Técnica: Madeira torneada, recortada e dourada; bronze dourado; pintura policroma lacada, segundo a técnica francesa do Vernis Martin
Dimensões (cm): Alt. 131,5 x Larg. 139 x Prof. 4
Descrição: O biombo de três folhas assimétricas, com as três faces em trama de seda pintada a dourado, imitando a palhinha: trompe l'oeil da verga entrançada. As folhas dispõem-se de forma crescente, sendo a da esquerda a mais baixa e a da direita a mais alta. No topo de cada folha pequenos painéis com pintura lacada policroma - ténica do Vernis Martin. A pintura é de temática bucólica: jardins românticos com pássaros, flores, frutos, ânforas e gradeamentos.
No verso, a superfície destes pequenos paineis é em pintura lacada lisa - cor de cobre manchado, debruado com um filiete castanho - sem qualquer iconografia.
Em cada folha, a moldura dourada apresenta um entalhamento liso nos painies inferiores, por contraponto ao seu modo serpenteante / ondulado, representado nos topos. Aqui, a decoração da talha, com folhagem, volutas e concheados, acompanha as formas intrínsecas representadas nas pinturas.
No verso a moldura da talha é toda lisa, sem decoração entalhada, mesmo nos topos; ao centro de cada pano existe uma travessa para reforço estrutural.
Origem/Historial: Adquirido pela rainha D. Maria Pia na viagem realizada em 1888 pelo valor de 1850 francos franceses (conforme factura de Paul Sormani, de 8 de Dezembro 1888 - IAN/TT, AHMF, CR. Administração da Casa da Rainha, Cx. 6954)
Referido também em doc. do APNA 5-II-35. "Moveis Modernos". Rascunho em folha solta, dentro de um caderno de apontamentos sobre fornecedores. Todas as peças constantes desta nota encontram-se na factura referida.
Paul Sormani (1817-1877). Ebéniste francês, eleito pela elite parisiense e fornecedor da casa imperial francesa, era especializado na reprodução de móveis Luís XV e Luís XVI. Teve como pares de ofício nomes como os de Henry Dasson (1825-1896), G. Durand (1839-1920), François Linke (1855-1946) e Alphonse Giroux (act. 1838-1867), igualmente fornecedores da Coroa, estabelecidos em Paris. Entre os Mestres setecentistas por si fielmente seguidos, destacam-se Charles Cressent (1685-1768) e Jean-Henri Riesener (1734-1806).
No Palácio da Ajuda existem diversas obras suas. Desde mobiliário - cómodas, secretárias, mesas, biombos e vitrines - a estojos com serviços de toucador, toilette e piquenique, comprados por D. Maria Pia directamente na loja, durante viagens realizadas ao longo do reinado, ou encomendados a partir de Lisboa, por intermédio de catálogos e fotografias remetidas pelo estabelecimento comercial de Paris.
Italiano, natural de Canzo, na região de Veneza (província de Como na Lombardia), Paul Sormani casa em 1847 com a francesa Ursule Marie-Philippine Bouvaist e instala-se em Paris. Neste mesmo ano já se conhece a sua primeira oficina, no número 7 cimetière Saint Nicolas; em 1854 muda-se para o número 114 rue du Temple; e, finalmente, em 1867, fixa-se no número 10 rue Charlot, onde exerce até morrer. Após 1877, o filho Paul-Charles Sormani e a mulher mantêm a oficina da rue Charlot aberta. Só em 1914, quando se associam à casa Thiebault frères, se estabelecem no número 134 boulevard Haussman, que encerra em 1934.
De início especializado em nécessaires, malas e estojos de viagem, é fundamentalmente a apartir de 1867 que começa a dedicar-se mais ao fabrico de mobiliário, especializando-se nos petits meubles de luxe et de fantaisie, como o próprio identificava. Uma patente sua registada em Inglaterra, a 26 de Novembro de 1852, pela invenção de um "estojo de viagem aperfeiçoado", indica-nos não só a criatividade e originalidade que detinha na matéria, como o facto, aparentemente desconhecido, de ter tido loja em Londres. Mas foi através do mobiliário e da sua mestria em ébénisterie, que o seu nome se afirmou.
Logo dois anos depois de ter actividade aberta em Paris, em 1849, participou na Exposição Industrial realizada na cidade, ganhando uma medalha de Bronze. A esta seguiram-se: a Exposição Universal de 1855 (Paris), onde lhe foi atribuida a medalha de prata de Primeira Classe; a de Londres, 1862, onde recebeu uma medalha de 2º Lugar e, finalmente, a 2ª Exposição Universal de Paris, em 1867, na qual apresentou móveis pequenos de luxo. Nesta mostra recebeu a medalha de Prata, tendo a sua participação ficado célebre e descrita no catálogo da exposição por "[...] toda a sua produção revelar uma qualidade de execução de primeiríssima ordem" (Ledoux-Lebard pg. 583) distinção que o acompanhou até ao final da vida.
in artigo MCRA
Incorporação: Casa Real
Centro de Fabrico: França
Bibliografia
ANDRADE, Maria do Carmo Rebello de - Mobiliário da Época de Napoleão III nas colecções do Paço da Ajuda, in Mobiliário Português - Actas do I Colóquio de Artes Decorativas (ESAD/FRESS, 27 e 28 Setembro 2007). Lisboa: Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva, 2008 (pp. 127 a 139)
BACCHESCHI, Edy - Les Ébénistes du XIXe Siècle. Paris: Payot, 1987
Le Mobilier Français du XIXe Siècle 1795-1889. Dictionnaire des Ébenistes et des Menuisiers. Paris: Les Éditions de l'Amateur, 1989
LEDOUX-LEBARD, Denise - Le Mobilier français du XIX siècle, 1795-1889. Dictionnaire des Ébénistes et des Menuisiers. Paris: Les Éditions de l'Amateur, 1989