Descrição: Máscara que representa uma cabeça de leão, em madeira, com um formato oval, pintada de cinzento e ornamentada com pintas amarelas e vermelhas.
A mandíbula inferior foi esculpida em separado e fixa à máscara através de um arame que trespassa de ambos os lados os dois elementos e por meio de uma tira de borracha preta. O seu exterior está pintado de cinzento, o interior de vermelho e a representação dos dentes consiste num contorno saliente pintado de branco com os dentes definidos por pequenos traços verticais vermelhos. A extremidade inferior da restante máscara apresenta um contorno em forma de serrilha, pintada de branco, com os dentes delimitados por pequenos traços verticais vermelhas. O nariz da máscara é pouco destacado e na sua extremidade inferior apresenta um triângulo pintado a preto com dois grandes orifícos contornados por pequenas pintas amarelas e vermelhas.
Os olhos foram esculpidos com uma forma circular e convexa e foram pintados de preto ao centro e contornados a vermelho e branco. Abaixo destes e a delimitar a sobrancelha esquerda encontra-se pregada uma tira estreita de cabedal.
De ambos os lados do topo da cabeça encontram-se esculpidas duas orelhas erectas ornamentadas da mesma forma.
Ao longo do contorno posterior da máscara encontra-se fixo um tecido preto listado a cinzento, vermelho e dourado e que pende ao longo de toda a altura da máscara.
A máscara encontra-se apoiada num suporte metálico que consiste numa base quadrangular preta, na qual apoia um pilar vertical com um formato paralelipipédico, cujo topo está ligado a um ferro moldado em formato de U. Este acompanha a metade inferior do contorno posterior da máscara e as suas extremidades encaixam em dois orifícios laterais.
Base - 17 x 16,5 cm
Origem/Historial: Personagem do teatro popular de máscaras e marionetas.
Objecto pertencente a um total de 50 máscaras e marionetas provenientes do Mali, adquiridos por Francisco Capelo a Sónia e Albert Loeb, com vista à sua doação ao Museu Nacional de Etnologia, concretizada em 2004. Esta doação foi homenageada pelo Museu através da realização da exposição temporária "Sogobó. Máscaras e Marionetas do Mali", patente ao público entre 12 de Novembro de 2004 e 30 de Maio de 2007. A sua inauguração teve lugar no dia de aniversário do doador, segundo a sua vontade, quando este completou 50 anos de idade, facto esse assinalado intencionalmente pelo número de objectos doados.
Este conjunto de objectos faz parte de um conjunto mais vasto recolhido na região centro-sul do Mali, entre 2001 e 2003, pelos coleccionadores e galeristas franceses Sónia e Albert Loeb.
O teatro de máscaras e marionetas tem uma tradição secular naquela zona do Mali, mais concretamente na região de Ségou e adquire localmente diversas designações, das quais sogobó é apenas uma delas e que significa os animais são revelados. Este teatro é organizado por diferentes associações de jovens em várias localidades e consiste numa sequência de várias danças de máscaras e marionetas, ritmadas por instrumentos de percussão e por cânticos de coros femininos que dão voz às personagens.
Estas máscaras e marionetas representam animais do rio (p. ex. peixes, crocodilos) ou do bosque (p. ex. hipopótamos, gazelas, leopardos) e figuras humanas (p. ex. velho, aldeão, funcionário da administração colonial, a esposa ideal, etc.), personificando estéreotipos ou caricaturando figuras conhecidas de todos.
Este teatro é tido localmente como uma actividade lúdica e para além disso desempenha um papel social importante na veiculação de valores morais dentro das comunidades onde é levado a cena.
A região de Ségou é atravessada pelo rio Níger e terá sido ao longo deste que esta prática se difundiu: primeiro entre as comunidades ribeirinhas piscatórias e mais tarde através das comunidades agrícolas. São quatro os grupos étnicos que dentro da sua comunidade perpetuam esta tradição: os Bozo e os Somonò – pescadores – e os agricultores e comerciantes Bamana e Maraka.
Segundo Mary Jo Arnoldi, antropóloga autora do texto do catálogo (ARNOLDI, 2004), não existem muitas diferenças ao nível da estética ou da construção das máscaras/ marionetas entre os diferentes grupos; uma vez que aquelas chegam a ser adquiridas aos mesmos escultores itinerantes, e porque os diferentes grupos de jovens admitem influenciarem-se mutuamente. As diferenças acontecem mais ao nível da performance e de estilos muito próprios de dança, música ou do encadeamento entre estes dois.
Após a independência do Mali em 1960, o governo malinense promoveu de tal forma este teatro como parte da herança cultural do país que este conheceu um ressurgimento e actualmente os grupos contam já com patrocínios nacionais e internacionais para a realização de tournées fora do país, tratando-se por isso de uma tradição viva.
Bibliografia
ARNOLDI, Mary Jo - Sogobo. Mascaras e marionetas do Mali. Lisboa: Instituto Portugues de Museus, 2004
ARNOLDI, Mary Jo - Playing with Time: art and performance in Central Mali. Bloomington, Indiana: Indiana University Press, 1995.
ARNOLDI, Mary Jo - "The sogow. Imagining a moral universe through Sogo bò masquerades". In: COLLEYN, Jean-Paul (ed.) - Bamana. The art of existence in Mali. New York: Museum for African Art, 2001, pp. 77-93.
DAGAN, E. A. - Emotions in Motion. Theatrical Puppets and Masks from Black Africa. Montréal: Galerie Amrad African Arts, 1990.
DARKOWSKA-NIDZGORSKI, Olenda, NIDZGORSKI, Denis - Marionettes et masques au coeur du théâtre africain. Saint-Maur: SEPIA, 1998.