Grande calau, macho

  • Museu: Museu Nacional de Etnologia
  • Nº de Inventário: BF.857
  • Super Categoria: Etnologia
  • Categoria: Actividades lúdicas
  • Autor: Autor desconhecido
  • Datação: Século 20/21
  • Dimensões (cm): Alt. 182 x Diâm. 108,5
  • Descrição: Representação de ave de grandes dimensões, composta de três elementos: corpo, pescoço e cabeça. O corpo é formado por uma estrutura de rede e arame, montada em formato cónico. O topo desta está coberto, no interior, por um tecido branco resultante de uma saca de farinha, com logótipo acima, acima do qual se lê "Farine extra-type anglais". Todo o corpo está vestido por um tecido preto com tiras de tecido branco e vermelho na vertical e em ziguezague cozidas à máquina. No interior do topo da estrutura encontra-se fixa uma trave de madeira clara com um encaixe para suportar o extremo inferior do pescoço da figura. O pescoço é em madeira escura e tem uma forma cilíndrica. Está revestido por uma manga de tecido, metade preto, metade vermelho, cozidos à máquina com linha branca. O extremo superior desta manga é de tecido branco e está atado ao topo do pescoço com corda, formando uma gola. Do interior desta gola e na direcção do bico, pende um tufo de corda de sisal desfiada. A cabeça, de mesma madeira escura, é constituída por uma pequena secção de pouca espessura, com o topo circular e contornado desde a parte posterior inferior até à base do bico por um recorte denteado. De ambos os lados apresenta um círculo preenchido a cor prateada em representação dos olhos. Esta secção é trespassada abaixo dos olhos por um parafuso. Do lado esquerdo é visível a cabeça deste e do lado direito é visível o seu extremo rematado por uma porca. O bico tem um formato encurvado muito pronunciado. Encontra-se entreaberto e é articulável. O bico inferior é autónomo da cabeça e está preso a esta por meio de cordões. O bico superior é acompanhado até meio do seu comprimento por um nariz que acompanha a curvatura do bico e aumenta de altura na direcção da ponta deste. Na sua superfície frontal apresenta dois oríficios.
  • Origem/Historial: Personagem do teatro de máscaras e marionetas popular na região centro-sul do Mali. Objecto pertencente a um total de 50 máscaras e marionetas provenientes do Mali, adquiridos por Francisco Capelo a Sónia e Albert Loeb, com vista à sua doação ao Museu Nacional de Etnologia, concretizada em 2004. Esta doação foi homenageada pelo Museu através da realização da exposição temporária "Sogobó. Máscaras e Marionetas do Mali", patente ao público entre 12 de Novembro de 2004 e 30 de Maio de 2007. A sua inauguração teve lugar no dia de aniversário do doador, segundo a sua vontade, quando este completou 50 anos de idade, facto esse assinalado intencionalmente pelo número de objectos doados. Este conjunto de objectos faz parte de um conjunto mais vasto recolhido na região centro-sul do Mali, entre 2001 e 2003, pelos coleccionadores e galeristas franceses Sónia e Albert Loeb. O teatro de máscaras e marionetas tem uma tradição secular naquela zona do Mali, mais concretamente na região de Ségou e adquire localmente diversas designações, das quais sogobó é apenas uma delas e que significa os animais são revelados. Este teatro é organizado por diferentes associações de jovens em várias localidades e consiste numa sequência de várias danças de máscaras e marionetas, ritmadas por instrumentos de percussão e por cânticos de coros femininos que dão voz às personagens. Estas máscaras e marionetas representam animais do rio (p. ex. peixes, crocodilos) ou do bosque (p. ex. hipopótamos, gazelas, leopardos) e figuras humanas (p. ex. velho, aldeão, funcionário da administração colonial, a esposa ideal, etc.), personificando estéreotipos ou caricaturando figuras conhecidas de todos. Este teatro é tido localmente como uma actividade lúdica e para além disso desempenha um papel social importante na veiculação de valores morais dentro das comunidades onde é levado a cena. A região de Ségou é atravessada pelo rio Níger e terá sido ao longo deste que esta prática se difundiu: primeiro entre as comunidades ribeirinhas piscatórias e mais tarde através das comunidades agrícolas. São quatro os grupos étnicos que dentro da sua comunidade perpetuam esta tradição: os Bozo e os Somonò – pescadores – e os agricultores e comerciantes Bamana e Maraka. Segundo Mary Jo Arnoldi, antropóloga autora do texto do catálogo (ARNOLDI, 2004), não existem muitas diferenças ao nível da estética ou da construção das máscaras/ marionetas entre os diferentes grupos; uma vez que aquelas chegam a ser adquiridas aos mesmos escultores itinerantes, e porque os diferentes grupos de jovens admitem influenciarem-se mutuamente. As diferenças acontecem mais ao nível da performance e de estilos muito próprios de dança, música ou do encadeamento entre estes dois. Após a independência do Mali em 1960, o governo malinense promoveu de tal forma este teatro como parte da herança cultural do país que este conheceu um ressurgimento e actualmente os grupos contam já com patrocínios nacionais e internacionais para a realização de tournées fora do país, tratando-se por isso de uma tradição viva.

Bibliografia

  • ARNOLDI, Mary Jo - Sogobo. Mascaras e marionetas do Mali. Lisboa: Instituto Portugues de Museus, 2004
  • ARNOLDI, Mary Jo - Playing with Time: art and performance in Central Mali. Bloomington, Indiana: Indiana University Press, 1995.
  • ARNOLDI, Mary Jo - "The sogow. Imagining a moral universe through Sogo bò masquerades". In: COLLEYN, Jean-Paul (ed.) - Bamana. The art of existence in Mali. New York: Museum for African Art, 2001, pp. 77-93.
  • DAGAN, E. A. - Emotions in Motion. Theatrical Puppets and Masks from Black Africa. Montréal: Galerie Amrad African Arts, 1990.
  • DARKOWSKA-NIDZGORSKI, Olenda, NIDZGORSKI, Denis - Marionettes et masques au coeur du théâtre africain. Saint-Maur: SEPIA, 1998.
  • Werewere-Liking - Marionettes du Mali. Paris: NEA-ARHIS. (Collection Traditions Africaines), [1987].

Exposições

  • Sogobò. Máscaras e Marionetas do Mali

    • Museu Nacional de Etnologia, Lisboa
    • 12/11/2004 a 30/5/2007
    • Exposição Física
  • Exposição permanente «O Museu, muitas coisas»

    • Museu Nacional de Etnologia, Avenida Ilha da Madeira, 1400-203 Lisboa
    • Exposição Física

Multimédia

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