Salva de pé alto

  • Museu: Palácio Nacional da Ajuda
  • Nº de Inventário: 4801
  • Super Categoria: Arte
  • Categoria: Ourivesaria
  • Autor: Almeida, António Martins de ; (Ourives) Autor desconhecido (Ourives)
  • Datação: Século 16/18
  • Técnica: Prata cinzelada, repuxada e dourada
  • Dimensões (cm): Alt. 21 x Diâm. 36,9
  • Descrição: Salva de pé alto em prata dourada, gravada repuxada e cinzelada, com decoração organizada em círculos concêntricos, relatando a história de David e Absalão. O centro, alteado, apresenta um medalhão com as armas plenas dos Sá, usadas pelos chefes desta família, Condes de Penaguião, mais tarde Marqueses de Fontes e Abrantes, a quem terá pertencido esta peça. O medalhão é moldurado por uma larga faixa de motivos fitomórficos. A primeira faixa decorativa apresenta uma cena de batalha entre os homens de David e Absalão; figurando na mesma um acampamento de tendas, cavaleiros armados de espadas e lanças, corneteiros e porta estandartes. A segunda faixa decorativa, antecedida por um sulco côncavo liso, retrata o tema principal: a luta de David e Absalão. Absalão, filho de David, quis usurpar o trono a seu pai e com esse objectivo reuniu várias tribos israelitas contra o rei David. O combate travou-se na floresta Efraim, onde os israelitas foram derrotados pelos homens de David. Entre as aguerridas cenas de batalha retratadas na segunda faixa, destacam-se dois episódios fulcrais na história: o da captura de Absalão, onde se observa a mula que o mesmo montava a fugir e Absalão suspenso pela sua cabeleira dos galhos da árvore. O segundo episódio é o do relato da notícia a David, quando avisado da morte de Absalão por Aimaás, filho de Sadoc. O trono em que David se senta é decorado por cabeças de golfinho no topo do espaldar e por cabeças de leão nos braços. Esta segunda faixa é rematada por um pequeno friso canelado. A ambição e a tentação de Absalão simbolizam a luta entre o Bem e o Mal. Bordo recortado, decorado com faixa de óvulos e entrelaços, circundada por concheados, intercalando corolas de flores molduradas por volutas. O reverso do prato apresenta decoração de teor vegetalista organizada em dois círculos concêntricos, separados por faixa de óvulos e entrelaços. O círculo exterior apresenta três composiçõesde grandes volutas afrontadas, ao centro das quais pende uma corola de flor flanqueada por festões de folhas. São intercaladas por profusa decoração de folhagem, outras volutas, corolas de flores e pequenos segmentos de perlado, sobre campo puncionado. Faixa com recticulado de quadrículas no contorno exterior. O círculo interior apresenta a mesma temática decorativa, destacando-se igualmente três pares de volutas afrontadas, intercaladas por outras volutas mais pequenas e profusa folhagem sobre campo puncionado. Pé circular com molduramento côncavo liso e dois registos com decoração cinzelada de bandas entrelaçadas em folhagem, pequenos quadrifólios e volutas afrontadas, intercaladas por reservas ovais. Haste com nó em forma de urna, decorado com quadrifólios, corolas no interior de arcaturas e volutas afrontadas moldurando motivos de cariz vegetalista. A secção superior da haste apresenta faixa com folhas de acanto.
  • Origem/Historial: O prato superior, datado da primeira metade do século XVI, assenta numa outra salva com bordo recortado e pé alto, adaptados pelo ourives António Martins de Almeida, entre 1720 e 1750. O medalhão central com as armas plenas dos Sá é também de aplicação posterior, possivelmente contemporâneo da época do arranjo do reverso e do pé. Os vários componentes da peça são unidos no interior por meio de rosca. De António Martins de Almeida, ourives natural de Beja com oficina em Lisboa e executante de obras para o rei D. João V são conhecidos vários exemplares pertencentes a colecções, fundações particulares e museus. Na colecção do Palácio Nacional da Ajuda identificamos mais três salvas de pé alto igualmente adaptadas pela sua mão (PNA, inv. 4808, 4813 e 4802); a Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva conta com um Gomil e Bacia da barba, bem como com uma Bacia de sangria (ou da barba) com as suas iniciais (FRESS, inv. 488/1/2 e inv. 69, respectivamente) e o Museu Rainha D. Leonor em Beja integra no seu acervo a Banqueta da Igreja da Encarnação e o Andor de São João Evangelista (MB, inv. 132) também saídos da sua oficina. Segundo Reynaldo dos Santos, este ourives será “um dos melhores artistas, dos mais fecundos e bem identificados pelas obras que se lhe podem atribuir, da primeira metade do século XVIII” (vd. SANTOS, Reynaldo dos, QUILHÓ, Irene, “Ourivesaria Portuguesa nas Colecções Particulares”, Lisboa, 1974, p. 240). Esta peça pertenceu à família dos Sá e mais tarde veio a integrar os bens da Casa Real portuguesa passando a fazer parte do vasto conjunto da prata de aparato. Foi inventariada no “Arrolamento do Palácio Nacional das Necessidades”, vol. 7, 1910-1912, sob a verba “16946” e em 1929 foi transferida para o Palácio Nacional da Ajuda.
  • Incorporação: Casa Real
  • Centro de Fabrico: Lisboa, Portugal

