A República, implantada a 5 de Outubro de 1910, colocou um fim à monarquia e transformou a dinâmica social da vida portuguesa. Muitos formalismos e constrangimentos sociais desapareceram e as artes, assim como a moda, foram palco de várias mudanças.
Num clima de liberdade de opinião, cresceu o número de jornais e revistas e o acesso ao ensino generalizou-se numa tentativa de integrar as populações num mesmo quadro político e social. As tendências da moda continuaram a chegar de França através das elites burguesas que compravam e se inspiravam nas propostas das casas de Alta Costura parisienses. Porém, eram as modistas e as costureiras, mais próximas e acessíveis, que concretizavam os sonhos da maior parte das mulheres portuguesas. Em simultâneo, os grandes armazéns implementavam novos hábitos de consumo e democratizavam a moda.
Com o surgir da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) as condições sociais e políticas da Europa alteraram-se e muitas mulheres conquistaram novas ocupações e adquiriram uma maior autonomia. Em Portugal, desde 1911, que as primeiras funcionárias públicas do Estado Português faziam sensação num espaço até aí ocupado só pelos homens, mas continuavam sem poder votar.
As práticas desportivas e as actividades ao ar livre promoviam um novo estilo de vida e as senhoras adoptaram trajes de corte masculino, como o tailleur. De origem inglesa, o tailleur formado por saia e casaco adaptava-se bem aos passeios e era especialmente apreciado pelas jovens que cada vez mais integravam o mercado laboral. A blusa que acompanhava o tailleur transformou-se numa importante e delicada peça decorada com pregas e entremeios de renda ou bordados.
Na década de 10, nas cidades, as mulheres portuguesas aderiram rapidamente a uma nova silhueta de forma longilínea proposta por Paul Poiret, que ditava a moda em Paris. Inspirado no traje do período napoleónico, este costureiro propôs o uso de vestidos de linhas direitas e cintura alta o que possibilitava à mulher libertar-se do espartilho e dos volumes artificiais. Este novo padrão de beleza foi a mais relevante mudança introduzida no guarda-roupa feminino deste período.
Em Paris, os Ballets Russes de Diaghilev também inspiravam a moda, trazendo influências orientalizantes para o vestuário feminino, através de novas formas, de cores vivas e de tecidos luxuosos. Seguindo essa inspiração, as toilettes femininas passaram a ser complementadas com o uso de turbantes, embora as capelines continuassem a ser o formato preferido. Em Portugal o seu impacto fez-se sentir quando os Ballets Russes passaram pelo Coliseu dos Recreios e pelo Teatro de S. Carlos, entre 1917 e 1918.
A partir de 1912 e 1913 surgiram os primeiros registos de “modernidade” no traje masculino português, através dos estudantes das Academias e das Escolas de Belas-Artes que, tendo passado por Paris, trouxeram novas dinâmicas e diferentes atitudes à sociedade lisboeta. O movimento Futurista associado ao traje apresentava propostas arrojadas e em consonância com o que se antecipava do futuro. Em Portugal, o artista Almada Negreiros seguia a tendência do “Manifesto Futurista do vestuário para homens”, de 1914, definido por Balla, que apresentava trajes dinâmicos, amplos e coloridos, compostos por uma única peça, como os fatos dos aviadores.
Com o advento dos automóveis e o crescimento das redes ferroviárias surgiram os guarda-pós. Eram casacos compridos e amplos, confeccionados em tecidos ligeiros, em tons de creme ou branco, que protegiam os homens e as mulheres das poeiras das viagens em estradas sem asfalto.
Dina Caetano Dimas
Dina Caetano Dimas
BOUCHER, François - Histoire du Costume en Occident de l’Antiquité a nos jours. Paris : Flammarion, 1965.
PORTUGAL. Museu Nacional do Traje; PINTO, Clara Vaz (coord.). Museu Nacional do Traje & Parque Botânico do Monteiro-Mor. Vila do Conde : QuidNovi, 2011.
Cândida Caldeira
Dina Caetano Dimas