Pastor com uma ovelha ao ombro

  • Museu: Museu Nacional de Etnologia
  • Nº de Inventário: AQ.806
  • Super Categoria: Etnologia
  • Categoria: Artes plásticas
  • Autor: Autor desconhecido (-)
  • Datação: Século 20
  • Técnica: A especificação da técnica encontra-se no campo do Historial.
  • Dimensões (cm): Alt. 17,5 x Larg. 7,5
  • Descrição: Pastor em barro policromado, representando uma figura antropomórfica masculina, em pé, carregando uma ovelha no ombro esquerdo. A figura assenta numa base plana rectangular de cantos arredondados, de tonalidade verde com pintas amarelas e laranja. O pastor apresenta, dois botins e dois membros inferiores e o tronco cilindriformes. Os membros superiores apresentam-se arqueados para dentro. A mão direita segura um segmento recto em arame figurando um cajado, e a mão esquerda segura as patas dianteiras de uma ovelha. As mãos do pastor apresentam linhas incisas representando os dedos. O pescoço é de formato cilíndrico. A cabeça apresenta dois pontos negros encimados por dois traços castanhos que figuram sobrancelhas. O nariz é triangular em relevo e a boca apresenta lábios delineados e enchidos com cor vermelha. O queixo é saliente e de cada lado da face é visível uma rosácea alaranjada e orelhas. Na cabeça figura ainda, cabelo de tonalidade castanha, encimado por um chapéu negro com aba circular larga, ligeiramente revirada e com copa de formato tronco-cónico. A ovelha apoiada no ombro do pastor encontra-se com as patas dianteiras dispostas na parte frontal da figura e as traseiras na parte das costas. O animal é constituído por quatro patas pintadas de negro e dois membros dianteiros e traseiros cilindriformes. Apresenta ainda, corpo igualmente cilindriforme, uma cauda e pescoço de formato cilíndrico. A sua cabeça apresenta um focinho alongado de forma cilíndrica pintado de castanho, no qual são visíveis dois olhos negros, uma linha recta incisa de cor vermelha que representa a boca e dois pontos incisos que figuram as narinas. Na cabeça figuram ainda, duas orelhas. O animal ostenta a cor branca com manchas castanhas e pontos incisos, figurando a lã. A figura do pastor apresenta botins de tonalidade castanha, calças da mesma cor e safões igualmente de tonalidade castanha com contornos interiores pintados de negro e decorados com oito pontos amarelos dispostos longitudinalmente, figurando botões. Os safões exibem pontos incisos que representam o pelo. O pastor apresenta também, uma camisola cinzenta com uma gola branca com os colarinhos revirados para fora e um pelico alentejano que exibe uma cauda de formato rectangular de cantos inferiores arredondados, caíndo sobre as pernas na parte traseira. Este, apresenta seis pontos amarelos dispostos longitudinalmente na parte frontal do tronco, figurando botões e encontra-se picotado para figurar o pelo exibindo ainda, mangas de formato circular. O pelico ostenta a cor castanha com contornos negros. Dimensões da Base: Comp: 8,5 Cm; Larg: 4,8 Cm.
  • Origem/Historial: Na ficha de inventário dactilografada e no Livro de Tombo a peça tem a designação "Boneco de Barro". No entanto, optei por utilizar a denominação "Pastor com uma ovelha ao ombro", na medida em que identifica à priori a temática da peça. Técnica: Os métodos utilizados na barrística são, os de rolo, da bola e da lastra, esta última, na elaboração de vestuário e bases. As partes constituintes dos bonecos, que apresentam maior espessura e volume são previamente picadas por meio de uma agulha ou arame e depois corrigidos com os dedos. Este procedimento permite uma maior secagem no interior do boneco evitando assim, quebradura e fendilhagem no acto da cozedura. Um dos aspectos que mais caracteriza os bonecos de Estremoz, e diferencia este figurado do restante, é o facto destes nascerem nus e serem posteriormente vestidos. Um boneco de Estremoz é constituído por diversas partes que são unidas entre si. Assim, a primeira peça a ser realizada é a base, que é feita através de um pedaço de barro espalmado por intermédio de uma palmatória. A próxima tarefa consiste em fazer as pernas ou saias e seguidamente o tronco. Com uma bola de barro, e um molde, segue-se a face e depois o pescoço. Os rostos são, na maior parte dos casos, feitos por meio dum molde e colados à bola de barro que constitui a cabeça. Com a ajuda dum teque ou teco (palheta na gíria dos artesãos) modela-se o cabelo. Coloca-se o boneco na base, previamente feita e com furos no local onde este vai assentar, colando-o com barbutina ou lamugem na gíria bonequeira. De seguida, passa-se para a elaboração dos braços que é realizada através de um rolinho. Corta-se a extremidade que liga ao ombro e faz-se em seguida as mãos. Estas são feitas espalmando-se a extremidade do braço menos grossa, e depois, por intermédio de uma série de incisões com a ajuda dos já mencionados teques criam-se os dedos. Unem-se os braços ao tronco com lamugem. É altura então, de vestir os bonecos e colocar todos os adornos referentes ao modelo representado, como chailes, lenços, brincos, chapéus e um número infindável de enfeites saídos da imaginação do artista, empregando-lhes assim, "movimento, vida, alma" (Vermelho, Joaquim, Barros de Estremoz: Contributo Monográfico para o Estudo da Olaria e da Barrística, página 76, Limiar, 1990). Deixa-se o boneco secar e vai ao forno ou à mufla a 800 cº ou 850 cº, no entanto, é importante referir que durante a modelação do boneco convém deixar secar a peça durante as fases da união das várias partes constituintes do boneco. Os bonecos são peças muito frágeis e portanto, são necessários muitos cuidados no processo de enfornamento. Finalmente, o boneco passa pelo processo de pintura onde prevalecem o verde, o azul, o vermelho, o zarcão, o amarelo, o branco, o roxo, o laranja e o preto. As tintas utilizadas são os óxidos que são dissolvidos em água e misturados com grude previamente derretido. Contudo, foram introduzidos recentemente, por questões comerciais e técnicas, têmperas, ou seja tintas a água ou plásticas que são misturadas com colas resinosas para madeira. Estas colas proporcionam ao boneco, resistência à luz e à humidade, sem no entanto, prejudicar a cor. Sobre a pintura seca é colocado um verniz que, nos séculos passados, era fabricado pelos próprios barristas através de processos que se perderam. Foram posteriormente substituídos por vernizes industriais.
  • Incorporação: Anterior Proprietário: Desconhecido

