Cabeça de pequena fera malhada

  • Museu: Museu Nacional de Etnologia
  • Nº de Inventário: BF.888
  • Super Categoria: Etnologia
  • Categoria: Actividades lúdicas
  • Autor: Autor desconhecido
  • Datação: Século 20/21
  • Dimensões (cm): Alt. 62 x Larg. 29 x Prof. 22
  • Descrição: Máscara que representa o rosto de um animal, em madeira, com um formato grosseiramente circular, pintada de castanho e malhada de preto. A mandíbula inferior foi esculpida em separado e pintada da mesma forma da restante máscara e fixa a esta de ambos os lados através de um arame que trespassa os dois elementos e através de uma tira de borracha preta. A dentição foi esculpida em serrilha e pintada de branco e todo o interior da mandíbula foi pintado de vermelho. A mandíbula superior apresenta uma dentição semelhante, pintada de branco com um contorno a vermelho. Abaixo do nariz encontram-se pêlos animais colados em represemtação de um bigode. O nariz é pouco destacado, com a superfície inferior das narinas pintada de vermelho. De ambos os lados do nariz encontram-se dois pequenos orifícios e acima destes estão representados os olhos, esculpidos de forma circular e convexa, pintados no seu interior a preto e contornados a vermelho e preto. No topo da máscara encontram-se duas pequenas orelhas erectas, com a superfície exterior decorada de forma idêntica à restante máscara e a superfície interior de vermelho. Na parte posterior da máscara apresenta um contorno de madeira pintado de azul. O interior da máscara apresenta a cor natural da madeira. Tanto a parte posterior da mandíbula, como o contorno superior da máscara apresentam ainda os agrafes que fixaram o tecido que vestiu esta personagem. A máscara encontra-se apoiada num suporte metálico que consiste numa base quadrangular preta, na qual apoia um pilar vertical com um formato paralelipipédico, cujo topo está ligado a um ferro moldado em formato de U. Este acompanha a metade inferior do contorno posterior da máscara e as suas extremidades encaixam em dois orifícios laterais. Base - 18,2 x 15 cm
  • Origem/Historial: Personagem do teatro popular de máscaras e marionetas. Objecto pertencente a um total de 50 máscaras e marionetas provenientes do Mali, adquiridos por Francisco Capelo a Sónia e Albert Loeb, com vista à sua doação ao Museu Nacional de Etnologia, concretizada em 2004. Esta doação foi homenageada pelo Museu através da realização da exposição temporária "Sogobó. Máscaras e Marionetas do Mali", patente ao público entre 12 de Novembro de 2004 e 30 de Maio de 2007. A sua inauguração teve lugar no dia de aniversário do doador, segundo a sua vontade, quando este completou 50 anos de idade, facto esse assinalado intencionalmente pelo número de objectos doados. Este conjunto de objectos faz parte de um conjunto mais vasto recolhido na região centro-sul do Mali, entre 2001 e 2003, pelos coleccionadores e galeristas franceses Sónia e Albert Loeb. O teatro de máscaras e marionetas tem uma tradição secular naquela zona do Mali, mais concretamente na região de Ségou e adquire localmente diversas designações, das quais sogobó é apenas uma delas e que significa os animais são revelados. Este teatro é organizado por diferentes associações de jovens em várias localidades e consiste numa sequência de várias danças de máscaras e marionetas, ritmadas por instrumentos de percussão e por cânticos de coros femininos que dão voz às personagens. Estas máscaras e marionetas representam animais do rio (p. ex. peixes, crocodilos) ou do bosque (p. ex. hipopótamos, gazelas, leopardos) e figuras humanas (p. ex. velho, aldeão, funcionário da administração colonial, a esposa ideal, etc.), personificando estéreotipos ou caricaturando figuras conhecidas de todos. Este teatro é tido localmente como uma actividade lúdica e para além disso desempenha um papel social importante na veiculação de valores morais dentro das comunidades onde é levado a cena. A região de Ségou é atravessada pelo rio Níger e terá sido ao longo deste que esta prática se difundiu: primeiro entre as comunidades ribeirinhas piscatórias e mais tarde através das comunidades agrícolas. São quatro os grupos étnicos que dentro da sua comunidade perpetuam esta tradição: os Bozo e os Somonò – pescadores – e os agricultores e comerciantes Bamana e Maraka. Segundo Mary Jo Arnoldi, antropóloga autora do texto do catálogo (ARNOLDI, 2004), não existem muitas diferenças ao nível da estética ou da construção das máscaras/ marionetas entre os diferentes grupos; uma vez que aquelas chegam a ser adquiridas aos mesmos escultores itinerantes, e porque os diferentes grupos de jovens admitem influenciarem-se mutuamente. As diferenças acontecem mais ao nível da performance e de estilos muito próprios de dança, música ou do encadeamento entre estes dois. Após a independência do Mali em 1960, o governo malinense promoveu de tal forma este teatro como parte da herança cultural do país que este conheceu um ressurgimento e actualmente os grupos contam já com patrocínios nacionais e internacionais para a realização de tournées fora do país, tratando-se por isso de uma tradição viva.

Bibliografia

  • ARNOLDI, Mary Jo - Sogobo. Mascaras e marionetas do Mali. Lisboa: Instituto Portugues de Museus, 2004
  • ARNOLDI, Mary Jo - Playing with Time: art and performance in Central Mali. Bloomington, Indiana: Indiana University Press, 1995.
  • ARNOLDI, Mary Jo - "The sogow. Imagining a moral universe through Sogo bò masquerades". In: COLLEYN, Jean-Paul (ed.) - Bamana. The art of existence in Mali. New York: Museum for African Art, 2001, pp. 77-93.
  • DAGAN, E. A. - Emotions in Motion. Theatrical Puppets and Masks from Black Africa. Montréal: Galerie Amrad African Arts, 1990.
  • DARKOWSKA-NIDZGORSKI, Olenda, NIDZGORSKI, Denis - Marionettes et masques au coeur du théâtre africain. Saint-Maur: SEPIA, 1998.
  • Werewere-Liking - Marionettes du Mali. Paris: NEA-ARHIS. (Collection Traditions Africaines), [1987].

Exposições

  • Sogobò. Máscaras e Marionetas do Mali

    • Museu Nacional de Etnologia, Lisboa
    • 12/11/2004 a 30/5/2007
    • Exposição Física

Multimédia

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