Portugal Islâmico. Os Últimos Sinais do Mediterrâneo

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Bocal de poço
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  • Nº de Inventário: 17088
  • Museu: Museu Nacional de Arqueologia
  • Super Categoria: Arqueologia
  • Categoria: Cerâmica
  • Autor: Autor não identificado
  • Técnica: Roda e molde. Decoração estampilhada e incisa.
  • Dimensões: Comp: , Alt: , Larg: ,
  • Incorporação: Oferecido por António Santos Brito, residente em Loulé
  • Descrição: Este bocal de poço, incompleto e fragmentado (no total dezanove fragmentos) provém de Loulé onde foi descoberto nos entulhos de um poço no recinto das antigas muralhas, defronte da chamada porta de N. Srª do Carmo, entretanto demolida, aquando dos trabalhos do desaterro para a construção do novo mercado da vila. Foi oferecido ao Museu em 1906 por António dos Santos Brito, residente em Loulé, conjuntamente com outros artefactos de cerâmica surgidos na mesma altura. Os fragmentos existentes permitem reconstituir parcialmente um bocal do poço de forma octogonal com uma aba saliente e engobado em ambas as faces. A sua decoração recorre à técnica de estampilhagem e incisão. Ostenta três motivos decorativos que alternadamente preenchem troços do octógono, separados por nervuras salientes colocadas na vertical. Entre motivos estampilhados destacam-se a flor de lis estilizada, inscrita numa cartela, e ainda uma espécie de aranhão também dentro de uma cartela. O motivo inciso é constituído por uma estrela estilizada. Na aba, num dos cantos do octógono conserva-se visível e, noutro já um tanto gasta, uma estampilha que parece desempenhar a função de carimbo. Tem forma rectangular, quase quadrada tendo no interior uma figuração de uma ave com asas, possivelmente uma águia. O facto de o bocal de poço se apresentar engobado em ambas as faces permite situar a sua produção já no período da ocupação cristã da vila. Os bocais de poço islâmicos eram habitualmente cobertos de vidrado embora para o mesmo período se conheça bocais de poço com acabamento de engobe provenientes da África do Norte. Recordemos que em Loulé se formou uma das mais importantes mourarias cuja população contribuiu para a preservação dos muitos saberes e técnicas islâmicas. Assim os motivos decorativos produzidos por estampilhagem constituem ainda a continuação das técnicas decorativas islâmicas enquanto a sua simbologia situa-se já noutro contexto cultural. Este é o caso da flor de lis que é por excelência um símbolo cristão ou podendo eventualmente ser interpretado como elemento heráldico. Um paralelo próximo desta representação da flor de lis patente na decoração do bocal de poço constitui a decoração que ostentam duas estélas funerárias de forma discoíde, surgidas na igreja de S. Clemente em Loulé, hoje no acervo do recentemente inaugurado (1995) Museu Municipal de Arqueologia de Loulé. Em território português conhece-se alguns exemplares dos bocais de poço mudéjares, todos caracterizados pelo acabamento de engobe, nomeadamente o conservado in loco, num espaço musealizado duma casa da mouraria em Moura e datado do séc. XIV como ainda um outro no Museu Municipal de Arqueologia de Silves e um outro em Lisboa, nas proximidades da Sé. Por sua vez, no Museu Municipal de Jerez de la Frontera (Espanha) conserva-se um curioso exemplar do bocal de poço do séc. XIV ornamentado com elementos heráldicos. Numa das faixas decoradas surge a representação repetida de uma ave, interpretada como uma águia e que se assemelha à estampilha utilizada no bocal de poço de Loulé. Este bocal de poço constitui uma expressão da arte mudéjar que continuando as formas, às vezes modificadas, e as técnicas islâmicas incorpora nela elementos do contexto cultural cristão. Estudo da peça: Eva - Maria von Kemnitz
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Candil em forma de ave
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  • Nº de Inventário: 35037
  • Museu: Museu Nacional de Arqueologia
  • Super Categoria: Arqueologia
  • Categoria: Instrumentos e utensílios
  • Técnica: Vazamento em molde
  • Dimensões: Comp: 18,3, Alt: 13,7, Larg: ,
  • Incorporação: Provém da antiga colecção do rei D. Luis I, vinda do Palácio da Ajuda.
