Dimensões (cm): Alt. 42,4 x Larg. 16,7 x Esp. 14,8
Descrição: Estatueta representando uma figura feminina vestida de longa túnica talar ("peplos") tufada e apanhada na cintura, e manto ("chiton"), com uma banda a tiracolo sobre o peito onde os seios avultam sob a túnica. O pé esquerdo pousa sobre uma proa, movimento auxiliado pela mão esquerda que apanharia a veste na anca, salientando-se o joelho respectivo. O tronco mostra uma ligeira torção para a esquerda, na procura de equilíbrio. Está mutilada nos braços e decapitada. Simbolicamente, a nave representa a segurança dos que andam sobre as águas do mar, sendo também para os povos marinheiros do Mediterrâneo símbolo do comércio e da boa fortuna. A figura feminina vestida de modo arcaico e pousando o pé sobre a proa de um navio é um sincretismo simbolizando na iconografia helenística as virtudes divinizadas da esperança e da fortuna. A estatueta é por isso um talismã de boa sorte que terá figurado em algum santuário ou oratório doméstico. Proveniente de uma oficina helenística. (Segundo ficha do Catálogo de Escultura Romana do MNA, da autoria de José Luis de Matos).
Esta "Fortuna" poderá também ser denominada de acordo com a designação grega do destino propiciável: "Tyche". A personalização feminina desta noção ou virtude deificada, surge pousando o seu pé esquerdo sobre uma nave; mais do que eventual alusão ao cariz intrinsecamente marítimo e fluvial da cidade romana de "Balsa", de onde provém, pode tratar-se antes da "Barca do Destino", conduzida ao sabor da vontade de Tiche/Fortuna - deidade cujos atributos mais frequentes incluem, aliás, o leme. (Segundo ficha de Catálogo da Exposição "Religiões da Lusitânia", da autoria de José Cardim Ribeiro).
Origem/Historial: *Forma de Protecção: classificação;
Nível de Classificação: interesse nacional;
Motivo: Necessidade de acautelamento de especiais medidas sobre o património cultural móvel de particular relevância para a Nação, designadamente os bens ou conjuntos de bens sobre os quais devam recair severas restrições de circulação no território nacional e internacional, nos termos da lei nº 107/2001, de 8 de Setembro e da respectiva legislação de desenvolvimento, devido ao facto da sua exemplaridade única, raridade, valor testemunhal de cultura ou civilização, relevância patrimonial e qualidade artística no contexto de uma época e estado de conservação que torne imprescindível a sua permanência em condições ambientais e de segurança específicas e adequadas;
Legislação aplicável: Lei nº 107/2001, de 8 de Setembro;
Acto Legislativo: Decreto; nº 19/2006; 18/07/2006*
Encontrada na Quinta das Antas em Tavira foi oferecida, em 1888, pelo Dr. Flores ao fundador do Museu Arqueológico do Algarve, Estácio da Veiga (cf. nota escrita por J.L.Vasconcelos, no verso de uma fotografia antiga, que consta do processo da peça), tendo dado entrada no MNA nos finais do século XIX (1894).
Incorporação: Peça pertencente à colecção de Estácio da Veiga, dando entrado no MNA em 1894.
Bibliografia
CATÁLOGO da exposição: Arte e o Mar. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1998
GONÇALVES, Luís Jorge Rodrigues - Escultura romana em Portugal: uma arte do quotidiano., 2 Vols., Tese de Doutoramento. Mérida: Junta da Extremadura, 2007
INVENTÁRIO do Museu Nacional de Arqueologia, Colecção de Escultura Romana. Lisboa: I.P.M., 1995
MATOS, José Luís de - "Subsídios para um Catálogo da Escultura Luso-Romana", dissertação de licenc. apresentada à F.L.L.. Lisboa: 1966
RIBEIRO, José Cardim (Coord) - Religiões da Lusitânia, Loquuntur saxa. Lisboa: IPM, 2002
SOUZA, Vasco de - " Vier Singulare Römische Skulpturen aus Portugal". Coimbra: Conimbriga, 1985
SOUZA, Vasco de - "Corpus Signorum Imperii Romani - Corpus der Skulpturen der Römischen Welt - Portugal". Coimbra: 1990
SOUZA, Vasco de - "Escultura Romana", in História da Arte Portuguesa, volume 1. Lisboa: Alfa, 1986
VASCONCELOS, José Leite de - Religiões da Lusitânia, vol.III. Lisboa: Imprensa Nacional, 1913