Bibliografia

  • TEIXEIRA, José - D. Fernando II, Rei-Artista. Artista-Rei. Lisboa: Fundação da Casa de Bragança, 1986
  • ANDRADE, Maria do Carmo Rebello de - Iconografia Narrativa na Ourivesaria Manuelina: as Salvas Historiadas, Dissertação de Mestrado em História da Arte, FCSH, UNL: Out. 1997
  • APNA, Direcção Geral da Fazenda Pública, Arrolamento do Palácio Nacional das Necessidades, vol. 7, Casa Forte, 1910-1912
  • CAETANO, Joaquim Oliveira - Função, Decoração e Iconografia das Salvas, in Inventário do Museu Nacional de Arte Antiga. A Colecção de Ourivesaria. 1º Vol.: do românico ao manuelino. Lisboa: IPM, 1995
  • COUTO, João; GONÇALVES, A. Manuel - Ourivesaria em Portugal. Lisboa: Livros Horizonte, 1960
  • OREY, Leonor d' - Ourivesaria, Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva. Lisboa: FRESS, 1998
  • SANTOS, Reynaldo dos; QUILHÓ, Irene - Ourivesaria Portuguesa nas Colecções Particulares. Lisboa: Neogravura Lda., 1974
  • ALMEIDA, Fernando Moitinho de - Marcas de Pratas Portuguesas e Brasileiras (Século VX a 1887). Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1995
  • XAVIER, Hugo - O Museu de Antiguidades da Ajuda: Numismática e Ourivesaria das colecções reais ao tempo de D. Luís. Revista Museus e Investigação, n.º 8. Lisboa: Instituto de História da Arte / Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 2011
  • JARDIM, Maria do Rosário; MONTEIRO, Inês Líbano - A Prata do solene aparato da Coroa portuguesa a partir da segunda metade do século XVIII. Identificação de um conjunto de 23 obras dos sécs. XVI a XVIII. Revista de Artes Decorativas, n.º 4. Porto: CITAR / UCP, 2010
  • ANDRADE, Maria do Carmo Rebello de - Artes da Mesa e Cerimoniais Régios na Corte do século XVI. Uma viagem através de obras de arte da ourivesaria nacional. A Mesa dos Reis de Portugal (coord. Ana Isabel Buscu e David Felismino). Lisboa: Círculo de Leitores, 2011
  • JARDIM, Maria do Rosário; MONTEIRO, Inês Líbano - A Prata de Aparato das Cerimónias Régias (a partir da 2.ª metade do século XVIII) in Actas do III Colóquio Português de Ourivesaria (UCP, 18 e 19 de Novembro 2011). Porto: Universidade Católica Portuguesa, 2012
  • SILVA, Nuno Vassallo e - Ourivesaria Portuguesa de Aparato, séculos XV e XVI. Lisboa: Scribe, 2012
  • MONTEIRO, Inês Líbano - "A Prata das Cerimónias Solenes". in RIBEIRO, José Alberto (coord.). Catálogo do Museu Tesouro Real do Palácio Nacional da Ajuda. Lisboa: Imprensa Nacional, 2023
  • CRESPO, Hugo Miguel - "As dez salvas do real aparato e a ourivesaria do seu tempo". in RIBEIRO, José Alberto (coord.). Catálogo do Museu Tesouro Real do Palácio Nacional da Ajuda. Lisboa: Imprensa Nacional, 2023
  • ANDRADE, Maria do Carmo Rebello de - "Istorias, Bastiães e Figuras. Na origem da ourivesaria de tradição narrativa". in RIBEIRO, José Alberto (coord.). Catálogo do Museu Tesouro Real do Palácio Nacional da Ajuda. Lisboa: Imprensa Nacional, 2023

Exposições

  • D. Luís I, Duque do Porto e Rei de Portugal

    • Palácio Nacional da Ajuda - Museu
    • 1/1/1990 a 31/7/1990
    • Exposição Física
  • Tesouros Reais

    • Palácio Nacional da Ajuda - Museu
    • 15/7/1991 a 15/10/1992
    • Exposição Física
  • Exposição de Ourivesaria Portuguesa e Francesa

    • Fundação Ricardo Espírito Santo Silva, Lisboa
    • Exposição Física
  • Catálogo das Jóias e Pratas da Coroa

    • Palácio Nacional da Ajuda
    • Exposição Física
  • XVII Exposição Europeia de Arte Ciência e Cultura. Os Descobrimentos Portugueses e a Europa do Renascimento

    • Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa
    • Exposição Física
  • Exhibition of Portuguese Art, 800-1800

    • Royal Academy of Arts; London
    • 29/10/1955 a 19/2/1956
    • Exposição Física
  • Museu Tesouro Real

    • Palácio Nacional da Ajuda
    • Exposição Física

Multimédia

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