de vestir os bonecos e colocar todos os adornos referentes ao modelo representado, como chailes, lenços, brincos, chapéus e um número infindável de enfeites saídos da imaginação do artista, empregando-lhes assim, "movimento, vida, alma" (Vermelho, Joaquim, Barros de Estremoz: Contributo Monográfico para o Estudo da Olaria e da Barrística, página 76, Limiar, 1990). Deixa-se o boneco secar e vai ao forno ou à mufla a 800 cº ou 850 cº, no entanto, é importante referir que durante a modelação do boneco convém deixar secar a peça durante as fases da união das várias partes constituintes do boneco. Os bonecos são peças muito frágeis e portanto, são necessários muitos cuidados no processo de enfornamento. Finalmente, o boneco passa pelo processo de pintura onde prevalecem o verde, o azul, o vermelho, o zarcão, o amarelo, o branco, o roxo, o laranja e o preto. As tintas utilizadas são os óxidos que são dissolvidos em água e misturados com grude previamente derretido. Contudo, foram introduzidos recentemente, por questões comerciais e técnicas, têmperas, ou seja tintas a água ou plásticas que são misturadas com colas resinosas para madeira. Estas colas proporcionam ao boneco, resistência à luz e à humidade, sem no entanto, prejudicar a cor. Sobre a pintura seca é colocado um verniz que, nos séculos passados, era fabricado pelos próprios barristas através de processos que se perderam. Foram posteriormente substituídos por vernizes industriais.
  • Incorporação: Anterior Proprietário: Rafael Rúdio

Bibliografia

  • AZINHAL, Abelho - Memória sobre os barros de Estremoz. Lisboa: Panorama, 1964
  • BORRALHO, Álvaro António Gancho - As Artes do Barro. Contribuição para o estudo dos Bonecos de Estremoz, Dissertação de Tese de Licenciatura em Sociologia vertente de Sociologia da Cultura. ISCTE, Lisboa: 1993
  • CHAVES, Luís - Os Barristas Portugueses: nas escolas e no povo.. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1925
  • CONDE, António Fialho - "A Olaria Alfacinha e o Contributo dos Mestres", "Mestres Oleiros no Alentejo" in Mestres Artesãos do Século: artefactos do mundo por mãos portuguesas. Lisboa: Instituto do Emprego e Formação: FIL, 2002
  • CORREIA, Virgílio - "Brinquedos na Louça de Estremoz" in Revista Terra Portuguesa - Revista Ilustrada de Arqueologia e Etnografia, Volume 1. Lisboa: 1916
  • FERRO, António - "Bonecos de Barro" in Vida e Arte do Povo Português. Lisboa: 1940
  • PARVAUX, Solange - La Céramique du Hault-Alentejo. Paris, Lisboa: Puf, Gulbenkian, 1968
  • PESSANHA, D. Sebastião - "Bonecos de Extremoz" in Revista Terra Portuguesa - Revista Ilustrada de Arqueologia Artística e Etnografia, Volume 1. Lisboa: 1916
  • VERMELHO, Joaquim - "Mobilidade e Influências nos bonecos de Estremoz" in Conversas à volta da Olaria. Oficinas do Convento: Associação Cultural de Arte e Comunicação, Dezembro 1998
  • VERMELHO, Joaquim - "O Culto do Figurado de Estremoz" in Cultus: o mistério e o maravilhoso nos artefactos portugueses. Lisboa, IEFP: FIL, 2001
  • VERMELHO, Joaquim - "Olaria e Barrística de Estremoz" in Artesanato da Região do Alentejo. Évora: IEFP, 2000
  • VERMELHO, Joaquim - Barros de Estremoz: Contributo Monográfico para o Estudo da Olaria e da Barrística: Limiar, 1990

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