Técnica: Madeira torneada e envernizada, ferragens em metal; lentes ópticas
Dimensões (cm): Alt. 73 x Larg. 90 x Prof. 49
Descrição: Instrumento científco para visulização de imagens albuminadas. Caixa óptica, em madeira, constituida por dois corpos principais: o da frente, prismático, tem a abertura para a lente; o posterior, que tem uma porta lateral e uma superior, revestidas por dentro com espelhos que permitem regular e reflectir a entrada de luz, é aonde se introduzem as albuminas - armadas numa grade de madeira. A rectaguarda da peça termina com uma placa em vidro fosco.
A tampa existente no cimo do corpo da frente, localizada depois da lente, quando aberta desvenda uma ranhura, pela qual desliza uma fina placa de madeira. No lado direito deste sector intermédio existe um puxador de madeira com manivela metálica, que se desloca para a frente e para trás. A entrada das fotografias, para projecção, também se faz pelo lado direito, numa armação junto ao fundo do aparelho. São nove as vistas existentes, relativas às cidades de Veneza, Roma e Nápoles.
O megaletoscópio encaixa sobre uma base própria, com quatro pés baixos torneados em balaustre, com remate em forma de pião.
Origem/Historial: Carlo Ponti, nascido na Suiça (c. 1823), abriu o seu primeiro estúdio fotográfico em Veneza na década de 1850, após ter estudado Fotografia em Paris, durante vários anos. Foi um profissional distinguido por muitos dos seus trabalhos e que, em 1862, recebeu um prémio pela invenção do Megaletoscópio, do qual obteve a patente em 1859.
Era, de facto, um instrumento científico verdadeiramente original e único. Nele as fotografias eram visionadas através de grandes lentes, as quais criavam a ilusão óptica da profundidade e da perspectiva. As albuminas tinham que ser especificamente trabalhadas para serem vistas num megaletoscópio: para além de serem translúcidas, eram coloridas (pelo verso) e picotadas, para permitir criar efeitos visuais teatrais. As fotografias eram armadas numa grade de madeira (à semelhança das telas de pintura), de modo a possibilitar a sua introdução no interior do aparelho. Com a ajuda de espelhos, a luz ao ser dirigida para a frente da imagem, devolvia ao observador uma vista diurna; iluminando a parte de trás da albumina, obtinha-se uma vista não só nocturna, como também colorida e as perfurações da emulsão tornavam-se pequeninos pontos de luz, como se fossem focos de candeias: uma transformação verdadeiramente impressionante.
Em 1866, Ponti foi nomeado óptico da Casa Real Italiana, e trabalhava para o rei Victor Emanuel II.
Estas balizas temporais permitem-nos supor que o megaletoscópio de Carlo Ponti deverá a sua existência no PNA, graças às seguintes hipóteses: ter sido uma oferta do rei de Itália para a sua filha D. Maria Pia, a viver em Portugal; tratar-se de uma aquisição da rainha, quando da sua viagem a Itália, em 1865.
A ter sido um presente do próprio autor a D. Maria Pia, por ocasião do seu casamento em 1862, deveria ser uma peça com uma decoração mais rica, mais profusa, de que existem alguns exemplares, e não um tão simples quanto este.
A grande novidade e a modernidade desta engenhosa invenção, cujo desempenho quase raiava as “artes da magia”, constituíam motivo suficiente quer para atrair o interesse pela sua aquisição, quer para que revestisse o perfil de presente régio. Lembramos que a arte da fotografia, então ainda nos seus primórdios (e de avultados custos), estava ao alcance de poucos. À sua restrita popularidade, acresce o facto das recentes invenções, na maioria das vezes, serem detidas em primeiro lugar pelas Casas Reais vigentes.
Incorporação: Casa Real
Centro de Fabrico: Itália
Bibliografia
A Criança nas colecções dos Palácios Nacionais da Ajuda e de Queluz. Lisboa: Ministério das Finanças, S.E.F. - D.G. do Património, 1979
Les Mecanismes du Genie, Instruments Scientifiques des XVIIIe et XIXe Siècles, Collection du Cabinet de Physique et de l'Observatoire Astronomique de l'Université de Coimbra: Europalia, 1991
Exposições
A Criança nas colecções dos Palácios Nacionais da Ajuda e de Queluz