Descrição: Espaldar moldurado, com lados ligeiramente reentrantes e cantos arredondados, do tipo "violonné". Cachaço alteado, com recorte superior ondulado e decoração entalhada tendo ao centro motivo concheado ladeado por festões. Possui almofada amovível, revestida de damasco. Braços direitos, moldurados na parte superior e enrolados nas extremidades; apoios curvos, moldurados, formados pelo prolongamento das pernas dianteiras. Assento ligeiramente trapezoidal, com coxim amovível estofado. A frente e as ilhargas apresentam recorte inferior ondulado e perfil moldurado; na aba, ao centro, decoração entalhada composta por concheado encimado por motivo floral.
Pernas dianteiras galbadas com joelhos decorados por cartela "rocaille" simétrica. Pés de garra e bola. Pernas traseiras de secção quadrada interrompida por torneado, com quebra ao nível da trempe de modo a formar os pés recuados de idêntica secção. Trempe torneada em H (Bastos e Proença, 1999)
Origem/Historial: Apesar da sua decoração remeter claramente para o 3º quartel do século XVIII, ao nível da estutura encontramos uma permanência de formas, nomeadamente nas pernas e nos braços, típica dos exemplares executados fora dos grandes centros de fabrico. As pernas, apesar de desprovidas do joelho largo e de saída brusca, características dos exemplares da 1ª. metade do século, permanecem robustas, e nos pés mantém-se a garra e bola, forma que tivera grande sucesso alguns anos antes. Os braços, ainda colocados no alinhamento das pernas dianteiras, refletem também uma continuidade em relação a modelos anteriores. Não deixa, contudo, de ser um exemplar elegante, aproximando-se de alguns modelos de cadeiras de braços executados no Brasil ou no Rio da Prata por artífices brasileiros, na 2ª metade do século XVIII.
Em cada uma das capelas do Paço Episcopal (capela particular e capela de fora), encontrava-se uma cadeira episcopal. Quer em 1821, quer em 1826, os inventários mencionam duas cadeiras grandes, acompanhadas por um dossel encarnado e de respaldo" na capela particular e "Hua Cadeira de respalde goarnecida de damasco vermelho, avaliada em tres mil e duzentos reis" na capela de fora. Em 1860 é referida "Huma cadeira grande de pau preto de braços com encosto e asento de veludo vermelho e docél de damasco vermelho e franja de retros".
Em 1997 foi vendida em leilão do Palácio Correio-Velho uma cadeira de braços em pau-santo com grandes afinidades decorativas e estruturais, e que pertenceu à Casa Palmela.
(Bastos e Proença, 1999)
Incorporação: antigo Paço Episcopal de Lamego
Bibliografia
BASTOS, Celina; PROENÇA, José António - Museu de Lamego. Mobiliário. Lisboa: IPM/Museu de Lamego, 1999
GUIMARÃES, Alfredo; SARDOEIRA, Albano - Mobiliário Artístico Português (Elementos para a sua História) - I- Lamego. Porto: Marques de Abreu, 1924
IAN/TT, Mitra de Lamego, Lv.º 50, Inventário do Espolio do Ex.mo e Rev.mo Bispo D. Joze de Jezus Maria Pinto. Lamego: 1826
IAN/TT, Mitra de Lamego, Lv.º49, Inventário das Alfaias, movens, e bens de Raiz, pertencentes ao Paço Episcopal. Lamego: 1821
IAN/TT, Mitra de Lamego, Lv.º50, Inventário de todos os moveis da Mitra de Lamego feito por ordem do Governo de Sua Majestade. Lamego: 1860
RIBEIRO, Agostinho - Mobiliário do Museu de Lamego (catálogo). Lamego: Museu de Lamego, 1997