Técnica: Talha e ensamblagem de elementos com camada cromática (pontual)
Dimensões (cm): Alt. xxx
Descrição: Peça em arco de volta inteira, caracterizado pelos elementos escultóricos que revestem as faces dos pés direitos e da volta com flores e anjos de corpo inteiro. Sobre o arco estão as Armas de Portugal com coroa real, sustentada por dois anjos. Destaque para o motivo do "cesto de flores" sobre a cabeça de um anjo em semi-corpo envolto em folhagem de acanto lembrando plumagem.
O Arco – cruzeiro da Igreja de Jesus
Arco Cruzeiro, c.1702, data inscrita no cunhal do arco, no lado da epístola.
A segunda fase estilística da nave da Igreja corresponde a inícios de setecentos, o Barroco Pedrino ou Nacional (1675-1707). Datado de 1702, o Arco Cruzeiro (data inscrita a vermelho com aplicação de glacis ) insere-se neste período, correspondendo ao priorado de Isabel da Visitação (1699-1702). Este vão pleno tem recamo de painéis de acanto empolado e elementos figurativos singulares: a figura angélica que segura na cabeça um cesto com flores e cujo corpo se transforma em folhagem que ele abraça “ simulando um baloiçar” entre hastes de folhagem de acanto; segue-se-lhe a ave policromada simbolizando a ressurreição, e a joia de vida. No topo, elemento de fecho do arco, estão as armas de D. Pedro II, rei de Portugal, que tomou a si várias despesas, tais como as despesas do túmulo (orçadas em 12 mil cruzados), havendo acordado os atos pontifícios inerentes ao processo de beatificação da Princesa Santa Joana, ocorridos em 1693.
Origem/Historial: De acordo com Domingos Maurício na sua obra " O Mosteiro de Jesus de Aveiro" de 1967, o Arco Cruzeiro corresponde ao priorado de Soror Isabel da Visitação (1699 - 1702) ou de Soror Ângela do Sacramento (1702 - 1704).
Ainda acerca da orientação deste templo é nos descrito por Domingos Maurício que este “ocupa o bloco retilíneo da ala sul do claustro principal” subsistindo dessa ala “duas empenas do século XV que a demarcam: a do arco cruzeiro (…) e a do topo dos coros, que pode ter avançado com a ampliação que o de cima dá aspeto de ter sofrido” (Domingos Maurício, 1967).
Ainda singular é o registo feito em plantas aproximadas do edificio original, e que Domingos Maurício também reproduz e descreve referindo-se ao “eixo da Igreja primitiva que sofreria, nesta hipótese, uma deslocação de 90º “, que resultaria na reorientação do altar-mor para nascente “mantendo a porta de entrada na lateral”, como é tido para os conventos femininos.
Com a prioresa Maria de Ataíde, em 1482, ampliaram-se as construções para poente, e as de nascente ao longo da Corredoura; mas é com a prioresa Isabel de Castro, em 1525, que se faz a ampliação da Capela-mor da Igreja de Jesus e ainda o “Coro” que faz de novo (Domingos Mauricio, 1967, p. 10). Deverá ser neste priorado que se faz novo alinhamento da empena poente do claustro e se edifica a Capela de São simão, protetor da comunidade religiosa.
Em 1592, era Prioresa D. Ana da Conceição Vilhena, decorridos 12 anos após a morte da Princesa D. Joana, é reedificada a Capela-mor de Jesus pelos seus donatários, os Tavares, “Senhores de Mira”, que lhe outorgaram um padrão de juro para missas diárias no valor de 25.000 reis (testemunho materializado em lápide gravada de pedra colocada no lado do evangelho, a meio, na Capela -mor), dando assim remate às obras iniciadas em seiscentos por Isabel de Castro.
O revestimento interno da Igreja de Jesus processou-se em vários períodos.
O mais antigo ou do proto barroco, coincide com o forro do teto da nave da Igreja, em abobáda de meio berço, sendo prioresa D. Filipa de Meneses ou Filipa do Espírito Santo, que contratam ao Mestre entalhador da cidade do porto, Domingos lopes, a obra de talha, por 470mil reis: a composição formal seria ortogonal subdividindo a área em quadrículas preenchidas com tábuas pintadas e hagiográficas, representando a vida de São Domingos e e outros Santos da Ordem. Do proto barroco é a cimalha que percorre a parte alta das paredes da nave integrando as seis vidraças pequenas, com seis vidros cada,intercaladas com pinturas sobre tela.
Incorporação: Transferência /Disposição Legal
Bibliografia
ALVES, Natália Marinho Ferreira - A Arte da Talha no Porto na Época Barroca. Porto: Câmara Municipal do Porto, 1989
BRANDÃO, Domingos de Pinho - Obra de Talha Dourad, Ensamblagem e Pintura. Porto: Diocese do Porto, 1984, Vol.II,
GONÇALVES, António Nogueira - Inventário artístico de Portugal- zona sul. Lisboa, 1959.
SANTOS, Domingos Maurício Gomes dos (s.j.), 1963-7, O Mosteiro de Jesus de Aveiro, Lisboa: Companhia de Diamantes de Angola, Museu do Dundo.