  • Descrição: Na ficha de inventário realizada por C. Sans Pastor, esta peça aparece-nos mencionada como uma lucerna por apresentar uma piquera. No entanto, a falta de um orifício de alimentação, faz-nos questionar esta atribuição. Candil zoomórfico de metal. Apresenta a forma de uma ave em pé com cauda aberta. O bico de canal nasce na zona do peito. Na cauda e na crista ostenta orifícios circulares para suspensão. As patas de três dedos e "espora" são de enroscar. O candil ostenta uma decoração gravada. A cauda e as asas são ornamentadas com motivos incisos de penas. Na parte exterior do bico de canal e junto dos olhos, são visíveis arabescos. Artefacto produzido em liga de metal por vazamento em molde. Apresenta manchas de patine estabilizada, originada pela oxidação. Mostra contudo, dois pequenos orifícios (furos cónicos) situados no início das solas dos pés que também poderiam ser interpretadas como elemento para a sua fixação, embora não tenha sido documentado quaisquer exemplares de um suporte de vela com haste dupla, cujas dimensões correspondem às desta lucerna. Igualmente, a anilha de suspensão não pode ser utilizado para este fim, como o corredor ou recipiente alongado, e cauda dela lado oposto, há equilíbrio ajuda ou uma lâmpada que, uma vez compreendido, tende a inclinar-se para sempre a cauda quando mais pesada. Destaca-se, também, a existência de um pequeno orifício na base da cauda que faz comunicação com o espaço interior do corpo, dificultando o seu uso como lucerna. Por último, o conjunto de linhas incisas simples e dentadas, e os pontos que mostra ao longo da sua superfície, parecem ter sido feitas de forma intencional, dada a sua profundidade e disposição. A decoração incisa da piquera impede a simetria dos dois lados, sendo um dos melhores lados elaborados a um nível técnico embora incompletos (linhas desenho preparatório são apreciados), sendo o lado contrário mais negligenciado e descuidado com linhas de diferentes espessuras e profundidade. Existem outras lucernas iguais ao de Cerralbo no Museu Lázaro Gaditano de Madrid (nº inv. 4011) e no Museu Nacional de Arqueologia de Lisboa, Portugal (nº inv. 35037), com a excepção de que estes dois exemplares apresentam uma decoração mais detalhada nas penas laterais, uma cauda, igualmente, com decoração incisa imitando as suas plumas laterais e a decoração da piquera termina numa folha de louro, que no exemplar depositado no Museu Cerralbo só é visível numa parte. Estas diferenças na decoração correspondem a um trabalho final específico para cada objecto aquando extraído do molde. Esta lucerna representa uma pomba que para o mundo islâmico, não apresentam um valor iconoclasta ou religioso como na copta ou na arte bizantina, mas foram utilizadas para o seu valor estético em todos os tipos de objectos. Apesar das diferenças respeitante a outras lucernas metálicas islâmicas, este exemplar mostra-nos certas características formais, decorativas e técnicas que o vinculam a produções próximo-orientais dos séculos X a XIII; a representação de uma ave é também conhecida em queimadores de incenso de bronze e vasos da Anatólia, Irão, Afeganistão, Síria ou Egipto dos séculos XI – XII, mostrando também patas individualizadas com os dedos separados, decoração incisa as vezes danificada, ou com aberturas na parte da frente. No que diz respeito à sua procedência gaditana, a primeira referência escrita aparece no Boletim da Sociedade Espanhola de Excursões de 1902, aparecendo no subtítulo da foto “encontrado em escavações de São Fernando (Cádiz)”. Posteriormente, no Catálogo Monumental de Espanha (realizado por Enrique Romero de Torres, entre 1908 e 1909) menciona que o Marquês adquiriu a peça em 1875 e que foi encotrado na ilha de São Fernando. Com estes dados, pode-se afirmar que foi uma aquisição do Marquês, possivelmente a um antiquário ou comerciante gaditano, que deve relatar suas descobertas durante as escavações, ou remoção de terra, em São Fernando.
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Lápide funerária
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  • Nº de Inventário: E 6569
  • Museu: Museu Nacional de Arqueologia
  • Super Categoria: Arqueologia
  • Categoria: Epigrafia
  • Autor: Autor não identificado
  • Dimensões: Comp: , Alt: 15, Larg: 13,5,
  • Incorporação: -
  • Descrição: Lápide funerária de mármore. O fragmento conservado apresenta a forma de um quadrilátero irregular. Ostenta uma inscrição em árabe realizada em caracteres nashhi em relevo. O campo epigráfico corresponde às dimensões da peça inteira ou seja A: 15 cm e L: 13,5 cm. O texto reparte-se por três linhas existindo ainda a parte inferior de uma primeira linha de texto. A lápide é executada em mármore branco de Estremoz. A inscrição contém um epitáfio incompleto composto por três linhas de texto. "... him...; ...al-hayat al-dunya...; al-shayh al-wazir al-h...; ...rasti al-..." - "...Clemente...; ... a vida deste mundo...; o xeque, o vezir...; ...rasti al-..(fragmento do nome do xeque)".
