Salva de pé alto

• Museu: Palácio Nacional da Ajuda
• Nº de Inventário: 4808
• Super Categoria: Arte
• Categoria: Ourivesaria
• Autor: Almeida, António Martins de ; (Ourives) Autor desconhecido (Ourives)
• Datação: Século 16/18
• Técnica: Prata gravada, repuxada, cinzelada e dourada
• Dimensões (cm): Alt. 20,8 x Diâm. 36,9
• Descrição: Salva de pé alto em prata dourada, gravada, repuxada e cinzelada, com decoração organizada em círculos concêntricos representando várias cenas, separadas por árvores, aparentemente sem relação sequencial: construções fortificadas junto ao mar, caravelas, cenas de batalha entre cavaleiros, uma partida para a caça (?), entre outras. O centro alteado, apresenta um medalhão com as armas plenas dos Sá, usadas pelos chefes desta família, Condes de Penaguião, mais tarde Marqueses de Fontes e Abrantes, a quem terá pertencido esta peça. O medalhão é moldurado por uma larga faixa de motivos fitomórficos e um pequeno friso canelado. A primeira faixa decorativa representa dois episódios distintos divididos por árvores e por duas cidades amuralhadas, sendo uma delas maior que a outra. Um dos episódios descreve uma despedida num cais, representando várias figuras ricamente trajadas, umas voltadas de costas para terra, outras conversando entre si, que assistem à largada das naus. Uma nau é representada de ré e imediatamente ao seu lado observam-se as velas e os mastros de uma segunda embarcação. O outro episódio tem também como tema central as naus e o mar. Nela representa-se fielmente uma frota de três caravelas dispostas lateralmente sobre as águas e engalanadas com flâmulas e pequenas bandeiras. As mesmas são enquadradas, de um lado, por duas figuras, uma trajando à civil segurando uma espécie de tabuleiro encanastrado e um soldado de viseira e escudo e, do outro lado, por um outro soldado que luta com um leão. Na segunda faixa decorativa, antecedida por um sulco côncavo, representam-se cinco episódios aprarentemente sem sequência lógica, divididos por árvores. Uma das cenas representa duas figuras sentadas frente a frente, recebendo um grupo de personagens, uma das quais se ajoelha em sinal de reverência. Em segundo plano observam-se as muralhas de uma cidade, em tudo semelhantes às já representadas na primeira faixa. O episódio seguinte representa um cavaleiro com capacete de viseira, espada e escudo, junto a uma figura feminina que segura as rédeas do cavalo. A cena seguinte retrata uma aguerrida cena de batalha entre cavaleiros que se degladiam com lanças e espadas. Vários cavaleiros e cavalos encontram-se prostrados sobre terra. Esta cena é, na sua extremidade esquerda, contemplada por uma figura feminina que sobre um pequeno rochedo com arbustros, levanta as duas mãos. No sector seguinte dispõem-se as muralhas de uma imponente cidade, semelhantes às referenciadas na primeira faixa. No lado exterior da muralha observam-se vários javalis por entre os arbustros e, mais à direita, um cavaleiro empunhando uma flâmula, deslocando-se por entre densa vegetação. Junto, uma mulher que aparentemente o aguarda. O último episódio representa vários personagens, ricamente trajados. Uma mulher de toucado e vários homens de turbante e chapéu, um deles montado a cavalo e, perante o mesmo, uma mulher ajoelhada. Esta segunda faixa é rematada por um pequeno friso canelado. Bordo recortado, decorado com faixa de óvulos e entrelaços, circundada por concheados, intercalando corolas de flor molduradas por volutas. O reverso do prato apresenta decoração de teor vegetalista organizada em dois círculos concêntricos, separados por faixa de óvulos e entrelaços. O círculo exterior apresenta três composições de grandes volutas afrontadas, ao centro das quais pende uma corola de flor flanqueada por festões de folhas. São intercaladas por profusa decoração de folhagem, outras volutas, corolas de flores e pequenos segmentos de perlado, sobre campo puncionado. Faixa com recticulado de quadrículas no contorno exterior. O círculo interior apresenta a mesma temática decorativa, destacando-se igualmente três pares de volutas afrontadas, intercaladas por outras volutas mais pequenas e profusa folhagem sobre campo puncionado. Pé circular com molduramento côncavo liso e decoração cinzelada em dois registos de bandas entrelaçadas e volutas, intercaladas por folhagem e corolas de flor pendentes. Haste com pequeno friso canelado e nó em forma de urna decorado com friso de godrões, corolas no interior de arcaturas e quadrifólios com estrelaços. A secção superior da haste apresenta faixa com folhas de acanto intercaladas por ornato vegetalista estilizado.
• Origem/Historial: O prato superior, datado da primeira metade do século XVI, assenta numa outra salva com bordo recortado e pé alto, adaptados pelo ourives António Martins de Almeida, entre 1720 e 1750. O medalhão central com as armas plenas dos Sá é também de aplicação posterior, possivelmente contemporâneo da época do arranjo do reverso e do pé. Os vários componentes da peça são unidos no interior por meio de rosca. De António Martins de Almeida, ourives natural de Beja com oficina em Lisboa e executante de obras para o rei D. João V, são conhecidos vários exemplares pertencentes a colecções, fundações particulares e museus. Na colecção do Palácio Nacional da Ajuda identificamos mais três salvas de pé alto igualmente adaptadas pela sua mão (PNA, inv. 4813, 4802 e 4801); a Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva conta com um Gomil e Bacia da barba, bem como com uma Bacia de sangria (ou da barba) com as suas iniciais (FRESS, inv. 488/1/2 e inv. 69, respectivamente) e o Museu Rainha D. Leonor, em Beja integra no seu acervo a Banqueta da Igreja da Encarnação e o Andor de São João Evangelista (MB, inv. 132) também saídos da sua oficina. Segundo Reynaldo dos Santos, este ourives será “um dos melhores artistas, dos mais fecundos e bem identificados pelas obras que se lhe podem atribuir, da primeira metade do século XVIII” (vd. SANTOS, Reynaldo dos, QUILHÓ, Irene, “Ourivesaria Portuguesa nas Colecções Particulares”, Lisboa, 1974, p. 240). Esta peça pertenceu à família dos Sá e mais tarde veio a integrar os bens da Casa Real portuguesa passando a fazer parte do vasto conjunto da prata de aparato. Foi inventariada no “Arrolamento do Palácio Nacional das Necessidades”, vol. 7, 1910-1912, sob a verba “16939” e em 1929 foi transferida para o Palácio Nacional da Ajuda.
• Incorporação: Casa Real
• Centro de Fabrico: Lisboa, Portugal