Descrição: Armário de dois corpos com duas meias-portas separados por um gavetão que simula três gavetas. Cimalha reta, saliente e moldurada, com cantos salientes decorados por mísulas. Na frente, cantos de forma apilastrada, enquadrados por molduras. Base moldurada e saliente. Nas ilhargas simulou-se idêntica solução. Pés torneados em discos e bola achatada. No interior, possui uma prateleira fixa em cada corpo (a do corpo superior é moderna).
As frentes das portas e das gavetas são decoradas por almofadas salientes, lisas, enquadradas por molduras. Apresentam, nos cantos e centro das primeiras, chapas de latão recortadas e vazadas, as centrais organizadas em forma de uma flor de oito pétalas. Os espelhos dos puxadores e das fechaduras são do mesmo tipo, distribuindo-se pelas portas, gavetão e almofadas das ilhargas. O friso da cimalha e as pilastras laterais são decoradas por chapas de metal, a que se juntam "rosas" na cimalha (algumas são posteriores).
O interior das gavetas e a prateleira do corpo inferior são em vinhático.
(Bastos, 1999)
Origem/Historial: No século XVII começaram a usar-se em Portugal grandes armários copeiros. Com dois corpos fechados por duas meias-portas, invariavelmente separados por uma ordem de gavetas - que podia ser um gavetão como no exempalar do Museu -filiavam-se nos armários holandeses introduzidos em Portugal nessa centúria. Caracterizados pela presença de cimalhas salientes, a sua forma está presente neste belíssimo armário do Museu a que as chapas de latão vieram dar uma nota de luz e cor. A sua disposição é frequente nos móveis litúrgicos do Minho, e as chapas de metal, decoradas com rosas são, segundo alguns autores, típicas da região Entre-Douro e Minho.
Em 1720 Manuel de Sousa, ensamblador de Lamego, morador na Rua de Santa Cruz e juíz do mesmo ofício, contratou a execução das grades de pau-preto "bronzeadas" do arco da capela de N.ª Sr.ª dos Meninos (Lamego). Contratadas em 22 de Fevereiro desse ano por 100$000, incluíndo os bronzes dourados e as pirâmides que as ornam, estes grades, que o artífice se obrigou a dar por concluidas em Agosto do mesmo ano, revelam-se extremamente interessantes para o estudo do mobiliário do tipo que Robert Smith designou de "estilo nacional" e, muito especialmente, para o estudo deste armário. Assim, as chapas "rendilhadas" de latão bem como as "rosas" que decoram o friso do corrimão daquelas grades são em tudo idênticas às que se observam no friso da cimalha e nas pilastras laterais do armário ou "goarda roupa" do Museu, sabendo-se que a planta e os apontamentos destas grades vieram do Porto. Aliás, esta ornamentação típica do Porto e de Braga, repete-se noutras grades e púlpitos datados do início do século XVIII, nomeadamente nas grades executadas, ou atribuídas, a António de Azevedo Fernandes (Sé Nova de Coimbra em 1700 e Santo Tirso entre 1728-1731) e numa grade de Agostinho Marques, o grande ensamblador de Braga, executada em 1692 para a Santa Casa da Misericórdia de Vila do Conde.
(Bastos, 1999)
Incorporação: DR. Vasco de Vasconcelos (Proc. 1-B-1/Oft.)
Bibliografia
AMARAL, João - Roteiro Ilustrado da Cidade de Lamego. Lamego: 1961
BASTOS, Celina; PROENÇA, José António - Mobiliário, "in" "Roteiro do Museu de Lamego". Lisboa: Museu de Lamego/IPM, 1998
BASTOS, Celina; PROENÇA, José António - Museu de Lamego. Mobiliário. Lisboa: IPM/Museu de Lamego, 1999
COBRES, José Pedro dos Reis - Manual do Marceneiro. Lisboa: Livraria Bertrand, s/d