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Lápide funerária
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  • Nº de Inventário: E 6877
  • Museu: Museu Nacional de Arqueologia
  • Super Categoria: Arqueologia
  • Categoria: Epigrafia
  • Dimensões: Comp: , Alt: 33,5, Larg: 51,5,
  • Incorporação: Adquirida pelo então conservador Manuel Heleno
  • Descrição: Lápide funerária de mármore branco. O fragmento conservado, de forma rectangular, constitui a parte superior de um epitáfio, sem menção do nome do defunto, nem da data da sua morte. Domina a lápide um arco ligeiramente apontado, em relevo, formando com a moldura exterior um alfiz, em que se insere o campo epigráfico. As lápides decoradas com o chamado "arco simbólico" são conhecidas na tradição peninsular, sobretudo o admirável conjunto de estelas de Almeria, do século VI da Hégira. Entre as lápides árabes de Portugal, destaca-se um fragmento de Mértola, uma estela de Évora ricamente decorada e três da zona de Lisboa. Esta lápide de Frielas, e uma outra da Rua das Madres (Lisboa), todavia, diferenciam-se do restante conjunto pela extrema simplicidade do arco, uma faixa lisa relevada, que encosta à moldura sem menção de qualquer coluna e capitel. A escrita, num pseudo-cúfico aparentemente arcaizante, ocupa quer o intradorso do arco, quer entre este e a moldura. A forma de certos caracteres, a utilização frequente de diacríticos, e a forte estlização do arco, levam a concliur que esta lápide será mais tardia do que habitualmente se lhe atribui, ou seja, do final do século VII H / XII d. C. ou até mesmo do século seguinte, já então em pleno domínio cristão. Aliás, o arco simbólico continuará a ser utilizado pela comunidade da região como é atestado por uma lápide de Lisboa do século XIV. Tradução: "Eterno é Deus. Tem compaixão conforme a sua mercê, ó tu que tudo dominas, e olha[com misericórdia] para o sítio para onde fui mandado. [...] Artur Goulart de Melo Borges e Abel Sidarus
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Ponta de correia
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  • Nº de Inventário: 998.1.1
  • Museu: Museu Nacional de Arqueologia
  • Super Categoria: Arqueologia
  • Categoria: Adereços (e objectos de adorno)
  • Técnica: Molde e cloisonné.
  • Dimensões: Comp: 6, Alt: , Larg: 1,8,
  • Incorporação: -
  • Descrição: Ponta de correia de metal. Apresenta uma forma tubular achatada ajustando-se à secção da correia. A face exterior está decorada com esmaltes azuis e brancos aplicados com a técnica de cloisonné em que finos arames soldados à base separam áreas de esmaltes de cores diferentes. Os motivos decorativos têm forma de atauriques. A face exterior numa das extremidades prolonga-se por uma terminação lobular cuja função é meramente ornamental. Na sua ponta situa-se um pequeno orifício para fixar a correia. Esta ponta de correia é feita em liga de metal cujo elemento principal é o cobre. Na face interior, sem decoração, são visíveis manchas de oxidação de cobre que formam patine estabilizada.
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Capitel califal
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  • Nº de Inventário: E 6566
  • Museu: Museu Nacional de Arqueologia
  • Super Categoria: Arqueologia
  • Categoria: Escultura
  • Dimensões: Comp: , Alt: 23, Larg: 22,
  • Incorporação: Desconhecido
  • Descrição: Capitel de mármore branco, de tipo compósito, da época califal, com rica decoração fitomórfica estilizada que cobre toda a superfície. As folhas de acanto apresentam uma complicada teia de caules, muito ressaltada pela profundidade dos espaços livres (trépano). Do ponto de vista tipológico, pertence aos chamados capitéis em «favo-de-abelha», nos quais as clássicas folhas de acanto e outros elementos ornamentais praticamente desapareceram, dando lugar a um complexo reticulado feito a trépano.
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Capitel califal
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  • Nº de Inventário: E 6584
  • Museu: Museu Nacional de Arqueologia
  • Super Categoria: Arqueologia
  • Categoria: Escultura
  • Dimensões: Comp: , Alt: 25, Larg: 27,5,
  • Incorporação: Adquirido num ferro velho em Lisboa em 31 de Outubro de 1916 por Leite Vasconcelos.