Bibliografia

  • AZINHAL, Abelho - Memória sobre os barros de Estremoz. Lisboa: Panorama, 1964
  • BORRALHO, Álvaro António Gancho - As Artes do Barro. Contribuição para o estudo dos Bonecos de Estremoz, Dissertação de Tese de Licenciatura em Sociologia vertente de Sociologia da Cultura. ISCTE, Lisboa: 1993
  • CHAVES, Luís - Os Barristas Portugueses: nas escolas e no povo.. Coimbra: Imprensa da Universidade, 1925
  • CONDE, António Fialho - "A Olaria Alfacinha e o Contributo dos Mestres", "Mestres Oleiros no Alentejo" in Mestres Artesãos do Século: artefactos do mundo por mãos portuguesas. Lisboa: Instituto do Emprego e Formação: FIL, 2002
  • CORREIA, Virgílio - "Brinquedos na Louça de Estremoz" in Revista Terra Portuguesa - Revista Ilustrada de Arqueologia e Etnografia, Volume 1. Lisboa: 1916
  • FERRO, António - "Bonecos de Barro" in Vida e Arte do Povo Português. Lisboa: 1940
  • PARVAUX, Solange - La Céramique du Hault-Alentejo. Paris, Lisboa: Puf, Gulbenkian, 1968
  • PESSANHA, D. Sebastião - "Bonecos de Extremoz" in Revista Terra Portuguesa - Revista Ilustrada de Arqueologia Artística e Etnografia, Volume 1. Lisboa: 1916
  • VERMELHO, Joaquim - "Mobilidade e Influências nos bonecos de Estremoz" in Conversas à volta da Olaria. Oficinas do Convento: Associação Cultural de Arte e Comunicação, Dezembro 1998
  • VERMELHO, Joaquim - "O Culto do Figurado de Estremoz" in Cultus: o mistério e o maravilhoso nos artefactos portugueses. Lisboa, IEFP: FIL, 2001
  • VERMELHO, Joaquim - "Olaria e Barrística de Estremoz" in Artesanato da Região do Alentejo. Évora: IEFP, 2000
  • VERMELHO, Joaquim - Barros de Estremoz: Contributo Monográfico para o Estudo da Olaria e da Barrística: Limiar, 1990

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