Descrição: Baixo-relevo, em pedra calcária branca, de forma rectangular, de retábulo de altar, representando José de Arimateia.
Em primeiro plano, ao centro, sobressai em baixo-relevo a figura de vulto de José de Arimateia, com um turbante na cabeça, com barbas compridas até meio do peito, vestindo panejamentos, de mangas largas, constituídos por duas saias, a inferior até aos pés, calçados, e a superior até meio das pernas, sendo decorada com uma barra com motivos vegetalistas esculpidos, seguras na cintura com um cinto em forma de corda; a meio da cintura do lado direito do seu corpo prende uma bolsa, com dois galões nos cantos inferiores. A sua mão esquerda, agora mutilada, deveria segurar um objecto e a sua mão direita está presa ao quarto degrau de uma escada, "Instrumento da Paixão de Cristo", (Ver Iconografia). A figura assenta numa base de pedra ovalada, que sobressai também em baixo relevo no fundo do retábulo.
Em segundo plano, como pano de fundo, a representação tem um fundo arquitectónico, que apresenta restos de policromia. A estrutura arquitectónica, tem ao centro a forma de nicho, formado por um arco assente em duas colunas, direitas, com o interior da parte superior decorado com motivos geométricos ("gomos"), ladeado por dois outros arcos de passagem, incompletos, na parte inferior, e por decoração de motivos vegetalistas, na parte superior, junto ao arco do nicho.
(Este baixo-relevo encaixa numa estrutura arquitectónica, constituída por duas colunas de estilo "coríntio", uma de cada lado, e por uma predela, com a representação, ao meio, dos bustos de dois Santos Evangelistas - S. Lucas e S. Marcos, respectivamente com um leão e um boi ladeando cada um deles, em baixo relevo, sobressaindo num fundo arquitectónico de nichos, e com a representação de dois anjos, um de cada lado da base onde assentam as colunas, que apresentam restos de policromia a azul.
É de notar que esta estrutura arquitectónica, não deverá ser de origem do Baixo-relevo descrito: a predela, com os Evangelistas, não lhe pertence e as colunas não deverão pertencer-lhe de origem.
Origem/Historial: Proveniente do tecto da "Capela dos Lançarotes" (Capela de Santa Cruz), do morgado de Vilarinho, da família Couceiro da Costa, vendida no séc. XVIII, à Confraria do Santíssimo Sacramento, instalando-se então nela a Capela do Santíssimo Sacramento da Igreja de Vera Cruz, de Aveiro (demolida no final do séc. XIX), segundo Rangel de QUADROS.
Originariamente uma capela desta família de Aveiro, remonta ao séc. XVI, fundada por António Gonçalves, falecido antes de 12-02-1578 e sua mulher Isabel Dias, falecida a 27-02-1578, cuja fortuna se deve a actividade de construção naval. Este casal teve uma filha, Filipa Antónia, que viria a casar com Fernão Lançarote, dai a capela ser conhecida por Capela dos Lançarotes.
Incorporação: Recolha e entrada da "escultura em pedra" (esculturas de vulto, baixos - relevos e elementos arquitectónicos), da Igreja de Vera Cruz, de Aveiro, para o Museu de Aveiro em 11 de Abril de 1911.
Centro de Fabrico: Região Centro
Bibliografia
CÁLÃO, Hugo - "Caminhar com Paulo pela Diocese de Aveiro", in, Revista Igreja Aveirense. Aveiro: Diocese de Aveiro, 2009
COSTA, Madalena Cardoso da - "A colecção de escultura em pedra do Museu de Aveiro - As Pedras de Vera Cruz", in MUSEU, IVª Séri, nº 15, pp. 115-156. Porto: Círculo José de Figueiredo, 2005