  • Descrição: Capitel em mármore branco, de tipo compósito, da época califal, com rica decoração fitomórfica estilizada sobre toda a superfície. As folhas de acanto apresentam uma complicada teia de caules, muito ressaltada pela profundidade dos espaços livres (trépano). Do ponto de vista tipológico, pertence aos chamados capitéis em «favo-de-abelha», nos quais as clássicas folhas de acanto e outros elementos ornamentais praticamente desapareceram, dando lugar a um complexo reticulado feito a trépano.
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Molde para amuleto com inscrição árabe
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  • Nº de Inventário: 17039 bis
  • Museu: Museu Nacional de Arqueologia
  • Super Categoria: Arqueologia
  • Categoria: Artefactos ideotécnicos
  • Dimensões: Comp: 5,4, Alt: , Larg: 3,4,
  • Incorporação: Oferecido ao museu por Pedro Mascarenhas Júdice
  • Descrição: Molde de ardósia. Apresenta forma de uma placa rectangular, polida em ambas as faces. A face interior ostenta uma inscrição em árabe, situada no interior de uma cercadura circular e composta por cinco linhas. Esta cercadura está encimada por dois pequenos círculos, contendo cada um deles um ponto. Da base da cercadura desenvolve-se uma cavidade que alarga junto da extremidade da placa. A face exterior apresenta-se polida, com dois orifícios nos cantos superiores e uma cercadura gravada incompleta. A inscrição consta de cinco linhas de escrita realizada de uma maneira muito rudimentar. Apresenta-se pouco legível e por isso não oferece uma leitura clara. Lê-se, no entanto, algumas palavras soltas, designadamente : "Allah" (Deus) e, noutra linha "khuld" (eternidade). Apesar de evocação de Deus aí patente, não nos parece tratar-se de um trecho alcorânico pela simplês razão que a palavra "khuld" aparece no texto sagrado sempre com o artigo definido "al". Sem se dispor de uma leitura completa, incluíndo o texto da outra parte do molde, é um pouco arriscado definir a sua utilização. Parece contudo verosímil a sua utilização como molde para fazer amuletos em função da existência de orifícios, provavelmente para suspensão, nos pequenos círculos que encimam a cartela circular que contém a inscrição.
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Placa funerária do Bispo Julianus
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  • Nº de Inventário: 2003.48.1
  • Museu: Museu Nacional de Arqueologia
  • Super Categoria: Arqueologia
  • Categoria: Epigrafia
  • Técnica: Escultura e gravura
  • Dimensões: Comp: , Alt: 37,5, Larg: 30,
  • Incorporação: Fazia parte do IPPAR de Évora
  • Descrição: Placa funerária, de mármore branco, forma rectangular com o epitáfio inscrito numa moldura formada por um encordoado simples. A epígrafe revela qualidade e erudição, tanto do ponto de vista epigráfico como textual. A "ordinatio" é bastante cuidada, sendo as letras e os sinais de abreviaturas tipícos do século X. O epitáfio do bispo algarvio encontra o seu modelo mais próximo precisamente numa epígrafe de Córdova que pertence ao Museu Arqueológico de Sevilha. Esta epígrafe foi revelada por Estácio da Veiga a E. Hubner, que a publicou em 1871. Voltou a ser transcrita por diversas vezes, mas andou perdida. Foi recentemente reencontrada, na mão de um particular, tendo-lhe sido dado merecido relevo por se tratar da mais preciosa relíquia da cristandade moçárabe jamais encontrada em Portugal. Trata-se de uma peça erudita que, pela sua tipologia e contexto, revela como o bispo cristão convivia num ambiente culturalmente superior. É de realçar a circunstância do enterramento pio de um líder cristão, em plena época de Almançor, ser publicitado através de um epitáfio que exorta os fiéis a orar pelo defunto. Finalmente, a alusão à ultrapassagem do ano mil - da Era de César - também não deixa de ter, aqui, um significado escatológico e cultural. A epígrafe está datada de 12 das kalendas de Abril, do ano 29º posterior ao início da Era Milésima (21de Março de 991, na Era Cristã). Deposi de aludir aos restos mortais do bispo Julião, apresenta a data do seu falecimento e adverte o leitor para que não deixe de rezar pelo defunto, pois alcançará também a protecção de Cristo Senhor. E a expressão "hic requiescunt membra", apesar de invulgar, encontra-se nos meios eruditos de Sevilha e Córdova. É particularmente relevante, aliás, o paralelismo com o epitáfio de Salvado (982 d.C.), aparecido em Córdova e que, hoje, se encontra depositado no Museu Arqueológico de Sevilha. A epígrafe apareceu na Quinta do Muro, em Cacela Velha, segundo particulariza