Salva de pé alto

• Museu: Palácio Nacional da Ajuda
• Nº de Inventário: 4813
• Super Categoria: Arte
• Categoria: Ourivesaria
• Autor: Almeida, António Martins de ; (Ourives) Autor desconhecido (Ourives)
• Datação: Século 16/18
• Técnica: Prata cinzelada, repuxada e dourada
• Dimensões (cm): Alt. 19,2 x Diâm. 35,2
• Descrição: Salva de pé alto em prata dourada, gravada, repuxada e cinzelada, com decoração organizada em círculos concêntricos, com cenas alusivas à Entrada Triunfal de Júlio César (101-44 a.C.) em Roma (c.50 a.C.); numa alegoria aos grandes impérios da Antiguidade. O centro, alteado, apresenta um medalhão com as armas plenas dos Sá, usadas pelos chefes desta família, Condes de Penaguião, mais tarde Marqueses de Fontes e Abrantes, a quem terá pertencido esta peça. O medalhão é moldurado por friso de entrelaços e flores sextafólias. A primeira faixa decorativa apresenta uma série de motivos alusivos às glórias do imperador, permanentemente enquadrados em composições de troféus de guerra: uma criança sentada sobre aljavas, segurando na mão esquerda um globo terrestre, símbolo do domínio do Mundo e, ao lado, uma palma como símbolo de vitória; uma reserva formada por coroa de louros com um busto de criança, flanqueado por corneteiros; tambores, cornetas e um elmo sobre estandartes; uma figura feminina sentada sobre o dorso de dois cavalos, segurando na mão direita uma coroa de louros e, mais uma vez, dois meninos corneteiros flanqueando as vestes e o elmo de soldado romano. Esta primeira faixa é moldurada por friso recticulado. A segunda faixa decorativa, antecedida por um sulco côncavo liso, retrata o tema principal: a "Entrada Triunfal de Júlio César em Roma", constituída por um grandioso cortejo de civis, músicos e soldados que, em registo contínuo preenche toda esta faixa. Junto às muralhas e à porta da cidade apresentam-se duas figuras: uma feminina, simbolizando a glória, segurando uma coroa de louros numa mão e uma palma na outra e, uma criança, segurando uma esfera. A porta da cidade, em forma de arco, é encimada pela inscrição "ROMA". O cortejo avança em direcção a esta última, observando-se um soldado que a transpõe, logo seguido de um grupo de mulheres (uma delas cativa) e cianças. Seguem-se dois cavaleiros e um conjunto de músicos tocando cornetas e pandeireta. Antecedem o carro triunfal do Imperador vários estandartes e flâmulas em hino à sua glória. Num deles representa-se a loba e os gémeos Rómulo e Rémulo e, num outro, figura uma águia numa clara alusão ao poder da vitória. Junto ao carro de Júlio César, puxado por uma parelha de cavalos, um soldado carrega um outro estandarte com o nome do imperador "IVLIO / SEZAR" envolto em folhas de louro. César é representado sentado no seu carro, segurando uma palma e um bastão com uma águia de asas abertas, ambos símbolos de vitória e poder. Um menino coloca uma coroa de louros sobre a cabeça do imperador e dois meninos despidos agitam ramos de oliveira, em alusão à paz. O carro é seguido por um conjunto de cavaleiros transportando flâmulas e o cortejo termina com um conjunto de soldados transportando preciosidades: ânforas, jarros e, sobre um andor, uma grande bacia repleta de moedas. Esta segunda faixa é moldurada na orla interior por friso de pequenas contas e na exterior por friso canelado. Bordo recortado, decorado com faixa de óvulos e entrelaços, circundada por concheados intercalando corolas de flor molduradas por volutas. O reverso do prato apresenta decoração de teor vegetalista organizada em dois círculos concêntricos, separados por faixa de óvulos e entrelaços. O círculo exterior apresenta três composições de grandes volutas afrontadas, ao centro das quais pende uma corola de flor flanqueada por festões de folhas. São intercaladas por profusa decoração de folhagens, outras volutas, corolas de flores e pequenos segmentos de perlado, sobre campo puncionado. Faixa com recticulado de quadrículas no contorno exterior. O círculo interior apresenta uma temática decorativa semelhante, com pares de volutas afrontadas, festões de flores, profusa folhagem e pequenos cachos de uvas. Pé circular, com molduramento côncavo liso e decoração cinzelada em dois registos de bandas entrelaçadas e volutas, intercaladas por folhagem e corolas de flor pendentes. Haste moldurada, com nó em forma de urna, decorado com quadrifólios, godrões no interior de arcaturas e quadrifólios com entrelaços. A secção superior da haste apresenta faixa com folhas de acanto cinzeladas.
• Origem/Historial: O prato superior, datado da primeira metade do século XVI, assenta numa outra salva com bordo recortado e pé alto, adaptados pelo ourives António Martins de Almeida, entre finais do século XVII e 1720. O medalhão central com as armas plenas dos Sá é também de aplicação posterior, possivelmente contemporâneo da época do arranjo do reverso e do pé. Os vários componentes da peça são unidos no interior por meio de rosca. De António Martins de Almeida, ourives natural de Beja com oficina em Lisboa e executante de obras para o rei D. João V, são conhecidos vários exemplares pertencentes a colecções, fundações particulares e museus. Na colecção do Palácio Nacional da Ajuda identificamos mais três salvas de pé alto igualmente adaptadas pela sua mão (PNA, inv. 4808, 4802 e 4801); a Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva conta com um Gomil e Bacia da barba, bem como com uma Bacia de sangria (ou da barba) com as suas iniciais (FRESS, inv. 488/1/2 e inv. 69, respectivamente) e o Museu Rainha D. Leonor, em Beja integra no seu acervo a Banqueta da Igreja da Encarnação e o Andor de São João Evangelista (MB, inv. 132) também saídos da sua oficina. Segundo Reynaldo dos Santos, este ourives será “um dos melhores artistas, dos mais fecundos e bem identificados pelas obras que se lhe podem atribuir, da primeira metade do século XVIII” (vd. SANTOS, Reynaldo dos, QUILHÓ, Irene, “Ourivesaria Portuguesa nas Colecções Particulares”, Lisboa, 1974, p. 240). Esta peça pertenceu à família dos Sá e mais tarde veio a integrar os bens da Casa Real portuguesa passando a fazer parte do vasto conjunto da prata de aparato. Foi inventariada no “Arrolamento do Palácio Nacional das Necessidades”, vol. 7, 1910-1912, sob a verba “16943” e em 1929 foi transferida para o Palácio Nacional da Ajuda.
• Incorporação: Casa Real
• Centro de Fabrico: Lisboa, Portugal