Descrição: O pano representa a transposição do exército de Alexandre o Grande do rio Granico (na atual Turquia) e o início da batalha contra as forças de Dario III, o rei dos reis do império Aqueménida.
Alexandre à frente das tropas, precipita-se sobre o exército de Dario, enquanto os generais persas o atacam; a seu lado, Clitus levanta o machado sobre Spthridates, no momento em que este vai descarregar um golpe de espada sobre a cabeça de Alexandre.
A composição capta o momento em que os dois exércitos se confrontam, combatendo a cavalo, enquanto no plano inferior, decorre a árdua transposição do rio Granico, com soldados que lutam contra a forte corrente.
A cercadura é preenchida por grinaldas de flores, medalhões com panóplias e putti, mimetizando uma moldura de talha dourada.
Origem/Historial: Transferência do Tribunal da Relação de Lisboa em 1915.
Integra um conjunto de 6 panos alusivos à História de Alexandre (3 de grandes dimensões e 3 sobre-portas): A Batalha de Granico (62 Tap), A Família de Dario aos pés de Alexandre (63 Tap), Alexandre oferecendo a coroa a Roxana (64 tap) e 3 sobre-portas com paisagens (59, 60 e 61 tap).
Originalmente este conjunto era formado por 43 panos: 12 que ilustravam cenas da História de Alexandre, e 18 sobre-portas com paisagens. O conjunto esteve disposto no edifício do Erário Régio, que posteriormente foi convertido em Tribunal da Relação de Lisboa (1751).
“Em 1870, procedendo-se a obras no Tribunal da Relação, sob a direção do arquiteto Parente, foram removidas para um depósito as obras públicas – 9 dos panos grandes, foram então vendidos ao “bric-a-brac” Passos, com armazém no Passeio Publico por 200$00. As sobre-portas não se sabe o destino que tiveram. (…) O estofador Oliveira, que nessa data tinha o estabelecimento junto ao teatro do Gymnasio, foi o encarregado pelo arquiteto Parente de colocar os panos, nas salas do tribunal, e para os ajeitar no seu lugar, não exitou em os cortar e dobrar.” [ver Bibliografia, Mendonça, 1940].
No Tribunal apenas permaneceram nas paredes os panos que foram incorporados no MNAA. Entre 2 de janeiro e 22 de fevereiro de 1906, o conjunto foi alvo de intervenção coordenada pelo Dr. João Taborda de Magalhães, sob patrocínio do príncipe regente D. Luís Filipe [ver Bibliografia].
A série original de tapeçarias da História de Alexandre, em que se baseia a série do MNAA, era composta por 5 panos e foram tecidas a partir das pinturas que Charles Le Brun (1619-1690) executou para Luís XIV. As pinturas foram transpostas para cartões e foram tecidas pela Manufacture Royale des Gobelins entre os anos de 1680 e 1687.
A série era composta pela Tenda de Dario (a primeira das pinturas a ser encomendada por Luís XIV em 1661), seguida da Batalha de Granico (ou passagem do Granico), A Batalha de Arbela, A Entrada triunfal na Babilónia e a Derrota de Porus, pintadas por Le Brun entre 1661 e 1668. A série de tremendas dimensões, visava glorificar Alexandre e o rei francês, associando-os pelas virtudes que ambos partilhavam.
Na Manufacture foram realizados duas séries de cartões um para baixo liço e outro para alto liço; durante este processo a série foi ampliada de 5 panos para doze, com o acrescento de pequenas cenas que ladeavam os panos maiores.
Entre 1664 e 1668 foram produzidas 4 séries de alto liço, e outras 4 de baixo liço, todas para a casa real francesa que as foi oferecendo como prendas diplomáticas.
Posteriormente, numerosas séries foram tecidas em Aubusson, Oudenaarde e Bruxelas.
Esta série do MNAA é muito semelhante à série da História de Alexandre que se encontra no Ightham Mote, Kent/National Trust. Apesar das tapeçarias do MNAA não possuírem atualmente marca de tapeceiro, existe o registo escrito de que continham a marca de Aubusson na cercadura inferior; estas cercaduras foram retiradas durante o restauro no início do século XX por se encontrarem muito degradadas.
O MNAA possui dois conjuntos de tapeçarias baseadas nas pinturas de Le Brun: uma produzida em Bruxelas (35 a 37 Tap) e outra produzida em França (59 a 64 Tap). Os cartões enviados para Aubusson da História de Alexandre foram uma versão simplificada dos desenho de Le Brun sendo notória a variação entre a qualidade das tapeçarias inicialmente produzidas em Gobelins e as posteriores tecidas em Aubusson: o número de figuras diminuiu substancialmente e o detalhe das personagens e plano de fundo são associados às séries produzidas neste centro tapeceiro.
Histórico de conservação:
Foi realizada uma intervenção de higienização e acondicionamento a 21.10.2024.
Incorporação: Transferência do Tribunal da Relação de Lisboa, 1915.
Centro de Fabrico: França, Manufacture Royale d'Aubusson
Bibliografia
Taborda, João (1906). Os Pannos de Ráz do Tribunal da Relação, in Diário Ilustrado de 7 de março.
Taborda, João (1905). Os pannos da Arraz da Relação, in Diário Ilustrado de 22 de novembro.
MENDONÇA, Maria José de - Inventário de Tapeçarias Existentes em Museus e Palácios Nacionais. Lisboa: I.P.P.C., 1983
Mendonça, Maria José de - Inventário da colecção de tapeçarias do Museu das Janelas Verdes [texto dactilografado]. Lisboa : [s. n.], 1940.
Silva Bastos (1906) “Panos de Arras da Relação de Lisboa” in Ilustração Portuguesa, vol. II, 17 de Setembro, p. 213-217.
Powell, Catherine (2016). Charles Le Brun and the Replicas of The Triumphs of Alexander: extending a reputation through weaving and print. Cooper-Hewitt, National Design Museum and Parsons The New School for Design.