Estácio da Veiga em 1887, nas suas "Antiguidades Monumentias do Algarve" (vol. 2, p.397). A proveniência de Cacela já fora referida por J.C. Ayres de Campos dez anos antes, não obstante E. Hubner ter mencionado a epígrafe como originária de Fonte Salgada (Tavira). Este erro veio lançar confusão, durante largos anos, sobre o verdadeiro local de achado, o que foi de novo esclarecido por Cristina Garcia. A confirmação da proveniência de Cacela tem significado especial, no contexto da época. Embora Faro continuasse a ser sede de bispado, talvez por ser uma cidade ainda bastante povoada de cristãos foi entrando em decadência a favor de Silves. Chegou mesmo a ser referida como "caria", ao invés do que se passava em Cacela, que então se tornaria na segunda cidade mais importante do Algarve. Além disso vivia um momento brilhante no domínio da poesia e do direito, com íntima ligação à corte Califal. Esta aproximação do bispo "Iulianus" a Cacela, onde dispunha de uma mansão - talvez de uso temporário - é compreensível no plano cultural, o que é confirmado, pela ligação estilística desta lápide à arte epigráfica praticada em Córdova. (Segundo Manuel Luis Real, 2000 e 2015)

Apresentação

A exposição "Portugal Islâmico" esteve patente no Museu de Arqueologia de Lisboa de 16 de Julho de 1998 a 30 de Setembro de 1999. Continha objectos oriundos de vários museus portugueses, e foi a primeira grande amostra do passado islâmico português. A HERANÇA Depois de cinco séculos de presença muçulmana em Portugal, seria impensável supor que, além da nomenclatura de regiões, cidades e aldeias(Algarve, Ourém, Alcabideche) o Islão não deixou marcas na sociedade portuguesa. A primeira área de influência islamo-árabe é sem dúvida a língua portuguesa. Desde unidades de peso e medida, como arroba ou alqueire, até interjeições como Arre!, a presença do árabe no nosso idioma é inegável. Também não é possível ignorar o impacto da arte islâmica na arte e arquitectura portuguesas, sobretudo em artes decorativas como o azulejo ou a louça. O azulejo, aliás, é o legado islâmico em Portugal por excelência, sendo rapidamente adoptado pela família real e pela Igreja. Na arquitectura, em vez de uma influência directa na forma das construções, retém-se sobretudo a adopção das técnicas de construção, de funções e de volumes na elevação de edifícios, como se pode observar no castelo de Alandroal. Além disto, convém também salientar a importância muçulmana em técnicas de pesca,, agricultura e comércio. No entanto, à medida que a sociedade mediterrânica se desagrega em favor de um estilo de vida mais uniformizado, estas técnicas de sobrevivência vão desaparecendo. SUPERSTIÇÃO E CRENÇAS A cultura popular do Gharb estava povoada de crenças, temores e superstições. A magia e os amuletos tinham assim um vasto campo de intervenção para garantir a protecção das pessoas, animais e bens. A entrada da casa era o local prioritário para a colocação de símbolos de protecção para afugentar espíritos maléficos. Ferraduras e Mãos-de-Fátima eram os mais populares. Também os alimentos eram protegidos, a começar pelas talhas, onde se conservava a água, e nas quais deviam estar escritas fórmulas apropriadas, como baraka (benção) ou al-yumn (felicidade). Para afastar espíritos e animais indesejados eram utilizadas fumigações. A unha-de-cabra afastava víboras e serpentes, o açafrão ou a cânfora afugentava escorpiões. A CERÂMICA E O "CICLO DA COMIDA" A cerâmica, e no caso do Gharb, o vasilhame de cozinha, constitui o vestígio mais abundante da civilização islâmica. Até metade do Século IX a cerâmica seguiu modelos e tradições autóctones, sem qualquer elemento decorativo ou morfológico que possa ser atribuído a oficinas orientais. Só em finais desse século, e devido à fixação em Córdova, junto da corte, de artistas e artesãos trazidos do Levante, surgiu no Ocidente uma nova produção cerâmica. Em algumas dezenas de anos, essa cerâmica conhecida por "verde e manganés" e inicialmente fabricada na cidade palatina de Madinat al-Zahra, passou a ser produzida em muitos outros centros oleiros do Ândalus. A sua decoração vidrada em "corda-seca" vai marcar o início de um longo e importante percurso técnico e estético na cerâmica ibérica, até ao seu apogeu na azulejaria do século XVI.

Ficha Técnica

Datas: 8 de Abril de 2011 a 9 de Maio de 2011 Local no MNA: Auditório Organização institucional: Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa UNIARQ e Museu Nacional de Arqueologia Comissariado científico: Victor S. Gonçalves; João Luís Cardoso e Ana Isabel Santos Tipo de exposição: Temática