"Restituet omnia"
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Museu: Museu de Lamego
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Nº de Inventário: 934
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Super Categoria:
Arte
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Categoria: Gravura
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Autor:
Rochefort, Pedro (Massar de); (Gravador)
Vieira Lusitano (Francisco de Matos Vieira); (Desenhador)
Silva, José António da (Editor)
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Datação: 1739
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Suporte: Papel
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Técnica: Buril
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Dimensões (cm): Alt. 25 x Larg. 17
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Descrição: A frase latina "Restituet omnia", titulo da portada alegórica, foi utilizada como divisa da Academia Real de História Portuguesa (1720-1776), traduzindo o seu objetivo de escrever a história de Portugal e assim restituir ao mundo, o conjunto de ações gloriosas dos portugueses.
A estampa foi aberta pelo gravador Pedro Rochefort, a partir de desenho original de Vieira Lusitano.
Segue a descrição de Júlio Castilho, incluída no livro "Amores de Vieira Lusitano":
"Sôbre um plinto vê-se o Génio de Portugal, em trajo romano, coroado de Rei, com duas enormes asas nas costas, e segurando debaixo do braço esquerdo o escudo português ovado; com a mão direita anima, tocando-lhe com o ceptro, uma grande figura a dominante do quadro, e que toma de pé a linha central perpendicular da composição. Esta figura é a História. Traja túnica e peplo, coroa-se de rainha, enfia o ante-braço direito numa grinalda de hera, alegórica às tradições vetustas, e levanta nessa mão uma romã, símbolo do agrupamento dos indivíduos que formam a sociedade humana. Na mão esquerda sustenta uma lima, indicativa do indispensável apuro e castigo crítico das pesquisas históricas, e uma corrente com que a História está agrilhoando o Tempo, que aos pés lhe ajoelha em ar submisso. Ao fundo vê-se, entre arvoredo, o Templo da Memória, e duas figuras escrevendo: uma "Historia eclesiástica", e a outra "História secular". Ao lado direito, no primeiro plano, os nossos dois rios principais, o velho Tejo, com o dragão brigantino por distintivo, e o Douro, mais novo, mais vigoroso, com os seus pampanos e cachos, e oferecendo à grande figura oiro a plenas mãos, para realização dos seus cometimentos literários. No alto, um génio alado fazendo esvoaçar uma fita que diz: RESTITUET OMNIA" (CASTILHO, 1901: 218).
Júlio Castilho sugere que o modelo para a figura que personifica a História, tenha sido Dona Inês Helena de Lima e Melo, com quem Vieira Lusitano viveu uma muito conturbada, mas com um final feliz, história de amor contrariado. Castilho observa na lima que a figura empunha, uma clara reminiscência do apelido de Inês, e na romã, uma alusão iconográfica a Prosepina, separada de Plutão e só passados seis meses restituida. O mesmo autor refere ainda ver o nome de Inês, inscrito na placa pendente do pescoço desta figura, em carateres possivelmente hebraicos (CASTILHO, 1901: 219).
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Origem/Historial: A estampa «Restituet Omnia» é uma portada alegórica gravada a partir do desenho de Vieira Lusitano e aberta por três artistas: o próprio desenhador, François Harrewyn e Pedro Rochefort. Na coleção do museu existem as versões abertas pelos dois últimos (para a gravura aberta por Harrewyen, ver «Restituet omnia», inv. 925).
A gravura aparece com três subscrições diferentes, conforme os gravadores que a abriram, em diversas obras saídas dos prelos da tipografia da Academia Real de História Portuguesa, nomeadamente, na "História Genealógica da Casa Real", de António Caetano de Sousa, de que foram publicados 19 volumes de 1735 até 1748, sendo esta a principal obra onde aparece; nas "Memórias para a História do governo de D. João I", de José Soares da Silva (de 1730 até 1734); nas "Memórias para a História Eclesiástica do Arcebispado de Braga", de Jerónimo Contador de Argote (de 1732 até 1747); "Memória Histórica da Ordem Militar de S. João de Malta", de frei Lucas de Santa Catarina (1734); e ainda "Discurso Apologetico", de Silva Leal e a obra "De antiquitatibus conventvs Bracharaugustani" (SOARES, 1940: 215).
Ernesto Soares indica Pedro Rochefort como «o mais perito dos abridores de buril que aqui estiveram no reinado de D. João V», pela sua suavidade e delicadeza (SOARES, 1940: 530).
Na Biblioteca Nacional de Portugal conserva-se uma estampa com o mesmo assunto e aberta pelo mesmo gravador (PURL: 12412, disponível em http://purl.pt/12412).
Com a fundação da Academia Real de História Portuguesa, em 8 de dezembro de 1720, por D. João V, estabelece-se a primeira oficina de gravura conhecida, onde trabalharam importantes artistas nacionais e estrangeiros. Para além do pintor e ilustrador português, Vieira Lusitano, que recebia uma renda anual de 720$000 réis, a Academia contratou burilistas franceses e flamengos, entre os quais François Harrewyn e Pedro Rochefort, que estabelecido em Paris, na rua de St. Jacques au Palmier, veio para Portugal em 1728.
É possível que esta gravura tenha sido adquirida na década de 1930 pelo Grupo de Amigos do Museu Regional de Lamego, numa altura em que exemplares desta gravura eram relativamente comuns no mercado, embora, por vezes, atingindo preços exorbitantes (SOARES, 1940: 215).
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Incorporação: Grupo de Amigos do Museu Regional de Lamego (?).
Existem diversos recibos, datados de 1929-1940, relativos à compra de numerosas gravuras para o Museu de Lamego, pelo respetivo Grupo de Amigos. É possível que este exemplar faça parte desse conjunto.
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Centro de Fabrico: Lisboa
Bibliografia
- ARAÚJO, Maria Augusta, "Gravadores estrangeiros na corte de D. João V", III Congresso Internacional da APHA [em linha: https://pt.scribd.com/doc/235282619/Gravadores-Estrangeiros-Na-Corte-de-D-Joao-v-IMPRESSO]
- SOARES, Ernesto - «História da Gravura Artística em Portugal. Os Artistas e as suas Obras». Tomo I e II, Lisboa, 1940.
- CASTILHO, Júlio - «Amores de Vieira Lusitano: apontamentos bioraphicos», Lisboa, A.M. Pereira, 1901.